O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participou de uma sessão especial de abertura da primeira reunião de sherpas dos países membros dos Brics, que ocorre na sede do Itamaraty, em Brasília. O encontro começou na terça-feira (25) e encerra nesta quarta (26). Desde janeiro, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco, composto também por Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.
“Neste momento de crise, nossa responsabilidade histórica é buscar soluções construtivas e equilibradas”, disse o presidente, na abertura da sessão. A presidência brasileira no Brics definiu como prioridade o tema da cooperação em saúde, sobretudo para a erradicação das doenças para as quais já existe profilaxia.
“A pobreza, a falta de acesso a serviços básicos e a exclusão social são um terreno fértil para doenças como tuberculose, malária e dengue e outras que, juntas, ameaçaram cerca de 1 bilhão e 700 milhões de pessoas no mundo. Durante a nossa presidência, pretendemos lançar uma parceria para a eliminação de doenças socialmente determinada e doenças tropicais negligenciadas”, declarou Lula, que lançou uma crítica, ainda que sem mencionar nomes, aos governos que decidiram se retirar da Organização Mundial de Saúde (OMS), como os Estados Unidos. “Sabotar os trabalhos da Organização Mundial da Saúde é um erro com sérias consequências”, afirmou.
Emergência climática
Lula também defendeu que os países dos Brics sigam perseguindo os objetivos estabelecidos pelo Acordo de Paris sobre a agenda ambiental. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também anunciou a retirada do país do acordo sobre o clima. “Os Brics também continuarão sendo peça-chave para que os ideais da agenda 2030, do acordo de Paris e do Pacto para o Futuro possam ser cumpridos. A presidência brasileira vai reforçar a vocação do bloco como espaço de diversidade e diálogo em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas”, afirmou Lula.
Em seu discurso, o presidente defendeu a reforma da governança global e o fortalecimento do multilateralismo. “Quem aposta no caos e na imprevisibilidade, se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir. Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a estabilidade e para guerra”, declarou. “Frente à polarização e à ameaça de fragmentação, a defesa consistente do multilateralismo é o único caminho que devemos trilhar”, completou o presidente, destacando o papel do Brasil e China para a criação do grupo de amigos da paz para o conflito na Ucrânia.
Lula destacou ainda a crise climática e seus efeitos, e criticou a paralisia dos países em apresentar suas propostas de ações para o enfrentamento do aquecimento do planeta. “Apenas 17 dos 198 países da convenção quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima apresentaram novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, incluindo o Brasil”, disse Lula, que destacou o papel dos Brics na elaboração conjunta de propostas a serem levadas à COP 30, em Belém.
“Na COP de Belém, os líderes mundiais terão imperativo de equacionar ambição e financiamento do enfrentamento a crise climática. Os Brics têm a força política necessária para mobilizar resultados ambiciosos para a COP 30, garantindo que o crescimento econômico caminho lado a lado com a justiça social e ambiental, promovendo uma resposta global justa e responsável”.
Finalmente, o presidente brasileiro defendeu um sistema de governança da Inteligência Artificial e de dados. “O Brics precisa tomar para si a tarefa de recolocar o no centro dos debates a construção de uma governança justa, equitativa, sob o amparo das Nações Unidas. Qualquer tentativa de desenvolvimento econômico hoje passa pela inteligência artificial”.
Os países do Brics correspondem a 48,5% da população mundial e concentra cerca de 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo. Além dos 11 países membros, desde a última cúpula do bloco em Kazan, na Rússia, foi criado o grupo de “países parceiros” composto por nove membros, sendo eles, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.