Dois dias de expectativa na redação do Brasil de Fato (e acho que em todas): “Vai sair a denúncia”; “Vai ser às 12h, depois às 15h, às 18h… ah devem ter deixado pro horário do Jornal Nacional”. Dito e feito, perto das 21h da última terça-feira, a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por participação na articulação de uma tentativa de golpe de Estado veio a público. Frenesi e correria para soltar as matérias que ansiamos muito para divulgar.
Daí em diante, seguimos acompanhando o passo a passo da denúncia, a repercussão pública e as declarações dos acusados. Bolsonaro, inclusive, pediu 83 dias para entregar sua defesa. Moraes (ou seria Xandão?) negou. Especialistas apontam que o ex-presidente está preocupado com a possibilidade de ser julgado pelo Superior Tribunal Federal.
Nosso podcast de política, o Três por Quatro, conversou com o advogado criminalista e coordenador do grupo Prerrogativas, Bruno Salles Ribeiro, que apontou diferenças entre a prisão do presidente Lula em 2018, baseada apenas na delação de Leo Pinheiro, e a atual possibilidade de prisão do ex-presidente de extrema direita que é baseada “em uma profunda e minuciosa investigação”.
Lula também não perdeu tempo em comentar o acontecimento da semana. Em entrevista a uma rádio do Rio de Janeiro ontem apontou: “As pessoas que ficam querendo antecipar uma discussão sobre anistia estão se acusando. Quando o ex-presidente fica pedindo anistia, está provando que é culpado, que cometeu crime. Ele deveria estar falando ‘vou provar minha inocência’”.
E o que não faltou esta semana foram repercussões. A esquerda aproveitou uma pauta favorável e soltou o verbo, chamando cada vez mais atenção para a denúncia. A deputada federal pelo PCdoB Jandira Feghali foi uma dessas vozes.
“É a primeira vez no Brasil que golpistas serão punidos. Isso não é algo para a gente considerar secundário ou simples. As anistias anteriores, particularmente a da ditadura militar – que foi dada a presos políticos, mas também a torturadores –, deixou aí todos os filhotes desses torturadores, que tentaram dar um novo golpe. Então, pensar hoje em anistia é um contrassenso, porque se há algo a comemorar neste momento, é a possibilidade de o Brasil, através das suas instituições, pela primeira vez punir responsáveis por golpes. Esta será a primeira vez, se o julgamento de fato considerar todas as provas, a colocar no banco dos réus e condenar essas pessoas e, particularmente, seu comandante, Jair Bolsonaro”.
A agitação em torno de uma possível condenação de Bolsonaro foi o principal tema das redes sociais na esfera política: declarações e memes brotaram.
Talíria Petroni, deputada federal do Psol, foi uma delas. “Vamos aos crimes de Bolsonaro que constam na denúncia enviada pela PGR ao STF: liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, deterioração de patrimônio tombado. Além disso, a PGR afirmou que Bolsonaro foi o líder da organização que tentou derrubar a democracia no Brasil”.
Por aqui, seguiremos acompanhando e cobrindo o desenrolar do processo. Com um olho no STF e outro em algumas embaixadas. Essa denúncia da Procuradoria Geral da República foi uma importante sinalização que golpistas não passarão.
Não tem anistia para quem ataca a república e a democracia. Todos ainda estamos aqui, vigilantes. E contamos com o seu apoio para seguir noticiando qualquer tentativa de golpe que prejudicaria nossa sociedade que defendemos. Apoie o Brasil de Fato.
Ainda estamos aqui.
*Monyse Ravena é Coordenadora de áudio e vídeo do Brasil de Fato