No último domingo (23), por volta das 11h, houve um grave vazamento de cloro líquido na fábrica de celulose da empresa CMPC, em Guaíba (RS).
Moradores do entorno da fábrica relatam que viveram momentos de pânico devido ao forte odor e nuvem branca e densa que atingiu suas casas, causando sensação de sufocamento, forte ardência e queimação nos olhos e nariz, náusea, salivação e dor de cabeça. Ao tentar contato com o canal de atendimento da empresa, moradores não tiveram retorno ágil, tendo que recorrer ao 192 para buscar informações médicas de emergência.
Há relatos de que o vazamento atingiu também trabalhadores, levando alguns ao desmaio. Parte da empresa foi evacuada e a operação paralisada. Fepam e corpo de bombeiros foram acionados.
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A empresa se limitou a informar à mídia de que houve um vazamento (sem especificar de que substância) e de que a situação estaria sob controle, sem dar quaisquer orientações as comunidades do entorno, sobre o tipo de vazamento, sua gravidade, extensão ou como agir nesta situação. No passado, já ocorreram outros episódios de vazamento de cloro, incêndios e inclusive a implosão de uma das caldeiras de força. O nível de risco para as comunidades do entorno da empresa é alto, porém não há qualquer tipo de Plano de Ação de Emergência, ou sequer sistema de sirenes e avisos que possam ser acionados em casos como este, para evitar impactos à saúde destas comunidades.
O cloro tem uma taxa de expansão elevada, um litro de cloro líquido vazado gera 457 litros de cloro gasoso na atmosfera. O contato direto da pele com o cloro líquido (altamente corrosivo) pode causar ulcerações e queimaduras graves. Já o gás cloro causa grave irritação ocular e sistema respiratório porque ao reagir com a umidade do corpo forma ácidos, a inalação pode causar bronquite crônica, e edema pulmonar e morte por asfixia.
Cabe ressaltar que a fábrica se localiza em zona urbana residencial do município de Guaíba, com residências a poucos metros da unidade industrial que foi quadruplicada em 2015 agravando ainda mais os impactos socioambientais no entorno, tendo sido objeto de processo judicial por crime ambiental e Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual, que obrigou a empresa a realizar investimentos como o aumento do muro de parte do pátio e enclausuramento de equipamentos, bem como a revitalização da Praia da Alegria como forma de compensação ambiental. As melhorias que a empresa realizou por obrigação, e que seu marketing verde batizou de “BioCMPC”, não foram suficientes para conter seus diversos impactos, ainda seguem problemas como forte odor de Compostos Reduzidos de Enxofre (que tem cheiro de ovo podre), ruído e forte trepidação, que em determinados locais ocorrem 24h por dia, causando rachaduras em residências e levando pessoas à transtornos de sono, stress e ansiedade.
A CMPC, do chileno Grupo Matte, anunciou recentemente um investimento bilionário na construção de uma nova fábrica de celulose, no município de Barra do Ribeiro, hipocritamente chamado pela empresa de “Projeto Natureza”. A empresa investe muito em propaganda buscando construir uma imagem de sustentável, patrocina até mesmo o Campeonato Gaúcho e chegou ao cúmulo de criar um time fictício chamado “Defensores da Natureza”.
Seu novo projeto, assim como a fábrica existente, irá despejar seus efluentes industriais no já tão poluído Guaíba, e impactar ainda mais o bioma Pampa com a expansão de seus monocultivos de eucaliptos transgênicos, gerando créditos de carbono sujos com mais desertos verdes num Pampa em extinção.
*Eduardo Raguse é engenheiro ambiental e integra o coletivo Amigas da Terra.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
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