A escola de samba Paraíso do Tuiuti emocionou a população LGBTQIA+ do Brasil e do mundo com um desfile que esbanjou diversidade na noite de terça-feira (4), na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ).
O enredo homenageou a primeira mulher trans não indígena com registro historiográfico no país, Xica Manicongo. Sequestrada de África e escravizada no Brasil, ela foi obrigada a se vestir como homem, violando sua identidade de gênero. E sua resistência acabou se tornando símbolo para a comunidade LGBTQIA+.
“Eu travesti, estou no cruzo da esquina pra enfrentar a chacina. Que assim se faça”, diz um trecho do samba-enredo, interpretado pelo intérprete Pixulé. A construção do enredo contou com a colaboração da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Coube à deputada federal trans Erika Hilton (Psol-SP) a apresentação inicial da escola na Sapucaí. A parlamentar também participou da comissão de frente da escola, usando uma faixa presidencial. “O primeiro país do mundo que ainda mata mulheres como Xica Manicongo vai ter que olhar a sua história sendo remontada”, disse a parlamentar em seu discurso.

Nas suas redes, ela publicou um vídeo de seu discurso ao público do sambódromo e escreveu: “Quem tem medo de travesti?”.
A conta oficial do Carnaval do Rio 2025 no Instagram, publicou um trecho do discurso de Hilton no começo do desfile, destacando a potência da mensagem levada pela deputada à Marquês de Sapucaí. “A deputada Erika Hilton, símbolo na luta anti-homofobia e anti-transfobia no Brasil, trouxe para a arrancada do Tuiuti a potência da comunidade LGBTQIA+ num grito de força, resistência e homenagem ao legado de resistência de Xica Manicongo!”, diz a publicação.
‘Traviarcado”
No carro alegórico que levava o nome de Traviarcado, a escola trouxe parlamentares e lideranças trans, que assim como Manicongo, têm se enfrentado o “cistema” para levar a voz de sua comunidade às esferas de poder. Entre elas, esteve a recém-eleita vereadora da capital paulista, Amanda Paschoal (Psol).
“Já foi grande vitória nós estarmos entre tantas travestis, lideranças políticas da militância, ocupando todas as alas da escola”, declarou Paschoal ao Brasil de Fato, destacando ainda a importância de contar a história de mulheres como Xica Manicongo.
“A história de uma ancestral que foi perseguida, justamente por ser quem ela era. E agora nós estarmos ocupando a avenida e tendo a receptividade que tivemos de todas as arquibancadas, de todos os camarotes, foi realmente muito emocionante, muito fundamental”, ressaltou a vereadora.

No Instagram, a seção brasileira da Organização das Nações Unidas (ONU-Brasil) saudou a escolha do enredo pela escola de São Cristóvão. “Este desfile é uma oportunidade para celebrarmos as pessoas trans e travestis e suas histórias!”, declarou a organização, que desenvolve a campanha Livres & Iguais, de promoção da igualdade para as pessoas LGBTQIA+.
A escola conseguiu fechar o desfile no tempo máximo de 80 minutos, mas, no final, teve que apressar o passo para não ser penalizada, o que pode prejudicá-la nos quesitos evolução e harmonia, que avaliam a forma e o ritmo com que a descola desenvolve seu desfile. A apuração das notas das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro ocorre nesta quarta-feira (5), a partir das 16h, na Praça da Apoteose, no Sambódromo do Rio, e será transmitida pela TV Globo.
Confira as imagens do desfile:


