“O presidente não quer dar uma cara de reforma”, disse um interlocutor do Palácio do Planalto sobre a dança de cadeiras que começou com a troca do comando da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), em janeiro deste ano, quando saiu Paulo Pimenta e entrou o publicitário Sidônio Palmeira. Nesta terça-feira (26), inaugurou-se um novo capítulo da recomposição da Esplanada dos Ministérios. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a demissão da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e sua substituição por Alexandre Padilha, que comandava a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) desde o início do governo. Padilha já foi ministro da Saúde de 2011 a 2014, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
De acordo com fontes ligadas ao Planalto, a reforma ministerial tem dois objetivos: o primeiro é reacomodar as forças do Partido dos Trabalhadores (PT) no governo, mexendo fundamentalmente nos ministérios que já são ocupados pelo partido. A entrada da deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), no governo é dada como certa. Ela poderia ocupar a SRI, no lugar de Padilha, caso o ex-presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), preferido para o cargo, não aceite o convite. Segundo a avaliação do Planalto, ninguém melhor do que um ex-presidente do Congresso Nacional para cuidar da relação com o parlamento. Além disso, Pacheco é um quadro importante do Partido Social Democrático (PSD), legenda que mais cresceu nos municípios brasileiros nas últimas eleições. Pesa contra Pacheco o fato de que ele pode concorrer ao governo de Minas Gerais (MG) em 2026 e, por conta disso, teria que deixar o governo em meados de abril para se candidatar.
Caso Pacheco seja confirmado na articulação política, Gleisi poderia ocupar a Secretaria Geral da Presidência da República (SGPR), hoje chefiada por Márcio Macedo, e que é responsável pela articulação com os movimentos populares, entre outras atribuições. O governo avalia que Gleisi tem uma boa relação com as organizações da sociedade civil e poderia contribuir com a tarefa. No entanto, a ida dela para a Secretaria Geral deixaria Macedo sem espaço no Planalto. De acordo com fontes próximas ao ministro, sua possível indicação ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aventada pela imprensa, não passou de um “balão de ensaio” para testar o interesse do ministro, diante do desgaste do atual presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, criticado publicamente pelo presidente Lula pela demora na liberação das pesquisas para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas.
Outro ministério petista que deve sofrer alteração é o do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), hoje comandado por Paulo Teixeira. O ministro é duramente criticado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a pasta tem sido objeto de atenção especial do próprio presidente da República. Atualmente, o nome mais forte é o do ex-ministro da Secom, Paulo Pimenta.
A imprensa comercial também especulou sobre a substituição da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, pela senadora pernambucana Teresa Leitão (PT). Segundo a narrativa criada, a estratégia consistia em abrir espaço no Senado para o Republicanos, que tem a suplência de Leitão. No entanto, a própria senadora tem afirmado a assessores que não tem interesse em deixar o mandato parlamentar para assumir o cargo no Executivo. Fontes próximas à atual ministra afirmam que ela não foi avisada sobre uma possível demissão.
Uma mudança indesejada, porém, necessária, poderia acontecer no Ministério da Defesa, isso porque o próprio ministro José Múcio Monteiro teria pedido para sair. Inicialmente, a solicitação não foi bem recebida presidente Lula, mas o ministro acabou se imolando quando ofereceu uma declaração defendendo a redução de pena aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Esse é um ministério sensível, e desde o início do seu terceiro mandato, o presidente Lula tem defendido que ele seja comandado por um ex-presidente de um tribunal superior. É o caso de Múcio, que já presidiu o Tribunal de Contas da União (TCU).
O governo já tem um membro com esse perfil, o ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Ricardo Lewandowski, que já foi presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, o ministro afirma que não deseja sair do MJSP, mas que aceitaria ir para a Defesa, caso fosse um pedido expresso de Lula. A saída de Lewandowski do MJSP poderia viabilizar uma promessa de campanha do presidente, que é dividir o ministério em dois, ou seja, Justiça de um lado, Segurança Pública de outro. Isso ajudaria ainda Lula a se reaproximar do Grupo Prerrogativas, que reúne advogados e juristas próximos a ele, e que tem feito críticas públicas ao governo Lula 3.
Finalmente, o segundo objetivo da reforma será a reacomodação dos partidos que compõem a base do governo no Congresso Nacional. Essa parte ainda segue emperrada. O presidente tem criticado o fato de partidos ocuparem ministérios, mas não entregarem votos aos projetos de interesse do governo.