Antonio Garcia está há 50 anos no Exército de Libertação Nacional (ELN). O grupo se coloca como um movimento revolucionário inspirado na Revolução Cubana e tem uma atuação armada na Colômbia, mesclando teoria marxista-leninista com a teologia da libertação. Desde 1975, Garcia coordena e tem um papel de liderança na guerrilha.
Ele é um dos poucos do grupo guerrilheiro que não tem problemas em manter uma relação com a imprensa. E ser uma espécie de ponte com os jornalistas não é a única das tarefas de Garcia. Ele assumiu o cargo de comandante do ELN em 1980, depois da morte de Manuel Pérez, conhecido como “El Cura”, e se tornou um dos principais responsáveis por aumentar a capacidade militar do grupo.
Hoje, ele também é um dos interlocutores do ELN nas negociações com o governo colombiano dentro da política dos diálogos de paz. Com a crise de segurança recente envolvendo o grupo guerrilheiro e o Exército, Garcia não se furta em dizer que a gestão de Gustavo Petro tem uma política que não busca a paz, mas que tem como objetivo “desmobilizar o ELN”.
A liderança do grupo respondeu a reportagem do Brasil de Fato em uma entrevista exclusiva e falou sobre a relação dos guerrilheiros com o governo, as negociações por paz, os episódios de violência recentes na região de Catatumbo e a participação de outros países na busca pela paz na Colômbia.
Hoje, as conversas entre o grupo guerrilheiro e o Executivo estão suspensas. Segundo Garcia, não há porque se manter na mesa se o próprio governo sabota a paz ao “não respeitar os acordos firmados”. Para ele, ataques do Exército registrados nos últimos meses demonstram esse descumprimento.
“Isso abre um precedente e uma lição importante: para o Estado, a negociação não tem outro objetivo além de conseguir a desmobilização do ELN, e não a de buscar transformações estruturais que o país exige há décadas. O ELN já disse que, à medida que o governo cumpra com o acordado na mesa de negociação, pode tirar obstáculos do caminho para descongelar os diálogos. Da parte do ELN, ratificamos o cumprimento com os acordos quando dizemos e cumprimos sua máxima: ‘assinar para cumprir’”, disse ao Brasil de Fato.
Para Garcia, isso é sintomático de um governo de esquerda que faz “concessões” à direita. O chefe do grupo diz que acompanha as medidas políticas que beneficiam o povo e que é “crítico quando afetam os interesses populares”. O ELN entende que há também uma frustração com as “poucas conquistas” nas reformas prometidas em campanha e na necessidade de conformar alianças com setores empresariais para governar.
“Petro conseguiu governabilidade a partir de alianças com setores políticos tradicionais, que impediram as mudanças. Por outro lado, está muito inclinado a se aliar com os partidos do poder para conciliar e, quando não cumprem, recorre ao apoio popular. Nunca deixou claro qual era a rota para construir as mudanças. Esse é um dilema de todos os governos progressistas, que não se atrevem a romper com a ordem dominante: passar do ordenamento econômico capitalista à construção de um poder alternativo à institucionalidade burguesa. Para sobreviver, têm a tendência de conceder mais e mais as direitas opositoras até esvaziar seu projeto de governo de todo elemento transformador”, disse.
Acordos rompidos
Garcia nasceu na cidade de Mocoa, no estado de Putumayo, em 1956. Desde cedo, esteve envolvido em atividades políticas. Sua principal referência foi Camilo Torres, o sacerdote católico revolucionário que integrou o ELN e foi morto em combate em 1966.
Em cinco décadas de ELN, a negociação foi uma das principais habilidades desenvolvidos por Garcia. Primeiro na luta armada e, depois, em negociações formais com o governo. Em 2016, o então presidente Juan Manuel Santos abriu um canal de diálogo com o ELN em busca do processo de paz. Garcia foi um dos principais interlocutores.
Mesmo sem muitos avanços, o chefe do ELN conseguiu marcar a posição do grupo e assumiu o mesmo papel agora com Petro. As duas partes conseguiram manter um cessar-fogo até agosto de 2024 e seguiram em negociações desde então, mas com uma série de idas e vindas nas conversas.
A última delas ocorreu no começo de fevereiro. Governo e ELN deixaram a mesa de diálogos depois de episódios de violência na região de Catatumbo, no extremo leste da Colômbia. Os conflitos foram desencadeados com uma guerrilha dissidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que deixaram ao menos 56 mortos e mais de 32 mil pessoas deslocadas.
O próprio governo colombiano afirmou que estava suspendendo as negociações de paz. Petro disse que o grupo cometia “crimes de guerra”, já que estaria atacando civis.
O presidente decretou então “estado de comoção interna”, o equivalente a uma intervenção militar de 90 dias, e declarou emergência econômica. Mesmo afirmando que o “ELN terá o caminho de guerra que escolheu”, o Executivo também reconheceu o fracasso das negociações e afirmou que perdeu a esperança de “fazer uma revolução governando”.
Ele mesmo já havia dito em setembro que as negociações com o ELN estavam praticamente encerradas. O diálogo permanente com os grupos armados foi implementado pelo presidente colombiano desde o início do seu mandato em 2022. O mandatário transformou a “Paz Total” em política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.
A crise de segurança que se agravou em Catatumbo fragmentou de maneira brusca um processo de paz que vinha acontecendo há quase três anos. As duas partes se acusam mutuamente de um rompimento de um acordo que parecia caminhar. Para os guerrilheiros, a decisão de “congelar” as conversas foi tomada porque o governo de Gustavo Petro “rompeu com o que havia sido assinado”.
Garcia toma como exemplo o acordo feito entre o governo e as ex-Farc, uma das principais guerrilhas colombianas. O acordo assinado em 26 de setembro de 2016 prometia o fim de uma guerra interna que já deixou mais de 260 mil mortos ao longo da história. Após o acordo, sete mil guerrilheiros ingressaram na vida civil. As Farc-EP entregaram as armas e se transformaram no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum.
Para o chefe do ELN, no entanto, esse histórico parou na “promessa”, já que a violência e os conflitos entre guerrilhas, paramilitares e o Exército se mantiveram no país. De acordo com ele, esse acordo de “desarmamento” das Farc reflete também a forma com que o governo negocia com movimentos populares.
“No fracassado processo de paz das Farc, essa insurgência deixou as armas e se desmobilizou em troca de promessas de reformas que não se cumpriram. Isso também aconteceu com os movimentos sociais e populares que têm negociado com o Estado colombiano”, disse.
Participação externa
Garcia entende que é importante a presença de outros governos nas negociações, especialmente a Venezuela. Além de um garantidor dos diálogos de paz, o país é um agente “estabilizador” das negociações, foi palco para algumas reuniões e conseguiu ajudar nos diálogos. De acordo com ele, os governos de Hugo Chávez e, agora, de Nicolás Maduro “expressam um compromisso” para uma solução negociada na Colômbia.
O Brasil é outro país que também tem participação nesses diálogos. A própria embaixadora brasileira em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira, participou das negociações. O chefe do ELN afirma que essa presença é importante principalmente pela interlocução que o Brasil tem em espaços multilaterais, como o Brics.
Mesmo que movimentos populares não tenham participado dos diálogos, Garcia diz que tem uma afinidade muito grande com a luta de grupos que têm como pauta a defesa da terra, do território e dos recursos da classe popular. Para ele, a disputa por recursos estratégicos na Amazônia é fundamental para o debate brasileiro.
“O Brasil tem muitos recursos estratégicos que são de interesse fundamental para o imperialismo estadunidense nesta fase. Esses recursos estão em territórios onde vivem camponeses sem terra e com terra, indígenas e quilombolas. A região amazônica está se tornando um epicentro da disputa continental por recursos. Se prevê um período de maior conflito social no Brasil devido à disputa por recursos. Contribuir para a busca pela unidade nas lutas de nossa América é um propósito estratégico do ELN, que é uma organização guevarista com sentido internacionalista”, disse.
A volta de Donald Trump para a Casa Branca também é um ponto de atenção identificado por Garcia. Segundo ele, a política dos Estados Unidos sempre foi a mesma, mas o momento é de fragilidade na disputa global, o que faz com que o governo estadunidense possa ter uma postura ainda mais agressiva e reforce um de seus objetivos na América do Sul: eliminar o ELN.
“Isto significará, entre outras coisas, eliminar e ou neutralizar toda a resistência que existe na região: a Revolução Cubana, a Revolução Bolivariana e a última insurgência revolucionária no continente, o ELN”, afirmou.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: Como está o diálogo de paz com o governo colombiano neste momento e como ficam as perspectivas das negociações do diálogo de paz?
Antonio Garcia: Atualmente esse processo está suspenso. O presidente Gustavo Petro fez isso formalmente em 17 de janeiro, aproveitando o que aconteceu em Catatumbo como pretexto. Mas a verdade é que o ELN já havia “congelado” os diálogos com o governo desde abril de 2024, porque o governo descumpriu os acordos. Se decidiu tirar o ELN da lista de Grupos Armados Organizados (GAO), termo que se refere ao crime organizado. O ELN é uma organização política rebelde armada.
O cessar-fogo de um ano (o mais longo da história do ELN) foi violado várias vezes por parte do Estado, que fez operações ofensivas contra o ELN. O Estado também manteve seu apoio e coordenação com os paramilitares contra os territórios e forças guerrilheiras do ELN.
Ao ver que o governo não estava disposto a cumprir com o que foi acordado na mesa, o ELN decidiu congelar as negociações, pois a premissa fundamental de uma mesa de paz é acordar para cumprir, e não para descumprir.
No fracassado processo de paz das FARC, essa insurgência deixou as armas e se desmobilizou em troca de promessas de reformas que não se cumpriram. Isso também aconteceu com os movimentos sociais e populares que têm negociado com o Estado colombiano.
Isso abre um precedente e uma lição importante: para o Estado, a negociação não tem outro objetivo além de conseguir a desmobilização do ELN, e não a de buscar transformações estruturais que o país exige há décadas.
O ELN já disse que, à medida que o governo cumpra com o acordado na mesa de negociação, pode tirar obstáculos do caminho para descongelar os diálogos. Da parte do ELN, ratificamos o cumprimento com os acordos quando dizemos e cumprimos sua máxima: assinar para cumprir.
Na sua opinião, o que o governo de Petro está fazendo de forma correta e o que está fazendo de maneira errada nos processos de paz?
Temos dito que acompanhamos o governo quando faz suas políticas que beneficiam o povo, especialmente os mais pobres, e somos críticos quando afetam os interesses populares.
O governo de Petro tem tido poucas conquistas nas reformas que prometeu durante a campanha eleitoral. Chegou à presidência capitalizando a onda de protestos e o “estallido social” de 2021, mas conseguiu ganhar governabilidade firmando alianças com setores políticos tradicionais, que fizeram de tudo para impedir as mudanças que Petro prometeu. Por outro lado, está muito inclinado a se aliar com os partidos do poder buscando conciliar e, quando não cumprem, recorre ao apoio popular. Um comportamento duplo que na política não acumula, mas que desgasta. Nunca deixou claro qual era a rota para construir as mudanças.
Esse é um dilema de todos os governos progressistas, que não se atrevem a romper com a ordem dominante, passar do ordenamento econômico capitalista à construção de um poder alternativo à institucionalidade burguesa. Para sobreviver, têm a tendência de conceder mais e mais as direitas opositoras até esvaziar seu projeto de governo de todo elemento transformador.
Com seu televisionado Conselho de Ministros, produziu uma crise para abrir espaços em seu governo a outros partidos, inclusive sacrificando as pessoas que podem ser mais próximas ao projeto do Pacto Histórico.
Quais são as reivindicações do ELN hoje para o cessar-fogo na região do Catatumbo? A saída da lista de Grupos Armados Organizados (GAO) é a principal delas?
O acordo de cessar-fogo foi para todo o território nacional, que naturalmente incluía o Catatumbo. Inicialmente, concordamos em ser por seis meses, depois prorrogamos por outros seis meses, somando um ano de cessar-fogo, que representa o cessar-fogo mais longo da história do ELN.
Como foi dito anteriormente, continuar com o cessar-fogo dependia que o governo cumprisse com os acordos que já firmamos na mesa de diálogos, acordos que foram acompanhados pela comunidade internacional, pelos países garantidores e acompanhantes deste processo de paz. Entre eles está o acordo de tirar o ELN da lista de Grupos Armados Organizados, mas, como já foi dito, houveram outros descumprimentos que não são por acidente, mas de maneira intencional. Uma tática que busca subverter o processo de diálogo e levar o ELN por um caminho do desarme, como aconteceu com as FARC.
Nas últimas reuniões, o que o ELN pede é o cumprimento do que foi assinado. Não é nada novo, só o que já está escrito e assinado.
Na sua avaliação, quais foram os erros e acertos do ELN no processo de negociação de paz? O ELN tem responsabilidade no aumento da tensão em Catatumbo?
As operações militares em Catatumbo em meados de janeiro de 2025 se devem mais a uma resposta do ELN à estratégia de contra-insurgência por parte do Estado que está, de maneira evidente, com a assessoria e direção de Washington.
Tudo começou com uma operação de bandeira falsa, onde uma família humilde da região foi assassinada e essa morte depois foi atribuída ao ELN. Negamos desde o início, esclarecendo que o autor intelectual e material foi a 33ª Frente, um grupo ex-Farc, fato que já foi corroborado pela própria promotoria colombiana, que já prendeu os culpados pelo assassinato.
Além dessas operações, o grupo da 33ª Frente já violava acordos territoriais assinados com o ELN, impondo coisas às comunidades com a complacência das Forças Militares. Foi criado um cenário para aplicar a sua estratégia de contra-insurgência em todas as suas dimensões, se financiando com dinheiro do tráfico de drogas, como já acontecia antes, permitindo líderes paramilitares como Salvatores Mancuso, Carlos Castaño e Jorge 40.
Quando este grupo foi confrontado à força pelo ELN, as Forças Militares vieram para apoiá-los. Os militares protegem e cuidam deles e agora vão trazer mercenários do Clã do Golfo para fornecer armas e tropas para que as forças governamentais não tenham baixas, assim como fazem em guerras por procuração – ou subsidiadas – em outros lugares.
Lembremos que as operações de bandeira falsa são táticas antigas, operações encobertas que têm como objetivo criar episódios que, mais tarde, servem de pretexto para justificar intervenções militares.
Esse fato tinha como objetivo começar uma “guerra total” contra o ELN, e por isso passaram a justificar a declaração da Intervenção Militar, indicando que o ELN tinha cometido crimes de guerra e militarizado completamente a região.
Em diversas regiões do país foram registrados confrontos armados entre o ELN, paramilitares do Clã do Golfo, paramilitares das ex-FARC, que operam em conjunto e em coordenação com as Forças Armadas Colombianas em Cauca, Arauca, Chocó e no Sul de Bolívar. Mas em nenhum destes casos foi declarada intervenção. Por quê? Bem, nenhuma dessas regiões faz fronteira com a Venezuela.
O Catatumbo representa uma operação de contra-insurgência que tem a meta de desgastar o ELN com uma operação militar e midiática para reduzir o impacto do ELN. Sendo a única organização revolucionária armada, que questiona a má gestão e a essência reformista deste governo, então o Petro pretende ganhar a aceitação da oligarquia e do imperialismo norte-americano.
Como está o trabalho do ELN para a saída de pessoas que querem sair do Catatumbo?
Em primeiro lugar, o ELN não desloca pessoas. Isso é proibido em nosso estatuto interno como organização insurgente. Entendemos que a intensificação do conflito tem causado medo e, por consequência, o deslocamento da população. Pessoas ligadas aos ex-Farc da 33ª Frente geraram pânico com o propósito de se protegerem, mas seus grupos armados se renderam, com armas e tudo, ao ELN e suas vidas foram poupadas. Muitos outros foram presos vivos nos combates e as suas vidas também foram poupadas e, por isso, as pessoas não têm motivos para terem medo, podem voltar quando quiserem. Estamos conversando com vários que deixaram o Catatumbo e têm medo de voltar. A ideia é que eles voltem, porque é do interesse de todos que a região volte ao normal.
Qual tem sido o papel que a Venezuela desempenha nas negociações? Há diálogo com o governo venezuelano?
A Venezuela tem sido o país garantidor do processo de diálogo com o ELN desde as negociações com o governo de Juan Manuel Santos (2012-2018). O comandante Hugo Chávez sempre expressou o seu compromisso com uma solução política negociada para o conflito colombiano, um compromisso que o presidente Nicolás Maduro mantém.
Isso, apesar de o Estado colombiano manter acordos com o Pentágono para promover uma “mudança de regime” na Venezuela. Algumas operações desestabilizadoras foram articuladas a partir da Colômbia contra a Revolução Bolivariana, como a manobra de autoproclamação de Juan Guaidó como presidente em 2019 e a Operação Gedeón em 2020. No entanto, a Venezuela usou seu território, segurança e logística para fazer reuniões e encontros nos processos de diálogo entre o governo e o ELN, como também fez com os diálogos das FARC na época.
Para o ELN, a Venezuela é um fator estabilizador da região por ter desempenhado um papel importante em quase todos os processos de paz na Colômbia.
Até que ponto a volta de Donald Trump à Presidência dos EUA tem impacto neste processo?
A política imperial é uma só, que às vezes se veste de democrata e às vezes de republicana. As diferenças são táticas, não estratégicas.
Trump chega ao seu segundo mandato para liderar um império em franca decadência, com a clara missão de parar esse declínio e, na medida do possível, recuperar a hegemonia perdida. A nossa América sempre foi o espaço vital da hegemonia imperialista estadunidense. Por isso, ressuscita constantemente a Doutrina Monroe, em versões atualizadas de guerra híbrida e de dominação de espectro total.
Estruturalmente, os Estados Unidos sofrem de fraqueza econômica após décadas de desindustrialização. A economia tornou-se financeirizada e agora é muito difícil reativá-la, porque precisa de base material. Portanto, o imperialismo busca essa base material por meio da apropriação de mercadorias, recursos estratégicos e energéticos, terras férteis e minerais de outros países e de outros povos. Essa é uma das motivações estratégicas por trás da intenção de apropriação da Groenlândia, do Canadá, do Canal do Panamá e das terras da Ucrânia. Isto é, enfrentamos um período de recolonização imperialista em toda a região.
Outro objetivo estratégico do império ianque é contrariar a influência da China e da Rússia na região e fazer todo o possível para bloquear a emergência de uma ordem mundial multipolar.
Isto significará, entre outras coisas, eliminar e ou neutralizar toda a resistência que existe na região: a Revolução Cubana, a Revolução Bolivariana e a última insurgência revolucionária no continente, o ELN.
Os Estados Unidos pressionarão o governo colombiano para conseguir a desmobilização e o desarmamento do ELN através das táticas combinadas com uma campanha militar de contra-insurgência e de um processo de negociação para tentar que a guerrilha se renda.
É neste contexto que devemos ler tanto o conflito em Catatumbo como a estagnação do processo de diálogo.
Em resumo, com Trump é razoável esperar uma maior ingerência imperialista na região da nossa América, com mais operações de mudança de governos, guerra híbrida e desestabilização.
O governo brasileiro ou os movimentos populares brasileiros se mostraram dispostos a participar de alguma forma e podem ajudar nessas conversas?
O Brasil tem sido um dos cinco países garantidores da Mesa de Diálogo com o ELN, desde o governo de Dilma Rousseff até hoje. Durante as negociações com o governo de Santos, houve até uma reunião das duas delegações em território brasileiro.
O apoio do governo brasileiro na mesa de diálogo é importante, principalmente porque o Brasil é membro do Brics. O Brasil pode ter um papel estratégico na busca de uma solução política para o conflito na Colômbia.
Em relação aos movimentos sociais e populares brasileiros: embora não tenham tido impacto no processo de diálogo, o ELN está muito atento aos desenvolvimentos da luta social brasileira.
O Brasil tem muitos recursos estratégicos que são de interesse fundamental para o imperialismo estadunidense nesta fase. Esses recursos estão em territórios onde vivem camponeses sem terra e com terra, indígenas e quilombolas. A região amazônica está se tornando um epicentro da disputa continental por recursos.
Se prevê um período de maior conflito social no Brasil devido à disputa por recursos. O ELN se identifica de forma muito íntima com a luta em defesa da terra, do território e dos recursos da classe popular brasileira. Contribuir para a busca pela unidade nas lutas de nossa América é um propósito estratégico do ELN, que é uma organização guevarista com sentido internacionalista.