Itaú, Bradesco e Santander lucraram em 2024 R$ 74,8 bilhões, 31% mais do que em 2023. Todos os três maiores bancos privados do país ampliaram seus ganhos durante o ano passado graças ao aumento da taxa básica de juros, a Selic. Ganharam juntos o equivalente a quase seis vezes o orçamento previsto do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) para 2025 – R$ 12,6 bilhões.
Só o Itaú lucrou R$ 41,8 bilhões em 2024, mais de três vezes o orçamento do MCVM previsto na proposta de Orçamento deste ano. O lucro líquido do banco cresceu 18,2% ante ao registrado em 2023 – R$ 33,8 bilhões.
O lucro do Bradesco foi de R$ 19,6 bilhões, mas cresceu mais: 20%. Já o Santander aumentou em 47,8% seu lucro, atingindo R$ 13,8 bilhões.
Os três resultados foram apresentados durante esta semana. Segundo Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, ele tem a ver com a Selic. A taxa subiu de 10,5% ao ano para 12,25% ao ano de setembro a dezembro de 2024. Hoje, já está em 13,25% e deve continuar subindo.
"Não tem como os bancos não terem um resultado excelente e exorbitante como esse num contexto de taxa de juros real assim tão elevada", explicou o economista. "O resultado foi melhorado principalmente no terceiro trimestre, que foi justamente o momento de aperto da política monetária, com elevação da taxa de juros."
Dos Juros para o lucro
A taxa Selic serve de base para os juros pagos pelo governo a quem compra os títulos da dívida pública – os bancos, principalmente, segundo Cantelmo. Isso significa que, quando ela sobe, os bancos recebem mais juros. As operações disponíveis no mercado hoje tornam o aumento desses ganhos quase instantâneo.
"Existem as operações compromissadas", explicou o economista. "O Tesouro Nacional passa o título da dívida com a promessa de recompra e correção pela Selic num prazo muito curto, de dois ou três dias. Com um um aumento da taxa básica de juros, isso se torna muito lucrativo."
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explicou que essa mudança também acontece em empréstimos que bancos fazem quase automaticamente a seus clientes no chamado "rotativo". Neste caso, as taxas são atualizadas automaticamente. Já são altas e sobem mais quando a Selic sobe.
"Existem os empréstimos com juros prefixados. Mas uma parte bem importante do volume de crédito do Brasil é o crédito rotativo, é o cheque especial, do parcelamento do cartão de crédito e o do adiantamento para as empresas", disse Weiss. "A taxa de juros deles está sempre mudando. Os bancos conseguem obter ganhos rápidos com juros mais altos."
Na alta e na baixa
José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que o aumento dos lucros dos bancos em 2024 também tem a ver com o crescimento da economia brasileira durante o ano. Estimativas apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceu mais de 3% no ano. São mais pessoas comprando bens, financiando imóveis, com mais ganhos para as instituições financeiras.
Weiss lembrou, porém, que historicamente bancos brasileiros conseguem lucrar cada vez mais em tempos de crescimento econômico e também de recessão. "Na recessão, quando as pessoas precisavam de dinheiro emprestado para conseguir pagar suas contas, eles lucram", disse.