Dom Jaime Spengler lançou nesta quarta-feira (5) a Campanha da Fraternidade 2025. Ele destacou que o momento é de repensar as mudanças climáticas, as tragédias ambientais, as ameaças à vida. No site da Arquidiocese de Porto Alegre e em entrevista a várias emissoras de rádio, o cardeal gaúcho destacou que os temas são desafiadores para toda a humanidade a todo momento e exigem um compromisso social da fé de todas as pessoas – governantes, governados, cristãos. O lançamento ocorreu na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Rua Marechal Mallet, 112 – Bairro Harmonia, em Canoas, um dos lugares mais afetados pelas enchentes de maio de 2024.
Para o religioso, o compromisso com a sustentabilidade ambiental e a ecologia integral é uma missão de todas as pessoas para garantir a vida das atuais e das futuras gerações. Segundo ele, a ecologia abrange uma ampla realidade que precisamos encarar com responsabilidade: ciência, práticas consequentes e nova mentalidade. O cardeal explica que estes fatores implicam em relação de reciprocidade entre o ser humano e a natureza. Sem cuidado e compromisso pessoal e comunitário põe-se em risco o futuro da humanidade e do planeta.

Dom Jaime salientou que as últimas enchentes mostraram um sofrimento gigantesco de grande parte dos gaúchos e de outros estados, mas também a compaixão e a solidariedade. “As mudanças climáticas estão afetando a todos. Por isso, está na hora também de ações conjuntas para cuidar da Casa Comum.”
Além da abertura oficial da Campanha da Fraternidade, a Arquidiocese lançou a programação da Quaresma, 40 dias anteriores à Páscoa. No evento em Canoas, houve também um painel sobre “Fraternidade e Ecologia Integral” e “Compromisso Interreligioso”.
Participaram das cerimônias, dezenas de fiéis e integrantes das equipes da caridade das paróquias, onde o cardeal exortou para que a campanha tenha ações permanentes ao longo de todo o ano.
Quaresma

Tempo da Quaresma é o período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, sendo celebrado por algumas igrejas cristãs, dentre as quais a Católica, a Ortodoxa, a Anglicana, a Luterana, algumas denominações Presbiterianas e Reformadas, além de vários centros de matriz africana.
Dom Jaime também divulgou a carta do Papa Francisco I para a Quaresma, com o título “Caminhemos juntos na esperança”, onde o pontífice, que se encontra internado com sérios problemas pulmonares desde 14 de fevereiro, destaca alguns pontos das formas do caminhar juntos:
“Antes de tudo, caminhar. O lema do Jubileu – “Peregrinos de Esperança” – traz à mente a longa travessia do povo de Israel em direção à Terra Prometida, narrada no livro do Êxodo: a difícil passagem da escravidão para a liberdade, desejada e guiada pelo Senhor, que ama o seu povo e sempre lhe é fiel. E não podemos recordar o êxodo bíblico sem pensar em tantos irmãos e irmãs que, hoje, fogem de situações de miséria e violência e vão à procura de uma vida melhor para si e para seus entes queridos”.
Em segundo lugar, façamos esta viagem juntos. Caminhar juntos, ser sinodal, é esta a vocação da Igreja. Os cristãos são chamados a percorrer o caminho em conjunto, jamais como viajantes solitários. O Espírito Santo impele-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos nossos irmãos, e nunca a fechar-nos em nós mesmos. Caminhar juntos significa ser tecelões de unidade, partindo da nossa dignidade comum de filhos de Deus.
Nesta Quaresma, Deus pede-nos que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades.
Em terceiro lugar, façamos este caminho juntos na esperança de uma promessa. A esperança que não engana, mensagem central do Jubileum, seja para nós o horizonte do caminho quaresmal rumo à vitória pascal. Como o Papa Bento XVI nos ensinou na Encíclica Spe salvi, «o ser humano necessita do amor incondicionado. Precisa daquela certeza que o faz exclamar: ‘Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor’. Jesus, nosso amor e nossa esperança, ressuscitou e, vivo, reina glorioso. A morte foi transformada em vitória e aqui reside a fé e a grande esperança dos cristãos: na ressurreição de Cristo!
Eis o terceiro apelo à conversão: o da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna. Devemos perguntar-nos: estou convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás?
Que a Virgem Maria, Mãe da Esperança, interceda por nós e nos acompanhe no caminho quaresmal.”
