Cerca de 100 manifestantes se reuniram na manhã desta quinta-feira (13) em frente ao Consulado dos Estados Unidos, em São Paulo, para prestar solidariedade ao povo palestino e contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O republicano afirmou recentemente que "a Faixa de Gaza será entregue aos Estados Unidos por Israel ao fim dos combates" e que os palestinos serão "reassentados em comunidades muito mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região".
A proposta de que Washington poderia tomar o controle do território palestino, da qual não se tem detalhes ou prazos, provocou indignação imediata em todo o mundo e alertas sobre limpeza étnica da população palestina.
Na manifestação, os cartazes endereçados a Trump e Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, diziam que a “Palestina não está à venda”. Além de São Paulo, o ato ocorreu em outras sete capitais brasileiras, incluindo Brasília. Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino em São Paulo, afirmou que o protesto desta manhã foi “uma ação unificada ampla coordenada diante da urgência no momento”.
“A gente tem visto as medidas do Trump, que está mandando imigrantes para Guantánamo e, ao mesmo tempo, numa retórica expansionista, incentivando e ameaçando expulsar dois milhões de palestinos de Gaza numa tentativa de solução final do estado de Israel, com o seu imperialismo na região”, afirmou Misleh.
“Essa manifestação ganha um sentido de urgência. Estamos aqui para protestar, trazer as vozes dos irmãos e irmãs palestinos e dizer que aquela terra é nossa. A Palestina não está à venda. Nós temos raízes fincadas para além do tempo naquela terra e não vamos sair. Nós existimos, persistimos e não seremos apagados no mapa", conclui a jornalista palestino-brasileira.
O presidente do Fórum Latino Palestino, Mohamad El-Kadri, também compareceu, vestido com símbolos da Palestina. “Nós estamos aqui hoje para dizer um ‘não’ bem grande para Trump e Netanyahu: Trump, a Riviera não é Gaza. Você tem que se preocupar com seus problemas. Nós vimos aqui para falar do direito do povo palestino de continuar resistindo de todas as formas possíveis”, disse ao Brasil de Fato.
“O povo palestino depois de todo esse tempo ainda vive em Gaza, quer ficar em Gaza, e não vai sair de Gaza. Trump, procure uma outra Riviera que Gaza é dos palestinos. Palestina livre do rio ao mar”, concluiu El-Kadri.
Luciano Carvalho, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) representou, ao lado de outros militantes, a organização na manifestação. “A brutalidade maior é massacrar pessoas, famílias, histórias e heranças de um povo inteiro. Imagine um estado assassino massacrar uma região densamente povoada com mísseis, com tanques, com capacidade explosiva bélica de última geração. Covardia é o nome disso”, disse Carvalho.
“Vivemos uma vergonha mundial ao vivo. Covardes de Israel que fazem uso dos mesmos expedientes nazistas do qual foram vítimas numa vergonha histórica, demonstram que parte de seu povo não aprendeu nada. É a parte sionista e racista que busca uma limpeza étnica. E agora, de maneira mais vergonhosa, o imperialismo mostra a sua face querendo transformar Gaza sem palestinos, aquele território sagrado e de luta num empreendimento imobiliário. O MST se coloca ao lado do povo palestino”, concluiu.
Tumulto e abordagens
Em determinado momento, o ex-deputado estadual de São Paulo, Douglas Garcia (União Brasil), chegou à manifestação acompanhado de um homem que gravou o ato, gerando tumulto entre os manifestantes. O ex-parlamentar que se identifica como “cristão”, “pró-vida” e anticomunista”, foi retirado por policiais militares.
Do outro lado da manifestação, Garcia disse à reportagem do Brasil de Fato que foi à manifestação para “questionar se o pessoal apoia a criação do estado judeu também. Se eles defendem do ‘rio ao mar, palestina já’, eles estão defendendo a eliminação do estado judeu. Isso é justo?”, questionou.
Policiais civis gravando a manifestação / Caroline Oliveira/Brasil de Fato
Outro tumulto se formou quando os agentes de segurança abordaram Bruno Falko, integrante da Frente Palestina, que resistiu ao pedido de revista. Os policiais chegaram a pedir o IMEI do celular do ativista – uma espécie de documento de identidade para o dispositivo – do manifestante para verificar a origem do aparelho telefônico.
Sete viaturas da Polícia Militar estavam no local, além de dois carros da Polícia Civil. Uma policial civil estava vestida com o uniforme do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga crimes contra a vida.
Em nota, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), por meio da Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) e da Divisão de Proteção à Pessoa, declarou que organizou uma ação para acompanhar o ato em frente ao Consulado dos Estados Unidos. "A Polícia Militar também foi acionada para garantir a segurança dos manifestantes e da população no local. O ato foi encerrado por volta das 12h30, sem intercorrências", declarou o órgão.