A Petrobras lucrou R$ 36,6 bilhões em 2024, cerca de 70% menos do que o ganho obtido em 2023 (R$ 124,6 bilhões). Ainda assim, a estatal vai distribuir a seus acionistas – grande parte deles estrangeiros – cerca de R$ 75,8 bilhões em dividendos. Os dados foram divulgados pela estatal na quarta-feira (26).
Dividendos, por definição, são uma parcela do lucro de uma empresa que é dividida entre seus investidores. No caso da Petrobras, em 2024, essa parcela será mais do que o dobro do lucro líquido obtido pela companhia no período.
A companhia atribuiu à queda do seu lucro questões meramente contábeis relacionadas à dívidas que a estatal mantém com suas subsidiárias no exterior.
Segundo Fernando Melgarejo, diretor financeiro e de relações com investidores da estatal, a Petrobras realiza operações financeiras com empresas que ela mesmo controla. Essas operações ocorrem em dólar. Como a cotação da moeda dos EUA mudou muito no final de 2024, isso acabou tendo impacto negativo no lucro. Em compensação, gerou impacto positivo no patrimônio da companhia.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçou a explicação de Melgarejo em conferência a investidores na quinta-feira (27). Ela disse que, desconsiderando a questão contábil, os resultados foram excelentes.
Segundo Chambriard, os números foram tão positivos que a empresa vai pagar a seus acionistas o terceiro maior dividendos da sua história referentes só ao ano de 2024. A distribuição de lucro só será menor dos que nos anos de 2021 e 2022, quando companhia lucrou R$ 106,6 e R$ 188,3 bilhões, respectivamente.
“O excelente resultado operacional e financeiro demonstra, mais uma vez, a capacidade da nossa empresa de gerar valores que são revertidos para a sociedade e para os nossos investidores”, disse Chambriard, sobre a distribuição de ganhos a acionistas.
Em 2024, a Petrobras distribuiu R$ 102,6 bilhões em dividendos.
Críticas
Para o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), ao pagar altos dividendos, a Petrobras segue “desperdiçando” recursos importantes que poderiam fomentar o desenvolvimento do país.
“Os recursos poderiam ser usados em novos investimentos e na transição energética”, escreveu Dantas, em artigo publicado no site do Sindicato dos Petroleiros de São José dos Campos e Região (Sindipetro SJC).
“Os resultados da Petrobras reafirmam a manutenção do compromisso da gestão da companhia, como observado nos anos anteriores, com interesses de curto prazo”, criticou Mahatma Ramos dos Santos, diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep).
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), pediu uma reformulação da política de dividendos da Petrobras. “A empresa precisa assumir um compromisso com o desenvolvimento econômico e social do Brasil, priorizando o interesse da população e o crescimento sustentável do país”, disse.
Elogios
Dantas e Santos, contudo, afirmaram que é preciso reconhecer o esforço da atual gestão da Petrobras em retomar os investimentos da empresa. Segundo os especialistas, esses investimentos ocorreram não só na área de exploração e produção de petróleo, mas também no refino.
A Petrobras investiu R$ 91 bilhões em projetos durante o ano de 2024. Foram 31,2% a mais do que em 2023. O aumento, inclusive, foi maior do que o projetado para o ano porque a companhia resolveu antecipar a evolução física e financeira das plataformas para extração de petróleo do campo de Búzios (RJ), o mais produtivo do mundo em águas profundas.
“Antecipar investimentos em Búzios é tudo que qualquer investidor pode querer, porque é óleo no bolso mais rápido”, explicou Chambriard.
Foz do Amazonas
Sobre investimentos, a presidente da Petrobras falou sobre a necessidade da empresa investir na prospecção de novas reservas de petróleo. Ratificou que a Petrobras quer mesmo explorar a região da foz do rio Amazonas, área chamada de Margem Equatorial.
Segundo Chambriard, a estatal planeja perfurar cerca de 30 novos poços de petróleo numa faixa de mar que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte. Parte desses furos será, sim, na foz do Amazonas, mas “há 500 km do litoral, o dobro da distância dos poços do pré-sal até a praia de Copacabana [na cidade do Rio]”, disse.
Ela disse que a Petrobras está se preparando para fazer uma exploração segura da região. Afirmou ainda que a empresa já enviou tudo o que o Instituto Brasieliro do Meio Ambiente (Ibama) solicitou para a liberação da licença para a primeira perfuração.
A exploração de petróleo na Foz do Amazonas é criticada por ambientalistas por seus impactos na região.