Líderes da União Europeia e da Otan se reuniram, nesta segunda-feira (17), em Paris para mostrar uma frente unida diante da mudança de política dos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia. O encontro foi convocado pelo presidente francês, Emmanuel Macron.
Tanto Kiev como os países europeus temem ser excluídos por Rússia e EUA das negociações para encerrar a guerra na Ucrânia. A desconfiança começou após a conversa por telefone, na quarta-feira, entre o presidente estadunidense, Donald Trump, e seu colega russo, Vladimir Putin, para discutir o início das negociações.
Durante a reunião desta segunda, à qual compareceram os chefes de governo de Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca, a ideia de enviar tropas para a Ucrânia, mesmo que futuramente para garantir um cessar-fogo, causou atritos.
O primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, que na próxima semana visitará Trump em Washington e busca desempenhar um papel de facilitador entre os Estados Unidos e os europeus afirmou que está disposto a propor o envio de forças britânicas como parte de um contingente maior de forças de paz, se um acordo duradouro for alcançado. Starmer ponderou, no entanto, que é necessário o apoio de Washington, pois “uma garantia dos Estados Unidos é a única maneira de dissuadir efetivamente a Rússia de atacar a Ucrânia novamente”.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, constatou após a reunião que as relações com os Estados Unidos “entraram em uma nova fase”. O chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou após a reunião que o debate sobre envio de soldados é “altamente inadequado” e “precoce”. O ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, também disse que “é muito incipiente” falar sobre o envio de tropas para a Ucrânia.
“Neste momento não há paz, e o esforço deve ser alcançar a paz o mais rápido possível”, afirmou Albares. Também compareceram o presidente do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da Otan. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu que “a Ucrânia merece a paz através da força” e que isso deve ser alcançado “respeitando sua independência, soberania e integridade territorial, com fortes garantias de segurança”.
O chefe da Otan (aliança militar do Ocidente), Mark Rutte, afirmou que os europeus estão “dispostos e preparados”. “Será necessário decidir os detalhes, mas o compromisso está claro”, garantiu.
A Rússia “está ameaçando agora toda a Europa”, afirmou nesta segunda (17) a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen. Ela também alertou os Estados Unidos de que seus esforços para alcançar um cessar-fogo “rápido” dariam à Rússia a oportunidade de “se mobilizar novamente, atacar a Ucrânia ou outro país na Europa”.
Trump disse no domingo que poderia se encontrar com Putin “muito em breve” e o Kremlin anunciou na segunda (17) que uma reunião entre autoridades russas e estadunidenses está marcada para terça em Riade, na Arábia Saudita. A reunião, confirmada pelos Estados Unidos, tentará “restaurar” as relações entre Moscou e Washington e abordar “possíveis negociações sobre a Ucrânia”, segundo a Presidência russa.
O Departamento de Estado dos EUA insistiu, no entanto, em que Washington não considera a reunião como o início de “negociações” sobre a Ucrânia. Diante do anúncio do encontro entre Rússia e Estados Unidos em Riade, Zelensky repetiu nesta segunda (17) que o seu país “não reconhecerá” nenhum acordo concluído sem ele sobre seu futuro e criticou o fato de que Kiev não foi informada sobre as conversas. O chefe de Estado ucraniano viaja para a Arábia Saudita na quarta-feira (19).
O contato entre os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos foi um dos principais tópicos da Conferência de Segurança realizada no fim de semana em Munique, onde Zelensky se encontrou com o vice-presidente estadunidense J.D. Vance e pressionou seus aliados europeus a reforçarem sua unidade e os instou a criar um Exército europeu.
*Com AFP