45 ANOS DO PT

Humberto Costa: 'O PT é um partido de esquerda e deve continuar onde está'

Senador por Pernambuco e 2º vice-presidente do Senado Federal, ele se filiou ao partido no mesmo ano de sua fundação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Senador Humberto Costa (PT-PE) durante o seminário "A Realidade Brasileira e os Desafios do Partido dos Trabalhadores" em dezembro de 2024 - Alessandro Dantas/PT no Senato

Em 1980, mesmo ano de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), o jovem líder estudantil nascido em Campinas (SP), mas criado em Recife (PE), Humberto Costa, de 67 anos, assinava sua ficha de filiação, dando início a uma longa jornada de construção da agremiação política no estado de Pernambuco. Em 1990, foi eleito pela primeira vez a um cargo público, como deputado estadual e, cinco anos depois, elegeu-se deputado federal.  

Entre 2003 e 2005, foi ministro da Saúde do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e desde 2011 exerce o cargo de senador por Pernambuco, ocupando hoje a 2ª vice-presidência do Senado Federal. Membro da direção nacional do PT, Costa falou ao Brasil de Fato sobre os 45 anos do partido, os desafios, o enfrentamento à extrema direita, e o futuro da agremiação que fará eleições internas no próximo mês de julho.  

Confira a entrevista a seguir.

Brasil de Fato: O que o senhor destacaria de mais importante nessa história, não tão longa, de 45 anos de atuação do Partido dos Trabalhadores? 

Humberto Costa: O Partido dos Trabalhadores, apesar de muito jovem, um partido de 45 anos, numa história de centenas de anos do Brasil, conseguiu promover no país mudanças muito profundas e exerceu um papel e um protagonismo político como nenhum outro partido, nenhum outro movimento no país viveu e protagonizou.  

Ao longo desses 45 anos, o PT ganhou eleições para a Presidência da República cinco vezes. Governou o país por um período relativamente curto, mas ao longo desse período conseguiu mudanças muito importantes e significativas. Primeiro, cumprir um papel importante na preservação da liberdade, da democracia, jogou um papel inestimável na Constituinte de 1988, apesar de uma bancada limitada, cumpriu um papel importante quando seus militantes dos movimentos sociais fortemente contribuíram para a luta contra a ditadura militar.  

Depois, quando chegou ao governo, à Presidência da República, mudou a história do país que sempre foi muito marcada pela exclusão social e política das classes trabalhadoras, das classes populares e implementou no país um processo que reduziu de modo significativo as desigualdades, deu protagonismo aos mais pobres, produziu diminuição das injustiças sociais, elaborou políticas públicas que são referências no mundo inteiro. Então eu diria que o PT, sem dúvida, deixou uma marca indelével na história do nosso país e cumpriu um papel importante na construção de uma cidadania brasileira.  

O mundo mudou bastante nesses últimos anos, desde que o PT governou o país pela primeira vez, principalmente pelo ascenso da extrema direita no Brasil e no mundo. Como o senhor avalia o papel do partido hoje, para além de governar? 

Nesse momento, o PT exerce um papel muito importante para nossa história. Primeiro, porque ele está nesse terceiro governo Lula, quinto governo do PT, dando continuidade a um processo de fortalecimento da democracia e também de ampliação da construção da cidadania e da justiça social no Brasil. E, sem dúvida, é o grande contraponto a essas forças da extrema direita, ao neoliberalismo, ao avanço do fascismo, e não somente, eu diria, para o Brasil. Esse contraponto ele tem uma importância e uma extensão para além do próprio país.  

Além do mais, o PT traz nesse momento uma posição de liderança em processos que são extremamente importantes para o futuro da humanidade: a transição energética, o enfrentamento às mudanças climáticas, o fortalecimento do país como um espaço importante de produção tecnológica, e o protagonismo do ponto de vista da política externa internacional. O Brasil é um contraponto importante a essa extrema direita, também em termos internacionais. Basta ver as mobilizações que Lula tem feito junto a outros chefes de Estado e chefes de governo no mundo inteiro para buscar um caminho que una essas forças progressistas contra o avanço do fascismo e o avanço da extrema direita.  

Como o senhor visualiza o que vem pela frente, pensando nas eleições de 2026, mas, antes disso, nas próprias eleições internas do partido, ainda este ano? 

Bem, eu entendo e espero que esse momento da disputa política no país e do processo de renovação das direções do PT, do debate sobre seu programa e suas teses, enfim, é um momento muito importante para o partido, e acho que nós precisamos aproveitar esse momento. Dentro de um ano e meio, nós estaremos em pleno processo eleitoral no Brasil. Provavelmente, o presidente Lula encabeçando mais uma vez uma chapa para a Presidência da República, em uma frente mais ampla do que aquela que nós tivemos em 2022 e necessitando fortemente, dada a própria polarização que há no país, de uma grande mobilização partidária, uma grande mobilização social.  


Senador desde 2011 pelo estado de Pernambuco, Humberto Costa foi eleito 2º vice-presidente do Senado Federal, em fevereiro de 2025 / Alessandro Dantas/PT no Senato

Então, eu defendo que nós transformemos esse processo de eleições diretas do PT em um momento de grande mobilização do partido, de colocação, num plano de debate político, das divergências que existem, na preocupação de um debate aprofundado, que atualize as nossas teses, as nossas ideias. E que disso resulte um projeto que venha a ser apresentado a essa frente, que vai ser encabeçada pelo presidente Lula. E eu acho que esse é o grande desafio do partido. Não permitir que se transforme num processo de disputa sectária, de ocupação de espaços pelos diversos grupos que existem no partido, mas um espaço, um momento de mobilização das bases do PT, se preparando já para a grande disputa que acontecerá em 2026.  

Alguns militantes ou correntes internas têm defendido publicamente um “giro ao centro”. Outras, defendem a “retomada das raízes”. Onde o senhor se localiza nesse debate? 

Eu entendo que o PT deve continuar onde está. É um partido de esquerda, historicamente tem se comportado de maneira coerente com esse perfil político ideológico, vai continuar a ser um partido de esquerda. Toda política que tem implementado, mesmo com todas as dificuldades na sociedade, tem um conteúdo claramente de esquerda e assim permanecerá.  

Outro debate é a natureza das alianças que o PT faz para governar. Ou seja, nós já temos hoje um governo que tem nitidamente uma composição de centro-esquerda, de centro, até mesmo com forças da centro-direita. Mas a essência das políticas do partido é de esquerda e vai continuar a ser. Então, acho essa esse aí um falso dilema. Acho que o PT deve estar onde ele sempre esteve e onde está agora. 

Edição: Martina Medina