Pela primeira vez na história desde a inauguração do Sambódromo, em 1984 pelo ex-governador Leonel Brizola, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro serão feitos em três dias. A medida foi um pedido das agremiações, para que nenhuma escola desfilasse com o dia claro. Portanto, nesta terça-feira (4) de Carnaval, as últimas quatro escolas do Grupo Especial vão encerrar as apresentações deste ano.
Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos do Grande Rio e Portela terão entre 70 e 80 minutos para apresentarem seus enredos.
A primeira é a escola do bairro de Padre Miguel, que vai falar dos mistérios do universo, as viagens espaciais e o desenvolvimento tecnológico e científico, dialogando com o passado, o presente e futuro. O enredo Voltando para o futuro – Não Há Limites Para Sonhar também denuncia a destruição do planeta em prol do “desenvolvimento”.
“O verde adoecido da esperança ofega sobre o leito da cobiça. Quem vive pelo preço da cobrança derrama sua lágrima postiça. Fogo matando a floresta, bicho morrendo no cio, febre no pouco que resta, secam as águas do rio, e a vida vai vivendo por um fio”, dizem os versos.

Paraíso do Tuiuti vem em seguida, com o enredo Quem tem medo de Xica Manicongo?, que vai homenagear Xica Manicocongo, considerada a primeira travesti não indígena do Brasil. Em entrevista ao Brasil de Fato, o compositor Cláudio Russo contou como foi o processo de composição do samba que vai embalar a escola na terceira noite do Carnaval do Rio.
“Eu conheci uma entidade chamada Dona Praia e ela consta na letra do samba. Ela foi me contando tantas coisas que eu percebi isso que você falou em off, eu não poderia fazer um samba com uma narrativa comum, começo, meio e fim. Eu percebi que a Xica era muito mais do que um personagem da história. É uma ideia”, pontuou.
O samba-enredo, além de homenagear Manicongo, é também um grito de liberdade da comunidade LGBTQIA+. “Só não venha me julgar Ô Ô pela boca que eu beijo, pela cor da minha blusa e a fé que eu professar. Não venha me julgar, eu conheço o meu desejo, este dedo que acusa não vai me fazer parar”, diz um trecho. “Faz tempo que eu digo não ao velho discurso cristão. Sou Manicongo, há duas cabeças em um coração. São tantas e uma só, eu sou a transição, carrego dois mundos no ombro”, canta a música.

Acadêmicos do Grande Rio entra na avenida com o enredo Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós, homenageando a cultura do Pará e navegando pelas lendas das águas doces da Amazônia. “Se a Boiúna se agita, é banzeiro, banzeiro. Quatro Contas, um cocar. Salve Arara Cantadeira, Borboleta à espreita e a Onça do Grão-Pará”, diz o refrão do samba-enredo, que promete levar o carimbó para a passarela do samba. A atriz Dira Paes será uma das participantes do desfile.

A última a desfilar será a Portela, que vai cantar uma homenagem ao cantor e compositor mineiro Milton Nascimento. Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol é o nome do enredo que inspirou o samba da tradicional escola de samba do bairro de Madureira, no Rio. A escola encerra o carnaval carioca contando a história do artista que completou 82 anos no ano passado e fazendo uma viagem pela poesia de Bituca.
“Dorme a maldade após o temporal, na bandeira a liberdade, vem Bituca triunfal. Cheguei com meu povo, mesmo sentimento, onde Candeia é chama, brilha Milton Nascimento”, canta o refrão.

A apuração das notas recebidas pelas 12 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca será amanhã, quarta-feira (4), a partir das 16h, na Praça da Apoteose, no sambódromo do Rio. O desfile das seis primeiras classificadas será no sábado (8). O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) anunciou que a atriz Fernanda Torres e o filme Ainda estou aqui serão homenageados no Desfile das Campeãs.