Em assembleia realizada no último dia 31, os trabalhadores da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás) decidiram acatar a nova proposta apresentada pela empresa ao Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo e Gás de Pernambuco e Paraíba (Sindipetro PE/PB). Após seis meses de negociações, com ameaça de retrocesso por parte dos patrões, os funcionários declararam estado de greve no dia 16 de janeiro e suas demandas foram acatadas duas semanas depois.
No acordo aprovado, os trabalhadores tiveram um aumento de 7,74% no valor dos vales refeição e vale alimentação (VR e VA), o que representa R$3,32% de ganho real (acima da inflação). Outro ponto de avanço foi a ampliação em um ano (dos 16 para 17 anos) na idade limite para pagamento do auxílio-escola por parte da empresa. “Não é 100% o que queríamos, mas tivemos avanços”, explica Thiago Gomes, trabalhador da Copergás e diretor do Sindipetro, em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco.
Os benefícios serão pagos retroativamente, contemplando desde o dia 1º de outubro, mês da data-base do acordo coletivo de trabalho na empresa.
Outro tema central na negociação foi o “calendário institucional”. Na Copergás, feriados e imprensados precisam ser compensados pelos trabalhadores. E como 2025 é um ano com muitos feriados e imprensados em dias de semana, a empresa definiu que os trabalhadores tivessem o horário de almoço reduzido em 30 minutos durante oito meses. Os operários reivindicam participação nas definições deste calendário, atualmente definido exclusivamente pela administração da empresa. No acordo, não conseguiram garantir a participação, mas que a redução no tempo de almoço durasse apenas 4 meses.
O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou Thiago Gomes, diretor do Sindipetro e representante dos trabalhadores da Copergás. “Conseguimos evitar alguns retrocessos. A empresa queria retirar o VR referente às nossas horas-extras, mas conseguimos manter. Também conseguimos impedir a redução no tempo do ‘complemento de afastamento’”, diz Gomes.
Ele explica. “No caso de afastamento por doença, quando ficamos no INSS, temos um acordo para que a empresa se comprometa a pagar a outra metade do salário, para que não tenhamos perda de renda. O compromisso é que paguem até 12 meses de afastamento – eles queriam reduzir para 6 meses”, conta.
Conversas travadas
O Sindipetro iniciou as conversas com a “base” ainda em julho de 2024. Foram quatro encontros, ouvindo reivindicações dos trabalhadores. Depois foi realizado um congresso do sindicato, onde as sugestões foram debatidas e ficou definido o caderno de pautas. O documento foi enviado à Copergás em outubro. A empresa mostrou sua proposta, que foi levada à assembleia dos trabalhadores e rejeitada.
Assembleias dos trabalhadores da Copergás são realizadas num pátio externo, em frente à empresa / Comunicação Sindipetro
Os trabalhadores da Copergás, já nas primeiras reuniões, deixaram claro para a empresa que aceitariam o reajuste salarial proposto sem ganho real, apenas a recomposição da inflação, desde que tivessem outras demandas atendidas. Mas mesmo assim as negociações se arrastaram por seis meses. Por quê?
O dirigente sindical avalia que os investidores privados travaram o diálogo. “Parte da diretoria estava indiferente. Os sócios privados estavam resistentes”, conta Thiago Gomes. A empresa pouco cedeu e as propostas foram novamente rejeitadas pela categoria.
A empresa é de economia mista, tendo como sócios o Governo de Pernambuco (detentor de 51%), a empresa paraibana Energisa (24,5%) e a transnacional japonesa Mitsui Gás e Energia (24,5%). Acionista majoritário, o Governo tem o controle da empresa. Gomes sentiu que os sócios privados “estavam pressionando a empresa por um acordo que fosse rebaixado para os trabalhadores”, conta o trabalhador.
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Mesmo a ampliação em um único ano de idade no auxílio escola era negado. “Só quatro trabalhadores teriam esse benefício. Então não foi uma questão econômica, mas uma imposição política, de comando”, se queixa o trabalhador. “Eles não queriam ceder em nada. É como se estivessem dizendo ‘te coloca no teu lugar, aceite isso e pronto’”, diz Gomes. Em meio ao impasse, a empresa cortou, no dia 10 de janeiro, parte dos benefícios dos trabalhadores, descumprindo um acordo coletivo estabelecido previamente.
Em nota pública, o Sindipetro disse que “a empresa enviou um informe aos trabalhadores tentando responsabilizar o sindicato pela falta de Acordo Coletivo até agora. (…) Reafirmamos o nosso compromisso com a boa fé negocial, mas não vamos nos afastar da defesa dos interesses dos trabalhadores”, diz o texto. Thiago Gomes diz que a atitude “inflamou a categoria”. “O clima que já estava ruim e ficou pior. Muita insatisfação entre os trabalhadores”, recorda. “Mas nós respondemos”.
Em assembleia, os trabalhadores declararam “estado de greve”. Duas semanas depois, a empresa estava com uma proposta que contemplava parte das demandas da categoria.
Um elemento a se considerar foi a troca, em meio às negociações, do presidente da empresa. Em janeiro, a governadora Raquel Lyra (PSDB) retirou do cargo Felipe Valença, substituindo-o pelo advogado Bruno Monteiro Costa, nome que ocupava cargo de confiança na Secretaria de Projetos Estratégicos. “Com a mudança na gestão, sentimos uma disposição maior do Governo do Estado para resolver a questão”, conta Thiago.
Bruno Monteiro Costa foi escolhido pela governadora Raquel Lyra, em 2025, para presidir a Copergás / Governo de Pernambuco
A empresa fornece gás, no momento, para 95 mil residências (sendo mais de mil condomínios residenciais). Também são atendidos mais de 1.200 centros comerciais (shoppings centers, hoteis, restaurantes), 154 indústrias e 133 postos de combustíveis. No último relatório divulgado pela empresa, com dados do fim de 2023, a Copergás apresentou um lucro líquido de R$96 milhões e movimentou R$1,2 bilhão no ano mencionado. Tudo isso com um time de apenas 170 trabalhadores.
A Copergás
Criada em 1992, a Copergás entrou em operações em 1994 e herdou gasodutos da Petrobras, com a missão de distribuir gás natural com sustentabilidade em todo o estado de Pernambuco. A empresa está presente em 29 municípios, partindo da região metropolitana, passando por Garanhuns (no Agreste) e chegando até a Petrolina (no Sertão do estado). A empresa tem como meta para o período que vai até 2028 investir R$595,9 milhões na ampliação da rede de distribuição.