Durante os três finais de semana de programação para o Carnaval, a Prefeitura de São Paulo anunciou que distribuirá 2,2 milhões de copos d’água, além de pontos de hidratação por meio de caminhões-pipa e bebedouros. A expectativa é atender a 16 milhões de foliões, o que representa aproximadamente um copo d’água a cada sete pessoas.
De acordo com o movimento As Águas Vão Rolar, as medidas anunciadas são um “avanço”, mas não “suficientes”. O grupo que reúne cerca de 80 organizações, incluindo blocos de São Paulo, Rio de Janeiro, e entidades ligadas ao meio ambiente, como o Greenpeace Brasil e o Movimento Urbano de Agroecologia (MUDA).
Em nota, a organização afirma que as medidas devem ser institucionalizadas por meio de um decreto junto com as operações de altas temperaturas e os planos de chuvas do verão, além de serem implementadas com antecedência, obedecendo um cronograma prévio de diálogos com os blocos.
“A prefeitura também não deu uma resposta à sociedade sobre a instalação de um gabinete de crise que poderia, entre outras coisas, monitorar em tempo real as condições climáticas para responder rapidamente a emergências durante o Carnaval”, afirma o movimento.
“Saúde pública não parece ser prioridade para a prefeitura, quando o próprio órgão pede para as pessoas levarem água de casa. Essa não é uma indicação que deveria ser feita pela autoridade responsável por organizar o Carnaval. Além de disponibilizar algo de forma irrestrita para todas as pessoas, a prefeitura deveria fazer acordos com a patrocinadora do Carnaval para uma água mais barata, e não no mesmo preço que uma lata de cerveja”, conclui o movimento.
Lira Alli, professora da rede pública, artista do Carnaval de rua de São Paulo e integrante do movimento As Águas Vão Rolar, afirma que “o que a Prefeitura vai oferecer é muito pouco”. Ela também pede que os foliões levem água de casa e destaca que a Ambev, empresa oficial do carnaval paulistano, “está sugerindo aos ambulantes o preço da água como o mesmo da cerveja”, cerca de R$ 5.
O movimento As Águas Vão Rolar cita a Lei Ana Benevides, que garante distribuição gratuita de água em eventos artísticos, shows e festivais de música desde junho do ano passado no estado de São Paulo. A legislação leva o nome da jovem que faleceu, aos 23 anos, em decorrência de intensa desidratação enquanto participava de um show da cantora Taylor Swift, no Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 2023.
Naqueles dias, o estado fluminense registrou recordes de temperatura, com os termômetros ultrapassando os 40ºC. Neste ano, no pré-carnaval de São Paulo, as temperaturas chegaram a 30ºC. Para o próximo fim de semana, a previsão é que os termômetros cheguem a 34ºC tanto no sábado quanto no domingo de Carnaval.
No início do fevereiro, o movimento enviou uma carta à Prefeitura de São Paulo cobrando medidas de controle dos efeitos do calor e das fortes chuvas, como a criação de um gabinete de crise e a flexibilização dos horários de concentração dos blocos.
Segundo Jonaya de Castro, gestora cultural e diretora do Instituto Lamparina, que também participa do movimento, “a cidade de São Paulo ainda não tornou público seu plano e se irá monitorar em tempo real as condições climáticas para responder rapidamente a emergências durante o Carnaval”.
O que diz a Prefeitura?
Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que está “disponibilizando aos foliões diferentes opções de hidratação durante o Carnaval, inclusive em parcerias com a Sabesp, a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) e o Metrô. A distribuição dos 2,2 milhões de copos de água em 158 tendas é somente uma delas”.
A gestão de Ricardo Nunes (MDB) disse ainda que “há bebedouros e caminhões de água potável com torneira no percurso dos megablocos, além de pontos para hidratação em cinco estações do metrô: Vila Madalena, República, Anhangabaú, Barra Funda e Sé”.
“A distribuição de água pela Prefeitura ajuda a minimizar o impacto dos dias de calor, mas a organização recomenda que os foliões também levem água, mantendo-se hidratados durante toda a festa. A Secretaria Municipal de Saúde tem postos de saúde e ambulâncias para atendimentos em casos de necessidade”, diz a Prefeitura em outro trecho.
“A Prefeitura foi notificada sobre a carta e, em conformidade com os prazos estabelecidos, prestará as informações ao Ministério Público, sempre mantendo o compromisso com a transparência”, conclui.