A programação de aniversário pelos 45 anos do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio de Janeiro teve início nesta sexta-feira (21). Na parte da tarde, ocorreu o debate “COP30 e o desenvolvimento inclusivo”, com a presença do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) Jorge Viana.
Em sua fala, o ex-senador retomou que a Conferência do Clima, realizada no Rio em 1992, marcou o início das tratativas globais sobre o meio ambiente. À época, o entendimento das nações sobre os efeitos do que viria a se denominar crise climática ainda era pouco conhecido, porém o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi ali identificado como tema universal.
“Fidel Castro estava aqui, era governo Collor, mas o tema era universal e os países do mundo todo chegaram a conclusão que precisavam de uma ação coordenada para enfrentar um negócio que ninguém conhecia direito ainda, aquecimento global ou coisa parecida”, relembrou Jorge Viana no debate.
Em entrevista ao Brasil de Fato após a mesa, Viana afirmou que, 30 anos depois, o desafio da COP em Belém é incluir a população que vive na Amazônia na repartição dos benefícios da agenda ambiental, a começar pelo pagamento dos serviços ambientais prestados pelos povos originários.
“Se a gente não melhora economicamente, não dá oportunidade para atividades sustentáveis, o que vai prevalecer é o discurso anti-ambientalista. A gente tem uma contaminação dessa agenda na sociedade. Hoje a ampla maioria dos prefeitos e câmaras municipais não tem compromisso com a agenda ambiental, isso na Amazônia brasileira. Defender o meio ambiente é defender uma economia sustentável e que mude a vida das pessoas”, afirmou o ex- governador do Acre
Viana também abordou o desafio da produção de alimentos na crise climática, a proposta de exploração de petróleo na Foz do rio Amazonas e a conjuntura internacional com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
A comemoração dos 45 anos do PT, com o tema “Raízes no Povo. Olhos no Futuro”, acontece no Rio de Janeiro nesta sexta (21) e sábado (22) com extensa programação de debates sobre o futuro do partido, a COP30 e experiências de partidos progressistas latino-americanos. Mais de 50 autoridades e lideranças políticas participam do evento no Armazém 3 do Píer Mauá, na zona portuária carioca.
Confira os principais pontos da entrevista com Jorge Viana:
Expectativa para a COP
É um momento histórico fazer no Brasil a COP30 decisiva para o financiamento da descarbonização e apoiamento para os países em desenvolvimento. São 30 depois da Rio 92 onde se definiu onde teríamos as COPs. Se decidiu que ou teríamos uma conferência anual dos países para pensar o planeta, ou as coisas não dariam certo.
As COPs aconteceram, mas acho que o dever de casa ainda não foi feito. O Acordo de Paris foi importante, mas o financiamento não veio. Em Baku prometeram $ 300 bi por ano, mas isso também não acontece. E no Brasil teremos a COP30 em Belém que pode de fato ser uma virada de chave.
A Amazônia é a região de maior biodiversidade no planeta. Temos um governo que acredita que nós estamos vivendo uma crise climática. O governo anterior rejeitou sediar a COP e isso prejudicou a imagem do agronegócio, da agricultura, do Brasil no mundo, mas isso é passado.
Região norte
O desafio é como nós vamos fazer dessa COP uma fase de esperança e mudança para os 30 milhões de amazônidas, que como eu, vivemos lá. Temos que ver como fazer a repartição de benefício. A Amazônia tem uma população penalizada e um jeito de mudar isso é ter pagamento pelos serviços ambientais que os povos originários fizeram e repartir os benefícios do que vai ser feito.
Se a gente não melhora economicamente, não dá oportunidade para atividades sustentáveis, o que vai prevalecer é o discurso anti-ambientalista. A gente tem uma contaminação dessa agenda na sociedade. Hoje a ampla maioria dos prefeitos e câmaras municipais não tem compromisso com a agenda ambiental, isso na Amazônia brasileira. Defender o meio ambiente é defender uma economia sustentável e que mude a vida das pessoas. Deposito minha confiança em alguns governos como do Amapá, do Pará, e no governo federal.
Foz do Amazonas
O problema é que o Brasil já é um grande exportador de petróleo. Não é uma discussão se o Brasil vai explorar ou não, o país já é um grande produtor de Petróleo. O problema é que temos o pré-sal já indo embora, em 2030, e vamos pôr o que no lugar? O mundo ainda está em transição, nós temos uma matriz limpa, biocombustíveis. O Brasil é exemplo de energia sustentável. Nós não vamos sair desse mercado.
A Petrobras explorou o pré-sal 7 mil metros de profundidade no mar na frente da mais querida cidade do Brasil e do mundo, Rio de Janeiro, e nunca tivemos problema. A margem equatorial fica no alto mar, empresas do mundo inteiro estão explorando a 50km de distância. Acho que precisamos de pragmatismo e isso não significa minimizar a proteção do meio ambiente. Sou engenheiro florestal, fui relator do Código Floresta, meu compromisso numero um é com meio ambiente. Mas o mundo e o Brasil vivem ainda a era do petróleo porque estamos numa transição.
Desafio global
A saída dos Estados Unidos do Acordo do Clima é muito grave, estamos falando do país responsável por 15% das emissões. Espero que se encontre uma solução porque é a vida do planeta que está ameaçada e toda atividade econômica. A subida de preços do café, do algodão, a situação de algumas commodities é vinculado a crise climática. O Vietnã perdeu quase 20% do seu café, os Estados Unidos perdeu primeiro lugar de exportador de algodão para o Brasil pela crise climática.
Nós estamos tendo problemas aqui pela crise climática. Ninguém regula mais a chuva e a seca, elas se intensificaram de tal maneira que está afetando a segurança alimentar. Isso é muito sério, e não é uma questão ideológica, é de vida no planeta.
Essa COP precisa vir com esse sentido de fazer inclusão social, repartição de benefícios, pagamento de serviços ambientais. Mas também no viés econômico, ninguém vai aguentar a crise de custo de produzir alimentos no mundo no meio de uma crise climática.
Guerra tarifária dos EUA
O Brasil tem que ser pragmático, negócios à parte. O maior parceiro comercial do Brasil é a China e o melhor são os Estados Unidos. Um são os 150 bi de dólares da China que a gente exporta três commodities , 80%. Para os Estados Unidos temos um fluxo de $ 50 bi, que quase $ 30 bi são de produtos industrializados, isso gera emprego aqui.
Não podemos criar problema com bons parceiros comerciais. O governo passado brigou com a Argentina, com a China, fazia desdém poque não gostava do modelo de governo que tinha nesses países. O governo Lula é pragmático, não briga com ninguém e quer fazer parte da solução. Se eles estão tarifando aço, em algum lugar eles vão ter que comprar. O mundo está tencionado, mas o Brasil não precisa estar no meio desse furacão.