“O Judiciário, depois de tudo isso, está desacreditado”, avalia Rogério Favreto, desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sobre o impacto da operação Lava Jato na Justiça brasileira.
Para ele, as ações da Lava Jato prepararam o caminho para a tentativa de golpe que visava barrar a posse de Lula em 2023. “Eles contribuíram para que a extrema direita, os setores fascistas, tomassem conta”, avalia o desembargador, que classifica a Lava Jato como uma “organização política”.
A análise foi apresentada na noite desta terça-feira (18) em um evento de homenagem ao desembargador, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e pelo Grupo Prerrogativas.
“Como é que o cidadão comum – que quando tinha um litígio dizia ‘vou te pôr na Justiça’ – ele vai acreditar se ele diz ‘ué, mas se estão falando que o juiz é impedido, é suspeito, é incompetente’. Isso é o estrago que eles produziram dentro do sistema de Justiça”, diz.
“Tinha um propósito de política partidária. A gente vê o ex juiz [Sérgio] Moro, mal terminou a eleição do Bolsonaro, ele já estava se exonerando, já estava com um ministério”, ressalta.
Inserido em grupos bolsonaristas
No evento, realizado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Favreto relembrou os dias posteriores à assinatura do habeas corpus, quando foi incomodado por milhares de mensagens e ligações após ter seu contato número de celular vazado. “Divulgaram foto do meu perfil, foto minha com meu filho, eu tinha um filho de três anos”, conta.
Ele foi inserido em grupos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), onde era alvo de perturbações e ameaças. “Aí eu não conseguia mais falar no telefone”, lembra.
Embora estivesse no centro das ameaças, o desembargador ressalta que a maior dificuldade daquele momento foi saber que a mãe e a filha também estavam sofrendo com a repercussão do caso.
“A minha mãe sofrendo com aquilo, porque ela conhece o filho”, lembra. Ele conta que a mãe se incomodava ao ver as diversas mensagens “me chamando de corrupto (…) é corrupto, é ladrão (…) E minha filha sendo nas redes sociais linchada”, diz.
A exposição exigiu mudanças na rotina. Favreto precisou trocar o número de celular e evitar eventos públicos. “Teve tempos que eu tive que recusar homenagens. Eu tive que submergir, primeiro por cuidados mesmo e em segundo porque eu tinha que fazer uma estratégia de defesa”, relembra.