Em apenas 17 dias de mandato, Donald Trump já lançou ameaças a todos os quatro cantos do planeta em sua volta à Casa Branca.
A guerra comercial travada com a China, as declarações do republicano sobre a Faixa de Gaza e a deportação de imigrantes latinoamericanos são algumas das decisões anunciadas pelo republicano discutidas no 12º episódio d'O Estrangeiro.
Para Marco Fernandes, analista geopolítico do Brasil de Fato, "a administração da Casa Branca ter que desmentir o tempo todo as declarações de Trump é um mau sinal para os Estados Unidos". Para ele, as falas absurdas do republicano "são parte de um método errático, e que não está se mostrando muito eficiente".
Sobre a guerra tarifária do presidente contra a Dinamarca, União Europeia, Canadá e México, o analista disse que "ele ignora o ponto de vista das decisões [políticas], e está se dividindo em relação aos seus aliados".
"Não podemos esperar muito da eficiência do império dos EUA [com o discurso de Trump]. Agora, para o Sul Global é uma boa notícia, porque cria divisões internas e externas [nos EUA], e isso é uma oportunidade de nos fortalecermos diante do império".
Mauro Ramos, correspondente do Brasil de Fato na China trouxe os pareceres do país asiático sobre as afirmações de Trump. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse que Gaza "é uma parte inalienável do território da Palestina, e a China se opõe ao deslocamento forçado do povo gazense".
Para a China, "Gaza não é uma moeda de troca para transações políticas". O país também clama à comunidade internacional para "prestar assistência humanitária e reconstruir Gaza", acrescentou o correspondente.
"Seria um golaço para a China uma participação na reconstrução de Gaza, e poderia marcar, inclusive, uma nova fase dos Brics", avaliou o analista geopolítico. Segundo Fernandes, o Brics poderia se estabelecer "como uma plataforma de países que atuam em casos humanitários e de pós-guerra. Do ponto de vista material isto já está dado. Resta saber se é possível amarrar isso politicamente".
Uma possível queda de braço entre os países dos Brics com os Estados Unidos em relação a Gaza envolve interesses econômicos, haja vista as reservas de gás e petróleo na região. "É evidente que Trump, EUA e Israel estão de olho nisso".
Para Fernandes, portanto, a questão envolvendo o Brics é que, "para esses países, o justo é esses recursos serem explorados pelos palestinos e sejam, inclusive, usados para bancar a reconstrução do território".
Congelamento dos recursos da Usaid
Como parte de uma de suas primeiras decisões após retornar à Casa Branca em 20 de janeiro, Trump congelou as ajudas de Washington a outros países por três meses enquanto avalia se esses gastos respondem aos interesses do país.
Além disso, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, foi colocado no comando da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid, na sigla em inglês).
Para o analista geopolítico, o país não precisa mais dessa forma de atuação e imposição de influência. "Agora eles têm as big techs e os algoritmos ao seu lado. Pensando do lado do império, eles vão encontrar outros meios de financiar projetos de mudanças de regime."
No entanto, ao pensar na hegemonia, a decisão do governo estadunidense "cria um vácuo [de influência] ao redor do mundo. Isso é uma oportunidade para os Brics entrarem na jogada", avalia Marco.
Guerra comercial contra a China
A China é um dos muitos países ameaçados pelas novas tarifas impostas por Donald Trump. "Sem dúvida que isso pode ser um fator que aproxime ainda mais as relações entre Rússia e China. E essa relação acelerou, inclusive, no Trump1".
"Além disso, nós sabemos através dos dados o que aconteceu quando o Trump levantou uma guerra comercial contra a China no seu primeiro mandato: foi um fracasso total", pontuou Fernandes.
"Hoje, o que a China exporta para os EUA representa 2,8% do PIB chinês. Isto é muito pouco. As exportações e importações dos EUA vêm despencando desde os anos 2000, mas [durante o primeiro mandato Trump] acelerou, em 2017 e 2018".
O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão ao vivo toda quinta-feira às 10 horas.
Edição: Leandro Melito
![](/assets/bannermaterias_bdf_apoiase2-a384c5310c6ea05a21fa2b6430a91910fe6851e5cb0cc93ede4eec26699272d3.png)