A surpreendente votação da esquerda radical alemã pode representar o último entrave para barrar no Parlamento projetos de lei que prejudiquem ou aumentem a repressão contra migrantes. A opinião a respeito do partido Die Linke é da ativista alemã Francesca Kleiner do Zetkin Forum for Social Research, uma plataforma para estimular o debate progressista.
“O Die Like poderia, em essência, dizer ‘somos os únicos, somos a única alternativa para não ter leis mais rígidas contra os migrantes, para não ter mais repressão dentro do país’ No final, eles fizeram esse jogo e também apelaram para os eleitores jovens”, disse Kleiner ao Brasil de Fato nesta segunda-feira (24).
Considerado um partido nanico até pouco antes das eleições, o Die Linke ultrapassou nas urnas os 5% dos votos necessários para integrar o Parlamento alemão, ou Bundesteg. O partido recebeu quase 4,5 milhões de votos, ou 8,77% do total, o que dará direito a 64 cadeiras da próxima legislatura.
Ela diz que o crescimento do Die Linke aconteceu por ser o único partido que se posicionou claramente contra a extrema direita, representada pela AfD – que teve expressivos 20% dos votos e 152 cadeiras no Parlamento, enquanto todos os outros foram puxados para a direita, inclusive os verdes. A ativista calcula que os parlamentares do Die Linke podem nos próximos quatro anos ser os fieis da balança em votações que barrem projetos reacionários.
Mas Kleiner diz que, se internamente o Die Linke foca em pautas caras à esquerda, como proteção de minorias e bem estar social, em termos de política externa o partido deixa a desejar. Entre os temas mais sensíveis, a Otan (aliança militar ocidental) e o genocídio palestino.
“O Die Linke na verdade não tem sido um aliado muito bom para nossas causas comuns, o que nós ou o Sul Global consideraríamos causas de esquerda. Então, resta ver como eles se posicionarão nessas questões fundamentais muito importantes para as pessoas do mundo, para as classes trabalhadoras do mundo”, conclui.
As eleições legislativas alemãs deste ano representaram mudanças profundas na política do país, na opinião de Brian Becker, estadunidense do Partido para o Socialismo e a Libertação (PSL). Ao Brasil de Fato, Becker afirma que o pleito foi “uma ruptura com o que foi adotado no final da Segunda Guerra Mundial”.
“A Alemanha, a classe dominante capitalista e as elites políticas foram revividas sob o domínio dos Estados Unidos, mas havia certos sinais vermelhos, como nenhum partido fascista ter permissão para disputar votos na Europa.”
Logo no primeiro dia após a confirmação de sua eleição, Merz disse que, a despeito da existência de um mandado de prisão contra Benjamin Netanyahu pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), o premiê israelense pode visitar a Alemanha.
“Caso ele queira visitar a Alemanha, eu me comprometi a encontrar uma maneira de garantir que [Netanyahu] possa visitar a Alemanha e sair sem ser preso”, disse Merz em uma coletiva de imprensa em Berlim. Netanyahu é alvo de uma ordem de prisão do TPI emitida no final de novembro de 2024 por crimes contra a humanidade e crimes de guerra na Faixa de Gaza.
O TPI é encarregado de processar e julgar pessoas acusadas de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Ao analisar as perspectivas do novo governo alinhado à direita, Francesca Kleiner não é otimista: “acreditamos que, infelizmente, esse será um período muito difícil. Serão quatro anos muito difíceis para o povo e para as classes populares na Alemanha, com certeza.”