A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), deverá reabrir as investigações sobre a morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, que faleceu em 1976 durante um acidente de trânsito. O tema será pauta de sessão agendada pelo órgão para a tarde desta sexta-feira (14). O colegiado se reunirá em Recife (PE), onde os integrantes cumprem agenda desde terça (11) para realizar diligências técnicas em cemitérios para a busca de corpos de vítimas da ditadura militar (1964-1985).
O caso de JK deverá ser colocado em pauta na comissão por meio de uma manifestação assessor especial do MDHC, Nilmário Miranda, que defende a reanálise dos fatos. JK atuou como deputado federal constituinte nos biênios de 1935-1937 e 1946-1951 e foi senador entre 1961 e 1964, quando foi cassado pelos militares. A morte do político é cercada de interrogações, por isso o interesse pela reabertura do caso. Entre outras coisas, laudos médicos produzidos na época de sua morte não incluíram exames toxicológicos para checar se o motorista que conduzia o carro do ex-presidente havia sido envenenado. JK faleceu quando, trafegando pela Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro (RJ), o veículo que o levava foi atingido por uma carreta e um ônibus.
Na época do regime militar, as apurações apontaram que o episódio teria caráter de acidente, versão aceita por uma comissão externa da Câmara dos Deputados que operou nos anos 2000. Na época, o colegiado reforçou que a tese de que peritos responsáveis por laudos relacionados ao acidente haviam descartado a chance de assassinato. O caso, porém, enfrentou novas apurações, que apontaram incongruências na versão oficial dos fatos. Indícios de sabotagem, intoxicação e outros foram mencionados em trabalhos feitos pelas comissões estaduais da verdade de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo.
Além disso, investigações feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) na década de 2010 afastaram a chance de ter havido uma batida entre o carro que transportava JK e o ônibus envolvido na colisão. Ao mesmo tempo, os trabalhos não anularam a possibilidade de o ex-presidente ter sido alvo de um atentado com viés político por conta das interrogações relacionadas às apurações feitas pelos militares.