O secretário de Estado Marco Rubio afirmou nesta terça-feira (18) na capital da Arábia Saudita, Riade, que o governo dos Estados Unidos aspira uma solução “justa” e “duradoura” para a guerra na Ucrânia, que deve ser “aceitável” para todas as partes. Após uma reunião com o chanceler russo Serguei Lavrov, Rubio se declarou “convencido” de que a Rússia está disposta a iniciar um “processo sério” para acabar com a guerra.
“Para que um conflito termine, todos os envolvidos têm que estar de acordo, tem que ser aceitável para eles”, afirmou Marco Rubio.
Ele e seu colega russo, Serguei Lavrov, decidiram nomear equipes “de alto nível” para negociar o fim do conflito na Ucrânia, anunciou o Departamento de Estado americano. Rubio e Lavrov concordaram em “nomear suas respectivas equipes de alto nível para começar a trabalhar em uma via para colocar fim ao conflito na Ucrânia o mais rápido possível de uma forma duradora, sustentável e aceitável para todas as partes”, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce.
Outros atores
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu, nesta terça (18), negociações “justas” que incluam a União Europeia (UE), o Reino Unido e a Turquia, após a reunião entre Rubio e Lavrov.
“Ucrânia, a Europa em um sentido amplo – isto inclui União Europeia, Turquia e Reino Unido – deveriam participar das negociações e da elaboração das garantias de segurança necessárias com Estados Unidos sobre o destino de nossa parte do mundo”, declarou Zelensky em visita à Turquia.
Isolamento
A Arábia Saudita, isolada por um tempo após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, está de volta à arena internacional ao sediar a reunião de alto nível desta terça, segundo especialistas. O encontro redefiniu as relações entre Moscou e Washington e abre caminho para as negociações sobre a guerra na Ucrânia e uma reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu contraparte russo, Vladimir Putin.
A possibilidade de a Arábia Saudita sediar uma reunião entre os dois líderes ocorre depois que o Catar, arquirrival do reino, foi elogiado por sediar negociações que levaram a um acordo de trégua entre Israel e o movimento islamista Hamas em Gaza.
“É um grande impacto para a Arábia Saudita: ver as duas superpotências se reunindo em Riade para resolver suas diferenças […] dá prestígio e confirma o poder brando do reino”, diz Ali Shihabi, conselheiro do governo saudita.
A capital do reino também sediará uma cúpula árabe na sexta-feira para discutir a resposta à ideia de Trump sobre Gaza, reunindo os líderes dos seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), além do Egito e da Jordânia.
Antes da guerra na Ucrânia, que começou com a ofensiva russa em fevereiro de 2022, Riade havia sido afastada do cenário internacional após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, que causou um choque global.
“A Arábia Saudita conseguiu tirar proveito das contradições e do confronto entre o Ocidente e a Rússia na crise ucraniana, especialmente na questão do petróleo, sem perder nenhum de seus aliados, sejam eles ocidentais ou russos. Isso ajudou a tirar o país do isolamento que lhe foi imposto após o caso Khashoggi”, diz Rabha Seif Allam, do Centro de Estudos Políticos e Estratégicos Al Ahram, no Cairo.
Aliado histórico dos Estados Unidos, a Arábia Saudita, um peso pesado do Oriente Médio e o maior exportador de petróleo do mundo, evitou se posicionar sobre a guerra na Ucrânia. Riade mantém relações estreitas com Moscou em relação à política de petróleo, ao mesmo tempo em que promete centenas de milhões de dólares em ajuda humanitária a Kiev.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky foi recebido várias vezes na capital saudita, principalmente em uma cúpula da Liga Árabe em Jeddah em maio de 2023 e em uma reunião em junho com o príncipe herdeiro e líder de fato do reino, Mohammed bin Salman.
Zelensky chegará a Riade na quarta-feira (19) para uma visita oficial “há muito planejada”, de acordo com seu porta-voz, que disse que nenhuma reunião com autoridades russas ou americanas estava prevista.
O reino sediou negociações sobre a guerra na Ucrânia em agosto de 2023, que reuniram mais de 40 países, mas sem a participação da Rússia.
*Com AFP