No município de Parauapebas, ao sudoeste do Pará, considerado o maior arrecadador do país no ramo da mineração, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Vale anunciou o investimento de R$ 70 bilhões para a implantação do chamado Novo Carajás, que tem foco na ampliação da exploração de minério de ferro e produção de cobre.
No palanque amistoso com a presença de Lula, o presidente da Vale Gustavo Pimenta, o governador do Pará Helder Barbalho e representantes dos governos, a expectativa é de recolocar a empresa no topo do ranking das potências mundiais de mineração.
Às vésperas da COP30, que será realizada no estado do Pará, o discurso se manteve alinhado aos termos de sustentabilidade, descarbonização, transição energética, energia limpa e preservação ambiental, especialmente por parte da empresa.
"Neste lugar tão especial, a Vale implementou um modelo de mineração verdadeiramente sustentável. As nossas atividades no Norte ocupam apenas 3% da Flona, na Floresta Nacional de Carajás. E a atividade minerária preserva 800 mil hectares de floresta nativa, uma área equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo, em uma parceria de muito sucesso com o ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]", destacou o presidente da Vale, Gustavo Pimenta.
Mina do projeto S11D, da Vale, em Canaã dos Carajás (PA) / Agência Vale
Segundo vídeo institucional apresentado pela empresa durante o anúncio, o valor de R$ 70 bilhões deve ser investido de 2025 a 2030, garantindo a ampliação e expansão dos volumes de minério de ferro para 200 milhões de toneladas por ano (Mtpa) e uma produção de 350 Mtpa de cobre.
Sobre a redução da emissão de gases de efeito estufa, o presidente da Vale destacou o compromisso da empresa e reforçou a garantia da contribuição do governo federal nas suas ações.
"A descarbonização é o nosso negócio e o Novo Carajás tem o potencial de posicionar o Brasil como líder global no fornecimento de minerais críticos, contribuindo diretamente para a redução da pegada de carbono global. Para isso, é fundamental que sigamos unindo esforço entre os setores público e privado", pontou Pimenta.
Antes da cerimônia, o presidente posou ao lado de trabalhadores da empresa Vale. / Ricardo Stuckert
Acenando total apoio à empresa, o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira colocou o governo à disposição da Vale, com a proposta de duplicar a representação da mineração no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
"Se hoje nossa mineração representa 3% do PIB, a nossa meta é alcançar 6% em uma década. Nos aproximaremos do Canadá, onde a mineração representa 8% do PIB e estamos fazendo isso de forma organizada, com políticas claras que atendam aos interesses da sociedade, aliando desenvolvimento econômico com sustentabilidade, resultados sociais e segurança", declarou Silveira.
Já o governador do estado do Pará, Helder Barbalho, apontou que a região, rica em biodiversidade, está de portas abertas para as atividades minerárias da empresa, apontando o investimento como uma oportunidade extraordinária.
"Que além dos minérios também possamos fazer da economia verde uma oportunidade extraordinária com investimentos em bioeconomia, a partir da nossa biodiversidade, investimentos em preservação florestal agregando valor a oportunidades verdes, como o mercado de carbono e valorização dos povos tradicionais", disse Barbalho.
Ao presidente Lula coube o encerramento da cerimônia, entre piadas e reverências à nova presidência da Vale, que, segundo ele, reconcilia os interesses da empresa aos da sociedade brasileira.
"Se depender do governo e do que a gente possa fazer, a Vale voltará a ocupar os primeiros lugares de mineração do mundo (…)" e, mencionando o presidente da empresa, pede que "ajude que a Vale volte a ser a primeira empresa do mundo em mineração de ferro, em mineração de materiais críticos, em mineração do que ela quiser", declarou Lula.
Comunidades impactadas pelos impactos ambientais e sociais ocupam Estrada de Ferro. / Ícaro Matos
Contradições
Palco do anúncio de R$ 70 bilhões em investimentos, o município de Parauapebas, o quinto mais populoso do estado do Pará, com cerca de 267 mil habitantes, é o maior impactado pela sonegação de impostos da Vale no país.
Segundo auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a mineradora deixou de pagar os impostos devidos equivalentes a cerca de cinco anos, entre 2017 e 2021, totalizando R$ 2,8 bilhões, e Parauapebas está entre os municípios mais impactados, acompanhado de Mariana, Ouro Preto e Itabira, em Minas Gerais.
Neste período de cinco anos, Parauapebas deveria ter recebido cerca de R$ 360 milhões em royalties de mineração, no entanto, ao município coube acumular impactos como a intensificação de conflitos de terra, poluição do ar com emissão de óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e materiais particulados, além de desmatamento, danos à fauna e flora e perdas humanas nos trilhos de ferro que cortam as comunidades.