Após uma semana de festas que arrastaram milhões de pessoas nas ruas de Salvador e em diversas cidades do interior, o governo da Bahia divulgou nesta quarta (5) alguns dos principais dados sobre o balanço do Carnaval. Segundo a Secretaria de Turismo do Estado (Setur-BA), 3,5 milhões de turistas aproveitaram a folia no território baiano em 2025, com injeção de R$ 7 bilhões na economia. Os dados superam as marcas de 2024, quando o órgão registrou 3 milhões de visitantes e receita de R$ 6,6 bilhões. Por meio das redes sociais, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) celebrou os bons resultados.
“Estou muito orgulhoso pelo saldo positivo do balanço do Carnaval 2025! Tivemos dias de festa marcados pela valorização da nossa cultura, inclusão social, pelo respeito à diversidade, organização, segurança e empenho de todos que fizeram esse grande evento acontecer”.
Ainda de acordo com a Setur, a ocupação hoteleira foi de 94% em Salvador e 91% no interior, com aumento recorde de 16% no número de turistas internacionais em comparação com o mesmo período do ano passado. O secretário da pasta, Maurício Bacelar, aponta que o Carnaval 2025 foi marcado pela “globalização da festa”.
“Tivemos o maior número de voos da Argentina, Chile e Uruguai para o Nordeste, e os voos de Lisboa, Madri e, especialmente, de Paris, fizeram a diferença. Batemos novo recorde e podemos dizer que globalizamos o Carnaval da Bahia, com gente de todas as partes do mundo”, salienta.
Celebração da ancestralidade
A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi) também destacou os resultados do programa Ouro Negro, que apoia blocos ligados à matriz africana e indígena. Em parceria com a Secretaria de Cultura (Secult), neste ano o programa bateu recorde de investimento, com recurso de R$ 15 milhões direcionados ao fortalecimento de 98 agremiações dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e indígena. A secretária da Sepromi, Ângela Guimarães, celebra o papel destes grupos no resgate da história e identidade do povo baiano.

“O trabalho desses blocos são vivos no cotidiano de suas comunidades e tem muito significado estarmos coletivamente comprometidos para dar visibilidade a estas agremiações, que nos entregam discussões tão valiosas, e gritam em cada canto desta cidade a mensagem da diversidade religiosa, do combate a toda e qualquer violência e intolerância”, destaca.
Por meio da campanha ‘Com Racismo Não Tem Folia’, a Sepromi também ressalta o comprometimento do poder público no enfrentamento às violências e discriminações raciais. O órgão aponta que, durante o Carnaval, os 5 postos fixos de atendimento receberam 4.370 visitas e foram realizadas 3 denúncias. Guimarães também destaca a importância dos blocos tradicionais na luta antirracista.
“Todos os blocos afros, de afoxés, samba, reggae e blocos indígenas dão energia e contribuem para avançarmos nas políticas de promoção da igualdade racial no Estado e no enfrentamento ao racismo”, salienta a secretária.
Direitos Humanos
A Secretaria da Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDH) registrou 961 ocorrências de pessoas em situação de vulnerabilidade, uma redução de 55,8% em relação ao ano anterior. O órgão também aponta uma queda de 90,3% nos casos de trabalho infantil.
No entanto, uma equipe do Plantão Integrado dos Direitos Humanos, liderado pela Coordenação de Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae), escutou trabalhadores e trabalhadoras do Carnaval nos circuitos e identificou diversas violações que constituem casos de trabalho análogo à escravidão. A maioria das denúncias partiram de cordeiros e cordeiras (trabalhadores que seguram a corda que separa os foliões com abadá dos que acompanham os trios de forma gratuita), que segundo o órgão, relatam falta de suporte dos blocos, alimentação inadequada, salários abaixo do acordado e dificuldades para voltar para casa após o expediente.
Em notícia publicada pela SJDH, a Coetrae afirma que vai acionar os órgãos responsáveis pela pauta do trabalho, em âmbito municipal, estadual e federal, para discutir medidas de proteção e reparação dos trabalhadores que tiveram seus direitos violados.
Saúde
A Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) registrou o atendimento de 4.671 pessoas e realizou mais de 18 mil testes rápidos para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em postos montados em Salvador, Rio de Contas e Porto Seguro. O órgão também aponta uma redução de 12,6% no total de ocorrências médicas ocorridas nos circuitos do Carnaval.
Além disso, foram distribuídos gratuitamente mais de 1,3 milhão de preservativos durante o Carnaval em Salvador e no interior do estado, como parte do projeto ‘Camisinha Tá Na Mão’, realizado em parceria com a Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur).
Segurança Pública
Segundo o governo, houve redução de 32,2% nos furtos e 33,1% nos roubos em relação ao ano passado. Além disso, não houve registro de morte violenta ou lesão corporal grave. A Polícia Militar da Bahia montou 47 portais de abordagem em Salvador e 52 em outros municípios, resultando na retenção de 4.963 objetos proibidos nos circuitos, 120 ocorrências envolvendo drogas e 10 prisões. Já a operação ‘Folia e Paz’ abordou 9.360 pessoas e 2.337 veículos, com 5 prisões em flagrante e 17 armas apreendidas.
Fora dos circuitos carnavalescos, no entanto, a ação da Polícia Militar deixou mais marcas de violência. Na madrugada de terça-feira (4), uma operação policial em Fazenda Coutos, no subúrbio da capital baiana, deixou 12 mortos após relatos de invasão de um grupo criminoso no território. Até a manhã desta quinta (6), 11 corpos já haviam sido identificados, todos eles de jovens com idade entre 17 e 27 anos. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, esta é a 100ª chacina em Salvador e região metropolitana desde o início das pesquisas na Bahia, em julho de 2022.
Durante seu programa em plataformas digitais Fala, Jero!, exibido na última quarta-feira (5), o governador da Bahia declarou que haverá uma investigação para saber se houve ‘exagero’ da Polícia.
“De imediato a Polícia Militar estudou a área, mas eles enfrentaram a polícia e por conta disso 12 tombaram. Pedimos já para que todo estudo seja feito para averiguar se houve algum exagero da polícia. Hoje à tarde, [Felipe Freitas], o secretário de Justiça e Direitos Humanos se reuniu com Ministério Público, Defensoria para poder zelar… E o estudo está acontecendo para a gente poder averiguar se houve algum exagero”.