Crise na direita

Casa Branca diz que EUA não pagarão para cruzar o canal do Panamá e governo panamenho responde: 'Mentira absoluta'

Departamento de Estado disse que o governo do Panamá 'concordou em parar de cobrar taxas de embarcações dos EUA'

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Mulino anunciou a saída do Panamá do projeto de infraestrutura chinês chamado de Nova Rota da Seda - Prensa Presidencial

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, chamou nesta quinta-feira (6) as declarações do Departamento de Estado dos Estados Unidos de “falsidade absoluta”. O mandatário estadunidense afirmou que os navios de seu país não terão que pagar para cruzar o Canal do Panamá. 

Segundo Mulino, são “intoleráveis” as declarações do governo de Donald Trump. O panamenho também reforçou que não se podem manter relações bilaterais com base em “mentiras e falsidades”.

“Tenho que rejeitar essa declaração do Departamento de Estado porque ela se baseia em uma falsidade. Isso é intolerável, simplesmente intolerável. E hoje o Panamá está expressando ao mundo a minha rejeição absoluta de continuarmos a explorar as relações bilaterais com base em mentiras e falsidades”, afirmou Mulino.

Nas redes sociais, o Departamento de Estado disse que o governo do Panamá “concordou em parar de cobrar taxas de embarcações do governo dos EUA para transitar pelo Canal do Panamá". A declaração, no entanto, foi desmentida pela própria Autoridade do Canal do Panamá (ACP). O órgão criado para administrar a hidrovia, disse que negou ter feito “qualquer ajuste” nas tarifas cobradas para a travessia ao canal. 

A ACP cobra hoje taxas de passagem e de inspeção que variam de 75 dólares (R$ 433), a 300 mil dólares (R$ 1,7 milhão), dependendo do tipo de navio e do transporte de carga que é realizada no canal. Desde 1999, os EUA pagaram cerca de US$ 25,4 milhões para a passagem de navios militares e submarinos pelo canal, segundo a autoridade. 

A troca de declarações vem na esteira da visita do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ao Panamá. No começo da semana, o estadunidense se encontrou com Mulino na capital panamenha e reforçou uma preocupação com uma suposta “influência e controle do Partido Comunista Chinês sobre o Canal do Panamá”.

De acordo com Rubio, essa postura chinesa é uma ameaça ao canal e representa uma “violação do Tratado sobre a Neutralidade Permanente e a Operação do Canal do Panamá”. 

Em resposta a essa declaração, Mulino anunciou a saída do Panamá do projeto de infraestrutura chinês chamado de Nova Rota da Seda. A medida foi questionada por movimentos populares do país, que disseram que o governo abre mão dos interesses nacionais para defender a posição estadunidense em uma disputa comercial com a China.

Trump tem dito, desde a campanha eleitoral de 2024, que pretende retomar o controle sobre o canal. Em seu discurso de posse, o republicano enfatizou essa ameaça e disse que retomaria o controle do canal caso o preço dos pedágios para os navios dos EUA não fosse reduzido, apesar de a tarifa paga pelos navios ser determinada pela sua capacidade e carga transportada, e não pelo país de origem. 

Depois, ele disse que o acordo para o controle do canal foi “ruim” para os Estados Unidos e reforçou, sem provas, que a China está controlando as passagens no canal.

“Os Estados Unidos gastaram mais dinheiro do que nunca num projeto e perderam 38 mil vidas na construção do canal. Fomos muito maltratados com este presente tolo que nunca deveria ter sido dado, e a promessa que o Panamá nos fez foi quebrada. O propósito do nosso acordo foi violado. Os navios americanos estão sendo sobretaxados e não tratados de forma justa. E acima de tudo, a China opera o Canal do Panamá. E não demos para a China. Demos ao Panamá e vamos recuperá-lo”, disse Trump.

Segundo a AFP, Trump e Mulino devem ter uma reunião nesta sexta-feira para discutir o assunto.

Mulino tem sido um dos principais aliados do governo de Donald Trump na América Latina. O presidente de direita chegou a dizer que a floresta de Darién é a “outra fronteira dos Estados Unidos”. Em novembro, o presidente panamenho afirmou que era preciso “resolver isso bilateralmente ou em conjunto com um grupo de países”. A selva fica na fronteira entre o Panamá e a Colômbia e é conhecida passagem de migrantes que deixam a América do Sul para irem aos EUA.  

História do canal

O Canal do Panamá foi inaugurado em 1914. No entanto, foi somente até o final de 1999 que o Estado do Panamá conseguiu manter o controle total da infraestrutura. Após décadas de reclamações, a transferência da administração do canal para o Estado panamenho foi estabelecida no tratado Torrijos-Carter, assinado em 7 de setembro de 1977 em Washington pelo líder panamenho, Omar Torrijos (1929-1981), e pelo presidente dos EUA, Jimmy Carter (1924-2024). 

Nesse acordo, ficou estabelecido que, a partir de 31 de dezembro de 1999, o Canal do Panamá seria assumido pelo governo do Panamá. 

Com 82 quilômetros de extensão, estima-se que de 13 mil a 14 mil navios cruzem o Canal a cada ano. Atualmente, o Canal gera cerca de 8% do PIB do Panamá e 24% da receita anual do Estado. Trata-se de uma das rotas que ligam os principais portos do planeta e é estratégico para os Estados Unidos, pois 40% de seus contêineres passam por ali.

Edição: Leandro Melito