O interior de Pernambuco guarda manifestações únicas do Carnaval. Em Nazaré da Mata, o maracatu rural brilha com os caboclos de lança; em Pesqueira, no agreste, se destacam os caiporas; em Bezerros, também no agreste, os papangus desfilam suas máscaras e fantasias coloridas; enquanto em Triunfo, no sertão, os caretas encantam com suas performances e trajes. As tradições atravessam gerações, preservam a cultura e a identidade local, além de movimentarem a economia das comunidades.
Robeval Lima, carnavalesco e artista plástico, conta que a tradição dos papangus já ultrapassa os 100 anos. “Desde criança eu via meus pais, avós e tios fazendo as máscaras de barro no fundo do quintal. Eles iam à beira do rio buscar argila e eu ficava curioso. Com o tempo, aprendi e sigo trabalhando com os Papangus, levando essa cultura pelo Brasil e fora do país”, relata.
Já em Triunfo, Wesley Allef Rodrigues, conhecido como Lêu do Alto, explica que os caretas nasceram de um grupo de reisado por volta de 1917. “Infelizmente, não temos uma data exata, mas o personagem já tem cerca de 128 anos. Ele é parte da identidade da nossa cidade”, diz.
As manifestações culturais não são só celebração – elas também são um motor econômico para os municípios. Lêu do Alto ressalta que os caretas são feitos pelos próprios moradores. “Quem faz o careta é o pedreiro, o pintor, a dona de casa, a criança. É uma brincadeira que enriquece a cidade, porque os moradores gastam com enfeites e materiais para os trajes. Se essa tradição acabar, o visitante virá a Triunfo só pelos pontos turísticos e não pela cultura viva”, afirma ele.
Assista abaixo à entrevista completa.
Em Bezerros, Robeval destaca que os papangus atraem mais de 10 mil turistas ao ano, que movimentam o comércio local. “Os artesãos já estão com as máscaras vendidas antes mesmo do carnaval. E não é só na época da festa: durante o ano inteiro, turistas compram máscaras para decoração ou como lembrança. Isso gera renda para artesãos, para quem vende tecidos e gira a economia da cidade”, explica o artista.
Mas manter as tradições e preservar a memória não é tarefa fácil. Lêu menciona a falta de apoio do poder público para documentar a história dos caretas. “Meu pai, que era mestre do grupo, conseguiu reunir algumas informações, mas ainda precisamos de mais registros para preservar essa tradição”, explica.
Robeval, que coordena a Estação da Cultura em Bezerros, fala sobre a importância de preservar a história dos papangus. “Criamos um museu para mostrar as etapas de confecção das máscaras e fantasias, desde as mais antigas até as atuais. Queremos que os turistas conheçam o papangu não só no carnaval, mas o ano todo”, diz ele.
O que torna esses carnavais tão especiais? Para Lêu, é a energia única de Triunfo. “A cidade é aconchegante. E ver o pátio cheio de caretas, com o barulho dos chocalhos e a alegria das pessoas é uma emoção indescritível. Só participando para entender”, afirma. Já Robeval destaca a programação intensa em Bezerros. “Desde janeiro temos prévias de carnaval, com orquestras e blocos. No sábado de Zé Pereira tem o baile municipal com fantasias. No domingo, o grande bloco dos Papangus. E ainda temos concursos de fantasias para adultos e crianças”, conta.
Os papangus e os caretas são mais que personagens carnavalescos: são símbolos de resistência cultural, que mantêm viva a história e a identidade de Bezerros e Triunfo. Para quem quer fugir dos grandes centros e vivenciar um carnaval autêntico, essas manifestações são um convite para conhecer algumas raízes culturais do Nordeste.