O Movimento Brasil Popular e o Levante Popular da Juventude promoveram juntamente com a Associação de Moradores do bairro Mariano de Abreu, o curso de Agentes Populares dos bairros Mariano de Abreu, Caetano Furquim, São Geraldo, Casa Branca e Boa Vista, localizados na região Leste de Belo Horizonte.
O projeto teve como objetivo principal iniciar um processo de reconstrução coletiva da memória da região, na intenção de conhecer melhor a história do lugar, seu histórico de ocupação e os próprios moradores.
Além disso, o curso buscou ajudar os moradores no processo organizativo, de forma a impulsionar que, coletivamente, eles busquem mudar a realidade da região, a partir da apropriação da história.
“Possibilitar que as pessoas compreendam que, a partir do processo em que você conhece um pouco da sua história, você se apropria dela e começa a compreender sua realidade e a tentar mudar algumas coisas. O curso veio com esse intuito, não só de fazer essa construção da memória coletiva da região, como também de auxiliar no processo organizativo”, afirma Patrícia Sousa, integrante do Movimento Brasil Popular e coordenadora do projeto.
O curso
Entre os meses de julho e dezembro do ano passado, os moradores dos bairros da região Leste de Belo Horizonte puderam resgatar as histórias das comunidades. O projeto aconteceu em parceria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e contou com a atuação dos estudantes para a realização da iniciativa.
O curso foi dividido em cinco módulos, além de oficinas de fotografia que tiveram o objetivo de incentivar os moradores a registrarem as memórias do lugar onde eles vivem.
Além disso, uma professora da UFMG traçou uma linha do tempo, contando a história de Belo Horizonte, por meio das questões demográficas. Os moradores escreveram juntos essa linha do tempo, de acordo com suas experiências naquela localidade.
“O objetivo não é contar uma história que está nos livros. O objetivo é os próprios moradores contarem como foi o desenvolvimento do território, quais são os problemas do lugar. Queremos que eles sejam atores e atrizes da sua própria história, que eles se reconheçam ali no processo e virem agentes da transformação do seu bairro”, conta Vinícius Moreno, também integrante do Movimento Brasil Popular.
Em dezembro, os moradores receberam seus certificados de conclusão de curso, em uma formatura que aconteceu juntamente com uma ação de solidariedade no bairro Mariano de Abreu.
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Foto: Gislaine Dias
Perspectiva
Em entrevista ao Brasil de Fato MG, José Carlos, morador e uma das lideranças do bairro Mariano de Abreu, compartilhou que a ação “trouxe uma nova perspectiva para as comunidades”.
Além disso, José contou que, após o curso de agentes, “os moradores que participaram passaram a se envolver mais com as demandas da comunidade, pois conheceram e puderam contar sua própria história”.
Quando perguntado sobre os maiores desafios que ele, enquanto liderança do bairro, enfrentou, José relatou que foi “conseguir com que os moradores participassem”, mas que “os que participaram, com certeza, ganharam conhecimento”.
Metodologia de trabalho
Os agentes populares são uma metodologia de trabalho desenvolvida pelos movimentos sociais, com o objetivo de ajudar na conscientização da população sobre temas variados. A ação parte do protagonismo dos moradores das periferias urbanas na resolução dos problemas de suas comunidades.
A experiência começou a ser desenvolvida durante a pandemia de covid-19, com os agentes populares de saúde, que, por meio da solidariedade, distribuíam comida, máscaras, ítens de higiene e, principalmente, informação, para ajudar no combate ao coronavírus. Desde o ano passado, a metodologia passou a ser adotada também pelo Ministério da Saúde, sendo transformada em política pública.
“A ideia era falar o que era a covid, a importância da vacina e as formas de se prevenir para não pegar a doença. Depois, isso virou um método. Então, hoje, temos agentes populares de cultura, de direitos humanos, de alimentação, entre outros”, explica Vinicius Moreno.
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