No começo desta semana, entraram em vigor as tarifas da China sobre alguns produtos dos Estados Unidos, em resposta ao aumento de 10% nas taxas que o governo Trump colocou em todos os produtos chineses, que entrou em vigor no dia primeiro de fevereiro.
A China criou uma tarifa de 15% sobre carvão e Gás Natural Liquefeito (GNL) e de 10% sobre petróleo bruto, maquinário agrícola, carros com grandes motores e caminhonetes.
O governo de Xi Jinping entrou com uma ação contra o aumento das tarifas do governo estadunidense no mecanismo de resolução de disputas da Organização Mundial do Comércio no dia 4 de fevereiro.
A China também implementou controles de exportação de cinco metais: tungstênio, telúrio, bismuto, molibdênio e índio. Eles têm usos diversos que vão da indústria tecnológica, metalúrgica, petrolífera, entre várias outras. A China chega a ter de 70 a 80% do total da produção mundial alguns desses materiais.
A porta-voz do Ministério do Comércio da China, He Yongqian, afirmou na quarta-feira (12) que seu país está disposto "a resolver os problemas por meio do diálogo e da consulta", mas que "diante de medidas unilaterais de intimidação, a China definitivamente tomará as medidas necessárias para defender resolutamente seus próprios direitos e interesses".
Já Guo Jiakun, porta-voz da chancelaria chinesa pediu que os Estados Unidos "corrijam seus erros e parem de politizar e instrumentalizar questões econômicas e comerciais".
Após a intensificação do conflito na Ucrânia, que aumentou a demanda europeia por GNL, os Estados Unidos se tornaram pela primeira vez, em 2023, o maior exportador do mundo desse combustível, exportando 91,2 milhões de toneladas esse ano. Nesse ano, a China por sua vez superou o Japão e se tornou a maior importadora do mundo de GNL, com 72 milhões de toneladas.
A China também é a maior produtora, consumidora e importadora de carvão do mundo. Em 2024, o país importou quase 543 milhões de toneladas de carvão, segundo a Administração Geral de Alfândegas da China.
O possível efeito reverso dos tarifaços
Os tarifaços da administração Trump podem colocar seu país em problemas. As tarifas de 25% sobre as importações de minerais canadenses poderiam custar aos compradores dos EUA cerca de US$ 11,75 bilhões (R$ 68 bilhões) a mais, segundo análise da diretora do Programa de Segurança de Minerais Críticos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CEEI) Gracelin Baskaran.
A implementação das tarifas foi pausada durante 30 dias em 3 de fevereiro, após reunião entre o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau e Trump.
Baskaran também afirmou que as tarifas retaliatórias de 25% – que haviam sido anunciadas pelo primeiro-ministro canadense Justin Trudeau–, poderiam levar as empresas canadenses a pagar cerca de US$ 7,6 bilhões, o que poderia incentivá-las a procurar alternativas aos produtos dos EUA.
Taiwan entrou na mira
Trump também anunciou que poderá implementar tarifas à importação de chips de Taiwan. As empresas da ilha detém mais de 60% de toda a produção mundial de chips.
O presidente dos EUA disse que a principal empresa de Taiwan desse setor, a TSMC, teria "roubado" o negócio dos EUA e acusou o governo de Taiwan de depender do financiamento militar dos EUA sem pagar por isso.
Zhu Fenglian, porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China disse que "quanto mais as autoridades do Partido Democrático Progressista (DPP), que governo a ilha, confiam nos Estados Unidos, mais elas prejudicam os interesses de Taiwan".
"O unilateralismo e o protecionismo comercial dos Estados Unidos provaram mais uma vez que sempre colocarão os 'interesses estadunidenses em primeiro lugar'. As chamadas 'soluções' nada mais são do que 'vender Taiwan para favorecer os Estados Unidos', um movimento que só prejudicaria a base do desenvolvimento industrial de Taiwan e sacrificaria os interesses e o bem-estar do povo de Taiwan", expressou Zhu.
Essa semana a vice-ministra da Economia, Cynthia Kiang e a vice-diretora geral da Administração de Desenvolvimento Industrial da ilha, Chen Pei-li, viajaram a Washington para se reunir com equipes do governo Trump e tentar evitar a implementação das tarifas aos chips taiwaneses, segundo o jornal local, Focus Taiwan.
Os cinco minerais sob restrição
O tungstênio, telúrio, bismuto, molibdênio e índio não foram proibidos de serem exportados, mas terão controles de exportação. Em um comunicado o Ministério do Comércio da China afirmou que a exportação seguirá o critério de "não proliferação e outras obrigações internacionais". A não proliferação se refere a armas químicas e nucleares. O ministério disse que a decisão foi tomada "com base na necessidade de salvaguardar a segurança e os interesses nacionais".
A China produz mais de 80% do tungstênio mundial (63 mil toneladas em 2023), e também tem as maiores reservas mundiais. Tem usos nas indústrias de metalurgia, mineração, construção e armamentística.
Nesse mesmo ano, a China foi o maior produtor de telúrio refinado, responsável por 67% da produção global. Nos EUA é utilizado principalmente nas indústrias química e metalúrgica.
As reservas de bismuto da China são de cerca de 240 mil toneladas, quase 2/3 do total mundial. De 2021 a 2023, a China respondeu por mais de 75% da produção global. O bismuto nos EUA tem aplicações principalmente cosméticas, industriais, laboratoriais e farmacêuticas.
China tem a maior produção de molibdênio, 110.mil toneladas, 42,31% do total global, segundo dados de 2023. Usado fundamentalmente na indústria de ferro e aço e em menor medida na química.
Já o índio tem usos na indústria eletrônica, de semicondutores, soldas e ligas e energia atômica. A China produziu 646 toneladas do metal em 2023, quase 50% da produção total mundial.
*Com informações de CGTN