As fortes chuvas não têm dado trégua no Brasil nas últimas semanas. E algumas regiões estão sofrendo mais com os temporais do período de verão, que vai até 20 de março no Hemisfério Sul. Foi o caso do Grande Recife (PE), onde sete pessoas já morreram em ocorrências relacionadas às chuvas. Em dois dias, choveu nesta localidade mais do que o esperado para todo o mês de fevereiro.
Outras capitais no nordeste do país, como João Pessoa (PB), também sofrem com os transtornos causados pelo acúmulo de água das chuvas.
Para a especialista em meteorologia da Tempo OK, Maria Clara Sassaki, apesar de ser comum ter mais chuva nessa época do ano, algumas regiões realmente sofreram com volume acima da média. Ela explicou o que está acontecendo durante o jornal Central do Brasil nesta sexta-feira (7).
"Elas estão além da média normal para essa época do ano. Tanto no Recife como em João Pessoa, e na faixa litorânea também do estado de Alagoas, o que nós tivemos foi a circulação de um sistema que está em altos níveis, chamado vórtice icônico de altos níveis, em aproximadamente 10 quilômetros de altura. Ele é normal para esta época do ano, só que o posicionamento dele acabou configurando e prendendo as chuvas ali na costa leste do nordeste, entre o Recôncavo Baiano e o Rio Grande do Norte. E isso fez com que as nuvens carregadas ficassem ali na região costeira, provocando chuvas muito volumosas em um curto período de tempo", esclarece.
"Só pra gente ter uma ideia, pra Pernambuco, nessa época do ano, o normal é ter 70 milímetros [de chuva] durante todo mês de fevereiro. Nós tivemos acumulados que passaram de 100 milímetros em 24 horas."
No sudeste, São Paulo não fica atrás com os problemas provocados pelas chuvas. Nesta quinta-feira (6), voltou a chover forte na capital paulista e alguns bairros registraram queda de granizo. Além dos alagamentos, mais de 150 mil clientes ficaram sem energia elétrica na capital e região metropolitana.
"Superaram a climatologia tanto no Recife como em São Paulo, mas são chuvas que, principalmente para São Paulo, são normais para esta época do ano. Uma chuva que está associada a um corredor de umidade ou uma chuva típica de verão, afinal, estamos no período chuvoso aqui do sudeste do Brasil. Mesmo que a gente tenha ocorrências de volumes acima da média, esse é o período onde a chuva deveria acontecer com mais frequência nesta região. Em termos de sazonalidade, é normal, mas em termos de extremos, nós registramos volumes acima da média climatológica aqui para o estado de São Paulo", reforça Sassaki.
Folia com mais chuva
Segundo a meteorologista, até o fim de fevereiro e início de março, pouco deve mudar, com a chuva tendendo a permanecer em forte intensidade. E pode ser que atrapalhe o carnaval de alguns foliões, já que a festa já é comemorada ao longo deste mês e será oficialmente celebrada em 3 e 4 de março.
"Principalmente para quem está no sudeste, já é bom se preparar. Eu sei que muita gente gosta de passar o carnaval nos litorais, litoral do estado de São Paulo, litoral do Rio de Janeiro... Essas são áreas onde tem que ter uma preocupação um pouco maior. São regiões que já têm um histórico de chuvas bem significativas nessa época do ano. E a gente tem uma tendência de que, a partir da segunda metade do mês de fevereiro, a chuva retorne para o sudeste do Brasil, trazendo uma condição de chuvas que podem inclusive ser volumosas nas áreas litorâneas", alerta Maria Clara.
"Não temos, por enquanto, nenhum modelo indicando nada semelhante ao que aconteceu há dois, três anos nas áreas litorâneas aqui do estado de São Paulo, quando ocorreram diversos transtornos e chuvas históricas, mas ainda assim a chuva deve retornar", pondera.
Janeiro mais quente da história: e o La Niña?
Maria Clara Sassaki também comentou o dado divulgado nesta quinta de que o mês de janeiro de 2025 foi o mais quente da história em todo o planeta. Segundo o Observatório Copernicus, o primeiro mês do ano foi 0,79ºC mais quente do que a média para janeiro das últimas três décadas. Ao considerar a média pré-industrial (1850-1900), janeiro de 2025 foi 1,75 ºC mais quente, de acordo com o observatório europeu.
O La Ninã, fenômeno natural que consiste no resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico, não ajudou a diminuir ou manter a temperatura global. "Tivemos, de forma global, a temperatura do ar no planeta durante o mês de janeiro batendo um novo recorde, uma temperatura bem acima do que já havia sido registrado no ano passado, que foi recorde também. [O La Niña] não está dando conta de resfriar. É um La Niña de fraca intensidade", conta a meteorologista.
"A gente tem essa condição de temperaturas mais baixas, só que é um La Ninã muito fraco e a gente tem todos os outros oceanos com temperaturas mais altas, com temperaturas acima do normal. Temos também a atmosfera muito mais aquecida e o continente também com essa condição de temperaturas mais altas. Então outras oscilações, como a oscilação do Atlântico Sul, têm predominado em relação ao fenômeno La Ninã."
Apesar disso, a temperatura deve permanecer estável no Brasil nos próximos meses. "Essas oscilações têm tido mais influência com relação ao posicionamento das chuvas aqui para o Brasil do que propriamente o La Ninã, que inclusive já deve perder força nos próximos meses. Já durante o mês de abril, não devemos ter mais o sinal do La Ninã e caminhando aí para uma neutralidade climática. A temperatura deve ficar perto do que seria normal para esta época do ano porque tem essa tendência de neutralidade."
A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (7) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Nicolau Soares
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