O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta neste final de semana sobre a terceira onde de calor que deve chegar ao Rio Grande do Sul. De acordo com a entidade, as temperaturas elevadas devem seguir até esta quarta-feira (26). A MetSul Meteorologia ressalta que a atual onda será a mais longa e deve seguir no mês de março. Temperaturas podem ultrapassar 40ºC.
A primeira onda de calor foi registrada em janeiro, entre os dias 17 e 23, enquanto a segunda ocorreu entre os dias 2 e 12 de fevereiro. Segundo alerta a MetSul, o mês de fevereiro terminará com mais uma onda de calor que trará tardes escaldantes de temperaturas muito acima da média. “Em algumas regiões do estado devem ficar próximas, ao redor e acima dos 40ºC, com possibilidade de as temperaturas muito altas persistirem durante a primeira semana do mês de março.”
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Conforme expõe a Metsul, nesta terça e quarta devem ser os dias mais quentes desta nova onda, com máximas ao redor e acima de 35ºC na maioria dos municípios do estado, mas perto e acima de 40ºC em alguns. Na quinta-feira (27), estão previstas pancadas de chuva que podem impedir máximas muito altas em pontos da Metade Sul, entretanto na Metade Norte pode seguir ainda bastante quente com calor excessivo.
“Esta segunda onda de calor de fevereiro está associada a uma bolha de calor entre a Argentina, Uruguai, Paraguai e o Rio Grande do Sul, afetando ainda parte de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul”, aponta a Metsul.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma onda de calor é caracterizada quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em 5°C ou mais a média mensal durante, no mínimo, cinco dias consecutivos. Uma bolha de calor, complementa a Metsul, também conhecida como domo ou cúpula de calor, é um fenômeno meteorológico caracterizado por uma área de alta pressão que permanece estacionada sobre uma região por dias ou até semanas.
Período prolongado de calor
Na primeira onde de calor de fevereiro o Rio Grande do Sul vivenciou a maior temperatura oficialmente registrada nos últimos 115 anos, de acordo com o Inmet. A cidade de Quaraí chegou a registrar 43,8ºC, já Porto Alegre 37,3ºC.
Ao Brasil de Fato RS, a meteorologista e sócia-diretora da MetSul Meteorologia, Estael Sias, aponta que não há expectativa que a atual onda de calor seja mais intensa do que última, que teve recorde de mais de 100 anos. “Mas teremos uma longa sequência de dias quentes. Ainda podemos ter alguma revisão de cenário para o começo de março. Porque a continuidade do calor do ar quente pode, muitas vezes, na medida em que vai avançando os dias, enxergarmos melhor o começo de março, que pode ter marcas ao redor de 40°. E quem sabe alguma situação de recorde para o mês de março comparando com março de anos anteriores”, expõe.
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Sobre o que diferencia a atual onda das anteriores, Sias chama atenção para o período prolongado, com alternância de dias escaldante, outros dias nem tanto. “A sequência de dias com calor intenso, oscilando um pouco, intensidade, entre os dias de chuva, de instabilidade, de nuvens. No termômetro, a temperatura sobe menos, embora a sensação de mormaço, de abafamento e desconforto siga muito grande, porque temperatura alta com umidade alta gera um desconforto maior.” Ela reforça que, em geral, o calor se sustenta até o mês de março.
Ao ser indagada sobre o que pode estar provocando as ondas de calor, Sias pontua que parte da explicação está por estarmos no verão e é normal o calor. Os extremos, prossegue, em parte, estão associados à escassez de chuva, a redução da chuva, que é consequência do La Niña.
“Mas um estudo posterior vai certamente trazer uma componente também das mudanças climáticas, que aumentam em muitas vezes a probabilidade de ondas de calor mais extremas em qualquer parte do planeta. Não só aqui no Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. As mudanças climáticas trazem esse potencial maior de ocorrência de ondas de calor, mas, claro, nesse cenário específico desses últimos dias, está diretamente associado aí a redução da chuva e também a presença do fenômeno climático La Niña, que é o resfriamento do oceano Pacífico Equatorial.”
Em 2022, quando a capital gaúcha chegou a registrar mais de 40 graus, o Brasil de Fato RS conversou com especialistas que apontaram que temperaturas acima de 40º são resultado de um planeta mais quente.
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Perigos do calor extremo
“Tem vários estudos que mostram que a onda de calor acaba aumentando o número de óbitos, principalmente das populações mais idosas, aquelas que já tem algum algum quadro clínico e que acaba sendo agravado pelo calor extremo. É uma forma, é silenciosa. Não é que nem a enchente, não é que nem o raio, que é algo mais visível. Então todos esses aspectos devem ser considerados nesse período prolongado de calor”, expõe Sias.
De acordo com um estudo do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicado em janeiro de 2024, na revista científica de acesso livre Plos One, 48 mil pessoas morreram por ondas de calor no Brasil entre 2000 e 2018. A pesquisa analisou as 14 regiões metropolitanas mais populosas do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas cinco regiões do país. A Região Metropolitana de Porto Alegre aparece na quarta posição em que as ondas de calor mais potencializam mortes.
Conforme aponta o estudo, eventos de temperatura extrema aumentaram quase quatro vezes desde os anos 1970. Idosos, mulheres, negros e menos escolarizados são os mais afetados.
Nesse contexto de ondas de calor, Sias ressalta que temos que seguir todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde: hidratação, evitar atividades físicas nos horários de sol mais forte, não esquecer o filtro solar. Ter cuidado também com os pets, tentar ficar em ambientes refrigerados, arejados.
Além disso, prossegue a meteorologista, o poder público, as empresas, indústrias têm que ter cuidado também de oferecer bastante água e sistemas de refrigeração para os seus funcionários para que não tenham mal estar ou queda de pressão.
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Projetos de Lei
Visando a segurança e a saúde de servidores e trabalhadores terceirizados que atuam ao ar livre em dias de calor extremo na capital, o vereador Giovani Culau e o mandato coletivo (PCdoB) protocolaram, no início de fevereiro, um projeto de lei para liberar os profissionais em casos de temperatura elevada.
“As mudanças climáticas têm provocado a intensificação de eventos extremos, seja chuvas extraordinárias e acima da média, seja ondas de calor extremo. Entre os anos 2000 e 2018, nós tivemos mais de 3.000 óbitos em Porto Alegre em razão do calor extremo. É a partir daí que surge a nossa proposição de um projeto de lei que libera os trabalhadores expostos ao sol, aqueles que trabalham ao ar livre, de trabalhar em dias de calor extremo”, afirma ao Brasil de Fato RS Giovani Culau.
Na mesma linha, o deputado estadual Matheus Gomes (Psol) protocolou um projeto de lei que proíbe o trabalho ao ar livre de servidores públicos estaduais e trabalhadores terceirizados da Administração Pública estadual direta e indireta, em dias de onda de calor extremo no estado.
De acordo com o parlamentar, a ação visa garantir vida além do trabalho e isso não é possível diante dos riscos à saúde em momentos de calor extremo. “A importância do Projeto de Lei que protocolamos é mais que urgente e acompanha a tendência mundial de legislações que visam a proteção e qualidade de vida dos trabalhadores afetados pelos efeitos da crise climática. Esperamos que a iniciativa, que no momento contempla servidores públicos e terceirizados da Administração Pública estadual que realizam o trabalho ao ar livre, sirva de exemplo para outras áreas da sociedade”, afirmou o deputado ao Brasil de Fato RS.
O deputado pontua que, “além da conscientização ambiental, a população precisa ter direitos trabalhistas para enfrentar a nova realidade climática. Quem mais perde com os eventos climáticos extremos são as pessoas pobres e trabalhadoras”.
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Outro projeto é o da vereadora Natasha Ferreira, líder do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre, protocolado no dia 6 de fevereiro. O Projeto de Lei prevê a instalação de fontes de água potável e bebedouros em espaços públicos e privados de grande circulação na cidade.
De acordo com a parlamentar, o projeto apresentado contribui para a questão da dignidade humana para as pessoas em situação de vulnerabilidade social, visando assegurar a hidratação adequada e a preservação da saúde de todos.
Estações de transporte coletivo, parques, praças, passeios, estádios de futebol, hospitais, shopping centers, centros comerciais, instituições de ensino, agências bancárias, casas noturnas, boates e demais locais de acesso público, são exemplos de espaços para a instalação. Também determina a obrigatoriedade de instalação de bebedouros públicos para animais em praças, parques e demais áreas públicas de lazer no município de Porto Alegre em que haja exploração comercial.
* Com informações da Metsul e Inmet.
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