O ex-presidente da Bolívia Evo Morales anunciou nesta quinta-feira (20) que participará das eleições do país em 2025 pelo partido Frente para a Vitória (FPV). Com isso, o ex-mandatário deixará o Movimento Al Socialismo (MAS) de maneira definitiva, depois de fundar a sigla há 28 anos.
A decisão de Evo também desafia uma decisão da justiça eleitoral do país. O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decretou, em dezembro de 2023, que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.
“Já temos o partido para participar das eleições deste ano Agora, com a Frente para a Vitória, venceremos as eleições nacionais novamente”, afirmou Evo em uma coletiva de imprensa para anunciar a decisão. De acordo com o FPV, a chapa que disputará as eleições ainda será definida.
Segundo o professor de ciência política da Universidade Mayor de San Andrés Franklin Pareja, a medida de Evo coloca uma grande pressão sobre a Justiça do país, que terá de tomar novas decisões até o pleito, marcado para 17 de agosto. Ele afirma também que é uma jogada política por parte do ex-presidente para retomar uma força que foi colocada em xeque, mas que acaba rachando a própria esquerda boliviana de maneira mais abrupta.
“Evo Morales é mais uma vez um ator político muito importante, não necessariamente como candidato, embora isso não esteja descartado, mas tem capital político e se conseguir fazer uma aliança com um partido que lhe permita competir, sem dúvida conseguirá algumas situações que podem ser, primeiro, a fratura do campo de esquerda e segundo a recuperação do poder de Evo e obviamente ter uma posição mais vantajosa que Luis Arce”, disse ao Brasil de Fato.
Evo foi eleito presidente do MAS em janeiro de 1999 e na liderança da sigla chegou à presidência do país em 2006, ocupando o cargo até 2019, quando sofreu um golpe.
O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia já havia reconhecido em novembro Grover García como presidente do MAS. Com isso, o ex-presidente Evo Morales perdeu a liderança da sigla depois de 25 anos em meio a uma disputa política interna com o atual chefe do Executivo, Luis Arce.
A decisão ocorreu depois do congresso realizado pelo MAS na cidade de El Alto. O evento foi organizado em maio por grupos ligados a Arce e deu a vitória ao atual presidente na disputa pelo partido. A decisão foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) só em 14 de novembro. A partir disso, o TCP orientou a decisão da Justiça Eleitoral. Evo rebateu a decisão e disse que se trata de uma apropriação do movimento indígena e que isso é “um sequestro que leva a um genocídio político”.
O FPV, no entanto, também foi impedido de participar das eleições pelo TSE por supostas irregularidades na eleição de sua diretoria.
Disputa com Arce
O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo depois de voltar do exílio na Argentina em 2020. Morales começou a criticar algumas decisões de Arce e seus apoiadores e disputar espaço pela candidatura do Movimento Al Socialismo (MAS) nas próximas eleições presidenciais, do ano que vem.
O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando apoiadores de Morales organizaram um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é seu berço político e reduto eleitoral. No evento, ele chamou os apoiadores de Luis Arce de “traidores”.
Neste mesmo evento, o MAS determinou a expulsão de Arce do partido, já que ele, como representante da sigla no Executivo, não compareceu ao congresso.
Evo investigado
Morales também é acusado de “estupro e tráfico de pessoas” por manter relações com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente e, de acordo com a denúncia, ele teria tido uma filha com a adolescente em 2016. O ex-presidente da Bolívia não compareceu para depor na Delegacia Geral de Polícia de Tarija.
O ex-mandatário ainda foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens de 14 a 15 anos para ter a sua disposição enquanto era presidente. O ministro disse que esse grupo seria chamado de “Geração Evo”. Os pais da jovem também estariam sendo investigados porque supostamente receberam dinheiro ao entregá-la ao ex-presidente em troca de favores.
De acordo com a lei boliviana, caso ele não se apresentasse para depor, a Justiça poderia determinar uma ordem de captura para que Morales deponha. César Siles reforçou que Evo estaria sujeito à prisão caso não comparecesse.
O objetivo da defesa do ex-presidente é transferir o julgamento para Cochabamba, cidade onde vive Evo Morales, usando um artigo do Código de Processo Penal que faz referência ao “juízo natural”, ou seja, o direito de ser processado na jurisdição em que vive. Para o advogado Jorge Pérez, o processo “nasceu morto” por ter sido encerrado em 2020.
Evo Morales criticou a investigação, dizendo que as acusações são “inventadas” e têm como objetivo forçar um processo criminal.