Um ano depois de consolidar a ideia de Forças Produtivas de Nova Qualidade, durante as Duas Sessões, o Documento Central Número 1, a primeira orientação política que é publicada anualmente na China, trouxe a versão rural do conceito. Assim como no termo anterior, a incorporação da inovação da ciência e da tecnologia, envolve incorporar cada vez mais ciência e tecnologia no meio rural, como drones, inteligência artificial e tecnologia digital.
O Documento Central Número 1, emitido pelo Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e pelo Conselho de Estado, foca tradicionalmente nas “três questões rurais” (agricultura, áreas rurais e camponeses). É um documento programático que orienta o trabalho agrícola e rural do governo chinês. Desde a década de noventa as três questões rurais se tornaram um dos centros do documento.
Contexto
Os objetivos das novas orientações vão desde a garantia de uma parte da segurança alimentar com produção nacional, a prevenção da volta da população a condições de pobreza extrema até a redução da penosidade do trabalho. Além de ter poucas terras aráveis em comparação com o tamanho da população (0.08 hectare per capita, bem abaixo da média mundial), a China também enfrenta, no médio e longo prazo, uma redução da sua população e envelhecimento da população rural.
Segundo projeções da ONU, até 2050 a população chinesa pode cair para 1,313 bilhão, e para menos de 800 milhões até 2100. O diretor do Centro de Pesquisa para a Economia Rural, Jin Wencheng, destaca a orientação, no documento, da pesquisa e desenvolvimento colaborativos.
“Esta é uma resposta política crucial aos desafios atuais enfrentados pela inovação tecnológica. Precisamos estabelecer um sistema e mecanismo para fazer pesquisa de forma colaborativa, coordenando vários recursos dentro do sistema nacional de inovação em ciência e tecnologia agrícola e construindo plataformas para inovação colaborativa”, explica Jin.
Combate à pobreza
O documento também começa a formular um sistema de política de assistência pós-transição da redução da pobreza. Após anunciar a erradicação da extrema pobreza no país em 2020, a China determinou que os seguintes cinco anos seriam um período de transição para consolidar as tarefas de redução da pobreza e promover o que chamam de revitalização rural. O período se encerrará este ano.
Manter uma linha básica de políticas para evitar a recorrência da pobreza em larga escala não é apenas uma tarefa anual, mas um compromisso de longo prazo, afirmou Han Wenxiu, Diretor Adjunto Executivo do Comitê Central para Assuntos Financeiros e Econômicos
“Este Documento Central nº 1 propõe um mecanismo abrangente para prevenir a recorrência da pobreza em áreas rurais, juntamente com um sistema de suporte em camadas para populações de baixa renda e regiões subdesenvolvidas”, diz Han.
Revitalização Rural
A revitalização rural não envolve só a aplicação de tecnologia no trabalho rural, mas outros aspectos relacionados a ela, como a garantia de conectividade de pequenos povoados. Tao Xunhua, deputada do Congresso Nacional do Povo pela província de Sichuan, disse que apresentará propostas para a transformação digital de áreas rurais na próxima sessão anual do Congresso na semana que vem. Até o final de 2024, 26 mil povoados em sua província tinham acesso à rede 5G.
“Sem a infraestrutura, não há como construir povoados digitais. Depois que foi levantada nas duas sessões do ano passado, a questão recebeu grande atenção de muitos ministérios e departamentos”, disse Tao à CGTN.
Tigela de arroz
A garantia da segurança alimentar sempre foi uma das prioridades para a economia da China, e nos últimos anos o governo tem enfatizado a necessidade de garantir a produção nacional de alimentos e sementes. A ideia é conhecida como “garantir a tigela de arroz” e “que a tigela de arroz tenha grãos chineses”.
Entre as diretrizes do novo documento está a de que moradores urbanos não podem comprar propriedades rurais nem construir casas, já que isso disputa o uso das terras agricultáveis. Com um sexto da população mundial, a China possui cerca de 9% do total de terras aráveis do mundo.
Lin Wanlong, vice-presidente da China Agricultural University diz que a aplicação de tecnologia moderna de ponta é muito importante para a China: “Como um país com uma grande população e recursos limitados, precisamos melhorar significativamente nossa produtividade agrícola para garantir a segurança alimentar e o fornecimento significativo de produtos agrícolas”.