Um levantamento divulgado pelo Departamento Intersindicial de Estatística e Estudos Sociecômicos (Dieese) na última sexta-feira (7), comprovou o que muitos brasileiros vêm sentindo e sentiram um pouco mais no mês de janeiro: o peso da inflação dos alimentos no bolso. Segundo o Dieese, o custo da cesta básica aumentou em 13 das 17 capitais pesquisadas no primeiro mês do ano.
As maiores altas foram em Salvador (BA), de 6,22%; Belém (PA), de 4,80%; e Fortaleza (CE), de 3,96%. Houve leve redução apenas em Porto Alegre (RS), Vitória (ES), Campo Grande (MS) e Florianópolis (SC). E a cesta básica mais cara foi cotada em São Paulo, onde o consumidor teria que desembolsar 60% do salário mínimo oficial (R$ 1.518), ou seja, R$ 851,62.
A alta no preço dos alimentos pode ser explicada por um conjunto de fatores, explica Adriana Marcolino, diretora-técnica do Dieese. Ela conversou com o jornal Central do Brasil nesta segunda-feira (10) e elencou alguns motivos.
"Os produtos que mais tiveram alta foram café, tomate e pão francês. No caso do café e do pão francês, está relacionado muito ao quadro internacional. Então, no caso do pão francês, a gente importa muito a farinha e aí ela está sujeita às oscilações internacionais e ao câmbio. No caso do café, tem uma demanda mundial que não está conseguindo ser suprida pela oferta e também há uma especulação na Bolsa de Valores", esclarece ela, que também diz que ainda sofremos consequências de acontecimentos em anos anteriores.
"Hoje, vários dos alimentos que nós consumimos estão sujeitos às oscilações internacionais. Então se tem uma alta na Bolsa Internacional, isso impacta aqui. A gente teve uma alta dos alimentos bastante grande em 2019/2020 e esse novo patamar de preços não recuou ainda. Então os trabalhadores e trabalhadoras acabam sofrendo por dois lados: teve um período de um novo patamar de preços que não recuou, que a gente não conseguiu fazer recuar ainda, e também teve um período grande de redução do valor da remuneração média dos trabalhadores. O trabalhador perdeu o poder aquisitivo e aumentou o seu custo de vida", diz Marcolino.
Segundo o levantamento do Dieese, o salário mínimo ideal em janeiro para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 7.156,15, muito além da realidade. E há uma tendência de os preços dos alimentos se mantiverem altos, afirma a diretora-técnica, mesmo com algumas políticas que tentam reverter esse quadro.
"Como nós estamos muitos sujeitos a esses preços internacionais e também os produtores acabam direcionando parte relevante da sua produção para o mercado externo por conta desses preços, é muito provável que essa tendência de aumento dos preços dos alimentos continue. Por isso, é preciso pensar em medidas que revertam nacionalmente esse contexto, como, por exemplo, política de abastecimento de alimentos", argumenta.
"Então, no caso do arroz, o governo federal está importando para poder abastecer o mercado interno. E isso já teve um resultado positivo em janeiro. O preço do arroz em janeiro caiu na maior parte das capitais brasileiras que o Dieese acompanha. Além disso, o governo está retomando os estoques reguladores – isso é super importante -, porque o governo faz um estoque de um determinado gênero alimentício. Se começam a subir demais o preço dos alimentos, ele coloca esse produto no mercado e assim consegue segurar o preço".
Há ainda dificuldade, porém, por causa de políticas de desmonte de governos anteriores, pontua a diretora-técnica do Dieese. "A gente passou, de 2016 a 2022, por um período de desmonte da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], que é o local do governo federal que faz essa política de abastecimento. Desmontaram a Conab, desmontaram os estoques, desmontaram os armazéns e isso não é refeito do dia para a noite. Primeiro precisa reconstituir os armazéns. O governo está recontratando armazéns para armazenar os alimentos".
"É preciso comprar os alimentos e precisa ter oferta desses alimentos, só que a gente também está tendo dificuldade de encontrar alimentos para comprar e poder reconstituir esses estoques, né? Então isso, essa política vai levar um tempo, mas ela está sendo feita e precisa de continuidade. O governo também está fazendo um conjunto de medidas para ampliar a oferta a partir, por exemplo, da agricultura familiar. Então, aumentando as linhas de crédito pelo Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], os seguros para os produtores. Então, um conjunto de políticas que apoia, além da política de abastecimento feita pela Conab, também o aumento da produção de gêneros que são importantes para o dia a dia da alimentação dos brasileiros", conta Marcolino.
A entrevista completa está disponível na edição desta segunda-feira (10) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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