As políticas tarifárias que estão sendo impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorrem em um momento em que o país têm uma grande balança comercial negativa com o resto do mundo - importa mais de outros países do que vende ou exporta para eles. Os EUA são o maior comprador de mercadorias do mundo, mas a China é o maior vendedor. De modo geral, quando se contabiliza o valor total das importações em relação às exportações, os EUA também têm o maior déficit comercial do mundo, no valor de mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,7 trilhões).
Alguns países exportam muito mais para os EUA do que importam, e é contra essas nações que Trump está anunciando tarifas. Os países com os quais os EUA têm os maiores déficits comerciais são a China e o México, de acordo com dados da Administração de Comércio Internacional dos EUA. Os números de 2024 mostram que o maior déficit comercial dos EUA foi com a China, de US$ 296 bilhões (cerca de R$ 1,7 trilhões). Para o México, o déficit foi de US$ 172 bilhões (cerca de R$ 991 milhões). Esses países foram os primeiros a sofrer com a ameaça de tarifas.
Os próximos maiores déficits dos EUA são com o Vietnã - cada vez mais uma porta de entrada nos EUA para as empresas chinesas que evitam as tarifas - seguido pela Irlanda, Alemanha e Taiwan.
Em 2024, os EUA receberam a maior parte das exportações de México, China e Canadá. Cada um desses países vendeu mais de US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2,3 trilhões) em mercadorias para os EUA.
Apesar de o anúncio de sobretaxa ter causado fortes reações internacionais, analistas recomendam cautela e avaliam como real a possibilidade de muitos países acabarem isentos do imposto extra. Tal movimento ocorreu no primeiro governo Trump, obrigado a ceder após forte pressão interna de setores importantes para a economia dos EUA, que se viu prejudicada pelo encarecimento das matérias primas. Este ano, o estadunidense chegou a anunciar tarifas de 25% sobre produtos vindos do México, mas voltou atrás após negociação com a presidenta mexicana, Claudia Sheinbaum.
Livre comércio
O México e o Canadá têm desfrutado de um comércio livre com os EUA desde 1994, quando o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) entrou em vigor. Ele foi substituído em 2020 pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
Embora o México tenha um superávit comercial significativo com os EUA, os estadunidenses ainda enviam dezenas de bilhões de dólares em produtos como carros, maquinário e produtos elétricos para o sul da fronteira. Isso inclui microchips, cabos de fibra e equipamentos de informática. Em geral, o México também exporta os mesmos produtos para seu vizinho do norte, embora sua principal exportação seja de carros e caminhões.
Em ambos os casos, os EUA exportam uma quantidade significativa de petróleo para seus vizinhos. O anúncio inicial de Trump parecia reconhecer esse fato quando ele visou os recursos energéticos com uma tarifa menor, de 10%.
Trump ameaçou, mas ainda não anunciou, tarifas sobre a União Europeia. Os dados mostram que os produtos farmacêuticos, como vacinas, máquinas e carros, representam quase metade das exportações da UE para os EUA. No sentido inverso, dos EUA para a UE, estão o petróleo, os itens farmacêuticos e o maquinário.
O México e o Canadá exportam muitos veículos para os EUA, além de energia e petróleo. Máquinas e equipamentos elétricos também formam uma parte significativa das exportações mexicanas para os EUA. As exportações chinesas incluem eletrônicos, maquinário e produtos agrícolas. O valor coletivo das exportações desde 2009 é de US$ 5,2 trilhões para o Canadá, US$ 5,3 trilhões para o México e US$ 7,2 trilhões para a China.
Para o Canadá - um dos três primeiros países visados pelas tarifas de Trump em seu segundo mandato - seus produtos mais importantes exportados para os EUA são combustíveis fósseis, carros e maquinário - principalmente turbinas a jato e motores a pistão. Carros e maquinário também representam os maiores grupos de produtos transportados para venda dos EUA para o Canadá.
Tarifa sobre o aço
Na segunda-feira (11), o presidente Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio do país. As taxas que entrarão em vigor em 12 de março, "sem exceções nem isenções" afetarão Brasil, México e Canadá, entre outros países.
No caso do México, a aplicação dessa tarifa seria "inusitada", afirmou nesta terça-feira (11) o ministro da Economia mexicano, Marcelo Ebrard, uma vez que a balança comercial de aço e alumínio é superavitária a favor dos Estados Unidos.
"Os Estados Unidos nos vendem mais, então não se justifica essa tarifa", destacou o ministro, que detalhou que o país vizinho recebe "quase US$ 6,89 bilhões de dólares (cerca de R$ 40 bilhões) a mais" do que o México exporta, segundo dados oficiais dos Estados Unidos de 2024.
Em declarações feitas durante a habitual coletiva de imprensa matinal da presidente Claudia Sheinbaum, Ebrard precisou que planeja se comunicar na próxima semana com os representantes comerciais estadunidenses "para apresentar os argumentos do México".
A situação do país latino-americano é oposta à do Canadá, que tem um superávit de US$ 9,67 bilhões (R$ 56 bilhões) em relação aos Estados Unidos no comércio desses produtos, explicou o ministro.
*Com Guardian e AFP
Edição: Leandro Melito
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