Mohammad Marandi, analista político iraniano, acredita que não há razões para crer que Donald Trump "será capaz de ter mais sucesso no controle de Gaza do que Netanyahu". Em entrevista ao Brasil de Fato, um dos principais acadêmicos do país, disse que, com relação às declarações de Trump de que a Faixa de Gaza será entregue aos Estados Unidos por Israel, e os palestinos serão realocados, o próprio "regime israelense, após 15 meses de guerra em Gaza, foi incapazes de exterminar a população palestina".
"Israel perdeu a guerra. E o Irã e o Eixo da Resistência também não aceitarão" qualquer forma de investida perante o território palestino. "O Irã continuará apoiando seus aliados no Líbano, no Iêmen, na Palestina e no Iraque."
O Eixo da Resistência, formado por Irã, Síria, o grupo Hezbollah do Líbano, o Hamas e os Houthis do Iêmen, também foi alvo do exército israelense durante os últimos meses. Segundo Marandi, a política externa de Trump não é diferente da que foi realizada pelos Estados Unidos durante o governo de Joe Biden, pois "ambos apoiam o racismo, a limpeza étnica e o genocídio na Palestina".
"A resistência em Gaza impediu Israel de tomar Gaza. O Eixo da Resistência e o Líbano conseguiram prevenir Israel de tomar o sul do Líbano. A resistência no Iêmen bloqueou Israel de controlar o Mar Vermelho, e impediu o envio de navios [israelenses]. O regime israelense foi derrotado."
O analista diz acreditar que todas as ações feitas pelas forças de resistência colocaram pressão sob Israel para acabar com o genocídio em Gaza. Com base nisso, Marandi diz que a postura de Trump no Oriente Médio não será diferente. "Se o Eixo falhou, então por que Israel aceitou um cessar-fogo no Líbano, em Gaza? É porque eles falharam. E falharam também no Iêmen. Eles perderam a guerra", acrescentou.
A queda de Assad
Sobre a queda de Bashar al-Assad na Síria, em dezembro de 2024, Marandi acredita que "esta foi a única vitória de Israel e dos Estados Unidos". Para ele, no entanto, "fortalecer a Al Qaeda na Síria não é benéfico para o Ocidente; muito menos para países da região que são aliados do Ocidente". Os rebeldes que tomaram o poder, são comandados por Abu Mohammed al-Jawlani, que já foi um dos líderes do grupo radical islâmico na década passada.
"Al Qaeda é uma organização terrorista, e são essas pessoas que os estadunidenses, Israel e Turquia ajudaram a alcançar o poder: ISIS e Al Qaeda", pontuou.
"Esses são os mesmos terroristas que massacraram pessoas, que queimam pessoas vivas e que trarão instabilidade para a região", acredita Marandi. Portanto, no final das contas, "os EUA, a Turquia e Israel vão se prejudicar mais do que qualquer outra pessoa ao apoiar esses terroristas".
Retaliação do Hezbollah e cessar-fogo em Gaza
Em outubro do ano passado, o Hezbollah nomeou Naim Qassem como no líder do grupo no Líbano, após a morte de Hassan Nasrallah. Marandi não vê a nova nomeação como um ato de provocação perante Israel. "O Hezbollah é uma organização muito poderosa e influente, e não depende de uma única pessoa."
Para o BdF, o analista político explicou que a resistência "é um organismo muito grande, amplo e popular, com enorme influência".
Caso haja alguma perda durante os combates, "outras a substituem e, na guerra, essas coisas acontecem". "O regime israelense também sofreu muitas perdas em gaza e na fronteira com o Líbano."
"Guerra não acabou" e paz depende de cumprimento do cessar-fogo
Após ataques de Israel a Teerã, capital do Irã, em setembro, que causaram a morte de Nasrallah, o Hezbollah declarou que "retaliações deveriam ser esperadas por Israel". No entanto, isso não aconteceu.
Marandi explicou que o motivo foram as conversas "secretas de cessar-fogo com o Hamas e o Irã sobre Gaza após a vitória de Trump nas eleições, e [Hamas e Irã] não queriam prejudicar tais negociações".
Então, o Irã "esperou e, durante esse tempo, os iranianos se abstiveram de atacar o regime israelense, para que as negociações pudessem ser bem sucedidas. Mas a guerra não terminou. Tudo isso é um cessar-fogo e, portanto, teremos que ver o que acontecerá nos próximos meses".
Portanto, o analista iraniano acredita que, se Israel não cumprir com as obrigações acordadas no cessar-fogo, o Irã pode cumprir com a palavra retaliativa.
No final das contas, e após o genocídio em Gaza, Israel "não atingiu nenhum de seus objetivos. Isso é o mais importante. E o mundo passou a odiar Israel. Mesmo nos Estados Unidos, as pessoas não gostam mais de Israel".
Edição: Rodrigo Durão Coelho