Alunos e professores estão sentindo os efeitos do calor extremo nas salas de aula de todo país neste início de ano letivo. No Rio de Janeiro, segundo a Secretaria de Educação (Seeduc), das 1.234 escolas estaduais, 200 estão sem ar-condicionado. No caso das escolas sem climatização, o governo Cláudio Castro (PL) autorizou às pressas a redução da carga horária no mês de fevereiro para atenuar a crise.
A nova diretriz foi enviada na semana com recorde de temperatura e a cidade entrou no nível 4 de calor, quando as temperaturas atingem de 40°C a 44°C. Entre as orientações, a Seeduc recomenda consumo de líquidos, preparo de alimentos mais leves para a merenda escolar e evitar atividades ao ar livre.
Para o deputado estadual Flavio Serafini (Psol), da Comissão de Educação da Alerj, a medida é importante para preservar a saúde de estudantes e educadores neste momento de calor extremo, mas não resolve o problema. Ao Brasil de Fato, o parlamentar afirmou que o governo precisa se planejar agora, ou os alunos vão sofrer as mesmas consequências no próximo verão.
"A suspensão das aulas é porque é impossível ter aula a temperaturas de até 50ºC de sensação térmica. O governo do Estado precisa se planejar para que as mesmas escolas não tenham que suspender as aulas novamente. O que a gente está assistindo é a reprodução de uma desigualdade na educação. Os mesmo alunos vão ficar sem aula, sofrer com calor e ter perda na qualidade do ensino porque a secretaria de Educação não se planeja para garantir o direito à educação em condições adequadas", argumentou Serafini.
A orientação da Seeduc prevê que nas escolas com inoperância do sistema de climatização, a carga horária presencial poderá ser reduzida em até 50%, ou rodízio de turmas nas salas de aula refrigeradas. Neste caso, as escolas deverão prover, preferencialmente, o conteúdo pedagógico por meio de recursos tecnológicos.
Climatização
Um relatório produzido pelo mandato do deputado Serafini identificou que a capacidade elétrica das escolas é um dos principais obstáculos para a climatização, que pode gerar uma demanda superior à carga suportada. Nesta quarta (19), o parlamentar protocolou na Alerj um projeto de lei que institui a transição energética nas unidades escolares da rede pública de ensino do Rio de Janeiro.
O objetivo é promover uma transição progressiva da matriz hídrica/elétrica para solar nas escolas, visando a sustentabilidade energética, ambiental e econômica, com a instalação de sistemas fotovoltaicos.
A deputada estadual e professora Elika Takimoto (PT) discursou no plenário sobre as condições precárias de infraestrutura que impactam toda comunidade escolar. "Estamos com alunos e profissionais da educação passando mal nas escolas. Imagina, nesse calor, tem escolas que sequer o ventilador está funcionando", denunciou Elika.
"Sempre que a gente fala de alfabetização ou de ensino e aprendizagem, é bom falar que a gente precisa ter condições adequadas para isso: salas de aula climatizadas e professores recebendo piso", concluiu.
Canal de denúncias
O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE-RJ) está recolhendo informações sobre escolas sem climatização ou com aparelhos de ar-condicionado quebrados. O formulário é aberto para denúncia de professores, pais, alunos e responsáveis nas escolas estaduais e municipais. Acesse neste link.
Ao Brasil de Fato, Graciete Nunes, diretora de Imprensa do Sepe RJ, ressaltou que a luta do sindicato pela climatização nas escolas estaduais e demais redes é antiga. "Os agentes do governo afirmam que o problema não é falta de aparelhos, mas com a rede elétrica, o que para nós é incompreensível. Cientes de que existe a demanda para adequação da rede elétrica para garantir a climatização, por que isso ainda não foi feito? Os efeitos da onda de calor poderiam ter sido evitados se o governo estadual estivesse atento às reais demandas das unidades escolares", destacou.