Enquanto o carnaval se aproxima e nos preparamos para os blocos e desfiles, o ano de 2025 está repleto de datas que também merecem celebração. Há 80 anos, uma coalizão de países que defendia valores básicos se juntava para esmagar o nazifascismo e libertar a Europa e o mundo das teorias políticas e sociais mais assustadoras e abjetas que já tivemos conhecimento. Era o final da Segunda Guerra Mundial.
No dia 9 de maio, data em que comemoramos a capitulação da Alemanha nazista, veremos mais uma vez o tradicional desfile na Praça Vermelha de Moscou, na Rússia, que perdeu milhões de vidas em combate e foi peça fundamental para tomar Berlim. Meses antes, em 27 de janeiro, os mesmos soldados do Exército Vermelho libertaram o campo de concentração de Auschwitz, local tão simbólico do inimaginável horror nazista.
Já nós, brasileiros, demos a nossa contribuição à luta antifascista e cerramos combate em regiões inóspitas na Itália. No dia 21 de fevereiro, celebramos os 80 anos da vitória em Monte Castelo, na Estrada 64, passagem que foi fundamental para chegar à cidade de Bolonha e liberar a região da presença nazista.
Ali, 74 brasileiros morreram para que a vitória pudesse ser alcançada após quatro meses de combate e duas tentativas frustradas de tomar o monte. Importante destacar o caráter popular desses combatentes, os “pracinhas”, cujo legado o historiador José Luiz Del Roio defende que deveria ser reivindicado pela esquerda brasileira.
“Nós não podemos esquecer que, nos frontes em que a FEB combateu, também havia muitos guerrilheiros, os chamados partisanos, que eram todos comunistas. A luta dos pracinhas é um legado que pertence à esquerda.”
Hoje, 80 anos depois, vemos figuras como Donald Trump e Elon Musk chegarem ao poder da maior potência militar do planeta e reivindicarem uma série de símbolos e referências fascistas.
Na Alemanha, que acabou de passar por eleições, o partido de extrema direita AfD se tornou a 2ª maior força no Parlamento e recoloca o país à beira do perigo fascista. Vencedores, os conservadores da CDU têm diante de si a possibilidade de abraçar o fascismo e costurar uma coalizão com a AfD, ou resistir e criar uma aliança moderada com a Social-democracia, que deixa o governo desmoralizado pelo fiasco em tentar manter políticas sociais ao mesmo tempo em que gasta milhões em ajuda militar à Ucrânia.
O assunto foi tema do episódio do podcast O Estrangeiro, que recebeu a analista Stephanie Brito. Para a integrante da Assembleia Internacional dos Povos, a extrema direita pode crescer mesmo fora do governo. “Para eles, ser oposição funciona bem, eles tendem a crescer nesse lugar”, aponta. “Quando a direita governa é que ela enfrenta problemas, porque não consegue resolver tudo aquilo que estava propondo na campanha.”
Com AfD ou não, uma coisa é certa: os conservadores já prometeram ampliar gastos militares, uma vez que Trump despreza cada vez mais a Otan e, sem Washington, a aliança militar Ocidental parece não ter mais razão de ser.
Enquanto a Casa Branca e o Kremlin tentam negociar a paz em Kiev para encerrar um conflito que se arrasta há mais de três anos, os países europeus parecem se preparar para um período ainda mais belicoso.
E entre uma saudação nazista e outra nas diversas – e completamente cafonas – convenções da extrema direita pelo mundo, esse setor se mostra cada vez mais internacionalizado e coordenado entre si. Steve Bannon, Peter Thiel, Musk, Trump, Bolsonaro, Milei. Figuras que inundam os noticiários minuto a minuto com absurdos, cortinas de fumaça, “dog whistles”, blefes e bravatas.
Enquanto isso, me lembro do historiador e intelectual marxista indiano Vijay Prashad, que disse ao Brasil de Fato ano passado: “talvez não tenhamos que levar Trump tão a sério”. E, há alguns dias, me disse pessoalmente: “Os fascistas são apenas pessoas e não devemos temê-los”.
É um bom conselho. Devemos reivindicar o passado de luta de 1945, de quando o mundo se levantou em armas para conter a ameaça nazifascista. E acreditar que, da mesma forma que triunfamos há 80 anos, venceremos outra vez agora.
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Um feliz carnaval. Não passarão.
*Lucas Estanislau é Coordenador de Internacional do Brasil de Fato