A Venezuela recebeu nesta quinta-feira (20) 177 deportados pelos Estados Unidos da Base Naval de Guantánamo, em Cuba. Os venezuelanos chegaram em um voo da estatal Conviasa depois de fazer uma escala em Honduras. Esse retorno partiu de um pedido de Caracas para a libertação dos “presos injustamente”.
Essa é a segunda leva de deportados que a Venezuela recebe dos EUA. Há duas semanas, um voo da Conviasa chegou a Caracas com 190 pessoas. Assim como naquela ocasião, os venezuelanos foram recebidos pelo ministro do Interior, Diosdado Cabello. Ele agradeceu a colaboração do governo hondurenho por apoiar na logística e disse que, por serem deportados que estavam presos na base militar estadunidense de Guantánamo, foi necessária uma negociação específica com a Casa Branca.
De acordo com o governo, os venezuelanos que voltaram também passaram por um processo de checagem sobre a ficha criminal. Do total, 38 foram identificados com vínculo com algum tipo de crime, mas não foram enquadrados como “procurados”.
“É preciso lembrar que já tínhamos recebido 190 colegas. Será iniciado um processo de exame médico e identificação, caso haja alguém com antecedentes policiais. Todas as agências de segurança, psicólogos e médicos os ajudarão. A primeira onda foi realizada de maneira perfeita, em coordenação com todas as agências do Estado”, afirmou.
Já o Departamento de Segurança Nacional dos EUA afirmou que, entre os deportados, 126 pessoas tinham alguma condenação penal. A Casa Branca disse também que 80 estariam vinculados ao grupo criminoso Trem de Aragua. O governo venezuelano tem negado a participação dos deportados na facção e disse já ter desmantelado a atuação do grupo na Venezuela.
De acordo com Cabello, uma pessoa do grupo foi identificada com um código vermelho por um crime que cometeu no Equador. A Interpol do Equador solicitou a prisão e ele deve ser julgado pela lei venezuelana. “Vamos pedir ao Equador que envie o processo que tem contra essa pessoa”, afirmou o ministro.
Ainda de acordo com Washington, 51 dos deportados não têm antecedentes criminais. O retorno vem na esteira de uma ação judicial promovida pela União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU). A organização pedia que os migrantes que estão sendo levados para a base naval dos EUA na Baía de Guantánamo fossem liberados, já que estavam sem direito a advogados.
O retorno dos venezuelanos foi acordado entre Caracas e Washington. A Casa Branca enviou no final de janeiro Richard Grenell para uma reunião privada com o presidente Nicolás Maduro.
Venezuela e EUA estabeleceram o compromisso de fazer uma “agenda zero” – ou começar do zero, sem ressentimentos – para as relações bilaterais entre os dois países. A Venezuela reiterou o objetivo de restabelecer as relações com os Estados Unidos com base no “respeito à autodeterminação” e com mecanismos de cooperação direta nos âmbitos policial e judicial, para “combater o crime organizado”.
O acordo entre as partes ainda envolveu a liberação de 6 estadunidenses presos em território venezuelano por participarem de planos para matar tanto o presidente quanto a vice, Delcy Rodriguez. Richard Grenell disse que, além deles, ainda há outros 6 estadunidenses presos na Venezuela.
Nove dias após assumir o mandato, o presidente dos Estados Unidos derrubou o status de Proteção Temporal (TPS, na sigla em inglês) para venezuelanos. A medida garantia que os migrantes venezuelanos poderiam morar e trabalhar no país até outubro de 2026.
Segundo a chancelaria venezuelana, foi determinado que os deportados teriam seus direitos respeitados e, por isso, o governo ofereceu a ida de aeronaves para os EUA para buscar os venezuelanos que estão em território estadunidense. A exigência de Caracas se deu porque, no final de janeiro, 88 brasileiros chegaram a Manaus vindos dos Estados Unidos e o governo brasileiro questionou o tratamento dado aos deportados, que viajaram algemados e tiveram problemas com alimentação e agressões no voo.
Ao todo, 600 mil migrantes da Venezuela moram nos Estados Unidos de maneira irregular e podem ser afetados com a decisão.