LIMPEZA ÉTNICA

China, Liga Árabe e França descartam expulsão de palestinos da Faixa de Gaza

Proposta foi feita por Trump e foi amplamente condenada como sendo limpeza étnica

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Palestinos deslocados esperam ao longo da estrada al-Rashid em Nuseirat, perto do corredor Netzarim bloqueado, para atravessar para a parte norte da Faixa de Gaza em 26 de janeiro de 2025 - Eyad BABA / AFP

A inesperada proposta feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de expulsar os palestinos da Faixa de Gaza foi novamente rechaçada por atores globais. China, França e a Liga Árabe externaram repúdio à ideia, rotulada de "limpeza étnica" por analistas. 

"Gaza pertence aos palestinos e é parte integrante do território palestino", disse Guo Jiakun, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quarta-feira (12).

"Nós nos opomos ao deslocamento forçado dos habitantes de Gaza", devastada por mais de 15 meses de guerra, acrescentou o porta-voz.

Jordânia e Egito afirmaram que se opõem ao deslocamento da população de Gaza. O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, afirmou nesta quarta-feira que a ideia é "inaceitável".

Já o presidente francês Emmanuel Macron pediu "respeito" aos palestinos e seus vizinhos árabes, em entrevista à CNN gravada na última quinta-feira. "Você não pode dizer a 2 milhões de pessoas, 'ok, agora adivinhe? Vocês vão se mudar'", disse ele. 

"A resposta certa não é uma operação imobiliária, esta é uma operação política", afirmou. A França defendeu o direito de Israel de se defender após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, mas Macron vem criticando as operações militares do país em Gaza e no Líbano. A França suspendeu as exportações de armas para as Forças de Defesa de Israel (IDF) em outubro de 2024, pedindo que outras nações sigam o exemplo.

Trump descreveu Gaza como um "grande local imobiliário" enquanto ele dobra os planos para reconstruir o enclave, causando tempestades de críticas por aumentar o potencial imobiliário de Gaza, sugerindo que ele poderia redesenvolvê-la em uma "Riviera do Oriente Médio".  O magnata estadunidense que ocupa a Casa Branca quer deslocar os habitantes de Gaza para o Egito e a Jordânia, ameaçando suspender a ajuda dos Estados Unidos a esses dois países se eles não concordarem em cooperar.

Plano egípcio

O Egito planeja "apresentar uma visão global para a reconstrução" da Faixa de Gaza, que, diferentemente da ideia de Trump garantirá que a população do território palestino possa continuar vivendo naquele local, anunciou nesta terça-feira (11) o Ministério das Relações Exteriores egípcio.

O Egito "espera cooperar" com o governo Trump para "alcançar uma solução justa para a causa palestina", mas quer apresentar um plano "que garanta que o povo palestino permaneça em sua terra", informou a chancelaria.

Durante um encontro com Trump, o rei da Jordânia, Abdullah II, adiantou hoje que o Egito apresentaria um plano para a reconstrução da Faixa de Gaza, que seria discutido entre líderes árabes.

A recuperação e a reconstrução da Faixa de Gaza, devastada após mais de um ano de guerra, vai demandar mais de US$ 53 bilhões (R$ 306 bilhões), sendo mais de US$ 20 bilhões (R$ 115 bilhões) nos três primeiros anos, segundo estimativa da ONU publicada nesta terça-feira (11).

*Com AFP, Al Jazeera e CNN

Edição: Rodrigo Durão Coelho