Os líderes dos países árabes se reuniram no Cairo nesta terça-feira (4) para a cúpula da Liga Árabe. O objetivo era discutir uma alternativa ao plano amplamente condenado do presidente dos EUA, Donald Trump, apoiado por Israel, de assumir o controle da Faixa de Gaza e deslocar sua população palestina.
O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, disse na abertura da cúpula que o plano de seu governo para a reconstrução de Gaza no pós-guerra garante que os palestinos “permanecerão em suas terras” e que o território será administrado por um comitê de tecnocratas palestinos.
O líder palestino Mahmud Abbas anunciou na terça-feira (4) que as eleições presidenciais e legislativas para a Autoridade Palestina podem ser realizadas no próximo ano, cerca de duas décadas desde a última votação geral. “Estamos totalmente preparados para realizar eleições presidenciais e legislativas gerais no próximo ano, desde que as condições adequadas sejam atendidas em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental”.
Abbas também sinalizou a criação de um cargo de vice-presidente em seu governo, assim como a anistia aos membros expulsos de seu partido Fatah. Os apoiadores estrangeiros da Autoridade Palestina há muito tempo pedem a nomeação de um vice-presidente, e o anúncio pode abrir caminho para que o membro expulso do Fatah, Mohammed Dahlan, seja indicado para o novo cargo.
Com 63 anos, o ex-chefe de segurança do Fatah na Faixa de Gaza foi excluído do partido depois que suas forças de segurança foram forçadas a sair do território palestino por militantes do Hamas. Dahlan é visto como um ator-chave em potencial na governança pós-guerra de Gaza, agora governada pelo rival doméstico do Fatah, o Hamas.
O grupo palestino Hamas pediu que a cúpula da Liga Árabe“frustre” a realocação dos palestinos de Gaza, no momento em que os líderes regionais se reúnem para combater a proposta amplamente condenada do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Estamos ansiosos por um papel árabe eficaz que acabe com a tragédia humanitária criada pela ocupação na Faixa de Gaza… e frustre os planos da ocupação (israelense) de deslocar (palestinos)”, disse um comunicado do grupo militante.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse apoiar fortemente o plano egípcio apresentado aos líderes árabes. “Eu dou as boas-vindas e endosso com veemência a iniciativa liderada pelos árabes de mobilizar apoio para a reconstrução de Gaza, claramente expressa nesta cúpula”, disse Guterres. “A ONU está pronta para cooperar plenamente nesse esforço”.
As Nações Unidas estimam que a reconstrução de Gaza custará mais de US$ 53 bilhões, após uma a ofensiva devastadora do exército israelense, que deixou um saldo de mais de mais de 48 mil pessoas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas, números considerados confiáveis pela organização.
O massacre da população palestina pelas forças armadas de Israel é considerado um genocídio por mais de 50 países, que apoiam a ação da África do Sul contra o governo de Benjamin Netanyahu na Corte Internacional de Justiça.
Os ministros das Relações Exteriores árabes se reuniram na segunda-feira (3) no Cairo para uma reunião a portas fechadas para preparar um plano de reconstrução de Gaza sem deslocar sua população, disse uma fonte da Liga Árabe à AFP sob condição de anonimato.
O plano “será apresentado aos líderes árabes na cúpula de terça-feira para aprovação”, disse a fonte. Vários chefes de estado árabes são esperados, juntamente com ministros das relações exteriores ou outros representantes de alto nível. Entre os participantes estava o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, segundo a mídia estatal.
Trump provocou indignação global quando apresentou pela primeira vez sua ideia de que os Estados Unidos “assumiriam” a Faixa de Gaza e a transformariam na “Riviera do Oriente Médio”, forçando os residentes palestinos a se mudarem para o Egito e a Jordânia.
Impasse no cessar-fogo
Nesta terça-feira (8), o principal diplomata de Israel, Gideon Saar, disse que o país exige a “desmilitarização total de Gaza” e a remoção do Hamas para prosseguir com a segunda fase do acordo de cessar-fogo.
O líder do Hamas, Sami Abu Zuhri, rejeitou a exigência, dizendo à AFP que “qualquer conversa sobre as armas da resistência não é verdade”.
*Com AFP