Um enorme apagão em Buenos Aires, capital da Argentina, deixou mais de 600 mil pessoas sem luz na quarta-feira (5) em meio a uma onda de calor com temperaturas de até 40ºC. Na manhã desta quinta-feira (6), mais de 8 mil pessoas permaneceram sem serviço, de acordo com o Ente Nacional Regulador de Eletricidade (Enre).
O governo de Javier Milei disse que o Enre está trabalhando para descobrir “se foi resultado de não conformidade por parte das empresas ou de um acidente”, já que “as informações estão sendo compiladas, primeiro temos que estudar o que aconteceu”. Entidades de proteção aos usuários afirmam que o apagão é explicado pela demora na ampliação do sistema de transmissão da eletricidade.
“A falta de trabalho na extensão do sistema de transmissão de eletricidade coloca o serviço em risco”, disse a Associação de Defesa dos Usuários e Consumidores (Deuco), posicionamento defendido em audiências públicas no final de fevereiro para determinar os novos aumentos de tarifas. O governo aprovou a indexação das tarifas de acordo com a inflação passada, mas os investimentos não estão sendo feitos.
Assim como a Deuco, a União de Usuários e Consumidores (UUyC) aponta a desproporcionalidade dos aumentos de tarifas em relação aos investimentos feitos para evitar problemas nas redes de transmissão de eletricidade. O governo aumentou as tarifas de eletricidade em 400% em 2024, o que passou a representar uma proporção cada vez maior da renda familiar, que não aumentou na mesma proporção. Além da indexação à inflação, as tarifas estão subindo devido à remoção dos subsídios.
Em entrevista ao jornal argentino Página/12, Fernanda Lacey, integrante da diretoria da UUyC aponta que em 2023, cerca de 60% do custo da energia era subsidiado para usuários de renda média, proporção que caiu para 50% após os cortes de Milei. Em relação aos usuários de baixa renda, os subsídios caíram de 75% para 65%.
“O objetivo do governo é eliminar os subsídios para a classe média, deixando apenas dois grupos de usuários: com e sem subsídios. Da parte da UUyC, somos contra a retirada dos subsídios, acreditamos que não é necessário continuar com esse critério de aumentos indefinidos”, afirma Lacey.
Um primeiro apagão massivo aconteceu de madrugada afetando mais de 500 mil pessoas. A segunda queda de energia aconteceu ao meio-dia e afetou 620 mil pessoas. Segundo informação da concessionária Edesur, o apagão foi causado por uma falha em duas linhas de alta tensão, que envolveu a interrupção de máquinas geradoras em meio às altas temperaturas.
Passadas 15 horas do incidente, apenas uma linha havia sido restabelecida e mais de 360 mil pessoas permaneciam sem luz. A queda de energia provocou caos na capital argentina. Semáforos deixaram de funcionar provocando congestionamentos por toda a cidade. O metrô também deixou de funcionar e os trens saíram com atrasos, formando enormes filas nas ruas de Buenos Aires.
Polícia reprime protesto de aposentados

Na quarta-feira (5), a Polícia Federal argentina reprimiu com violência o protesto dos aposentados em frente ao Congresso Nacional do país pela terceira vez consecutiva. Apesar do calor e do caos causado pelos cortes de energia na cidade de Buenos Aires, centenas de manifestantes compareceram à convocação promovida todas as quartas por grupos como Jubilados Insurgentes, Unión de Trabajadores Jubilados en Lucha (UTJEL) e Plenario de Trabajadores Jubilados.
Depois que o grupo de manifestantes foi para a rua, os policiais os cercaram com suas motocicletas e começaram a borrifá-los com gás lacrimogêneo e a espancá-los. De acordo com a Comisión Provincial por la Memoria (CPM), pelo menos 40 pessoas ficaram feridas.
Protesto contra demissões
Outro foco de protestos na quarta-feira (5) foi a sede do Ministério do Capital Humano, convocada pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), para rejeitar a decisão da chefe da agência, Sandra Petovello, de demitir mais de 2 mil trabalhadores.
No início de março, a maioria dos funcionários foi notificada por email de sua demissão e da não renovação de seus contratos, sem aviso prévio. A maioria dos funcionários demitidos pertencia à área de Infância, Adolescência e Família do Ministério da Criança, Adolescência e Família.
Muitos dos demitidos eram funcionários de longa data desse departamento, que anunciou a medida como parte do plano de redução de pessoal do Estado que está sendo promovido pelo governo de extrema direita de Javier Milei.
*Com Página/12 e Telesur