Mais um 8 de março chegou, e por todo o Brasil, coletivos de mulheres, movimentos sociais, políticos e sindicais têm se organizado para a construção da data que abre a agenda de lutas anualmente. Com manifestações marcadas diversas cidades do país, a data também conhecida apenas como 8M chega logo depois da celebração do Carnaval 2025, com o mote Mulheres contra as guerras, o racismo e as violências: pela legalização do aborto, por democracia e sem anistia para golpistas!
Neste ano, além das pautas históricas reivindicadas anualmente no 8M como a legalização do aborto, o fim da violência de gênero e igualdade salarial, a pauta sem anistia para golpistas também ganha destaque dentro das reivindicações dos coletivos de mulheres, e faz referência à continuidade da luta contra o autoritarismo dos tempos da ditadura aos dias atuais.
Proposto pela primeira vez em 1910, pela ativista comunista e defensora dos direitos das mulheres, Clara Zetkin, durante a realização da Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, na Dinamarca, a ideia foi apresentada para o conjunto de mulheres que marcaram presença no evento. As origens que consolidaram o 8 de março, no entanto, não se explicam apenas com esse marco. Elas estão conectadas com uma série de eventos históricos relacionados à luta de mulheres da classe trabalhadora na Rússia, nos Estados Unidos e em países europeus no início do século 20.
No Ceará, assim como em outros estados brasileiros, diversos municípios receberão manifestações de rua construídas por coletivos de mulheres e movimentos sociais. A integrante da executiva nacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e militante da organização no Ceará, Raquel Viana, destaca que o 8 de março é uma data importante para o calendário de lutas feministas, pois simboliza a luta histórica das mulheres e também pelo significado político que tem a data. “Nós compreendemos que o 8M é uma data importante porque ele ajuda a visibilizar as pautas do movimento feminista e a luta cotidiana das mulheres. É importante dizer também que o 8 de março não é só uma data, mas também um momento de denunciar as desigualdades de gênero e opressões sobre os corpos das mulheres”, aponta.
Em relação ao tema das manifestações deste ano, a militante ressalta que a escolha do mote se torna cada vez mais difícil, dado o acúmulo de opressões que as mulheres sofrem de forma constante, e que todas são importantes para serem denunciadas. Viana destaca ainda a solidariedade das mulheres palestinas que tem feito enfrentamento direto aos diversos tipos de violências dado o contexto de guerra no país. “Aqui no Brasil nós também temos a compreensão de enfrentamento de diversas guerras, claro que em outros contextos, seja de enfrentamento às opressões, as violências nas favelas a partir da ação do estado na ‘guerra às drogas’, principalmente as mulheres negras que são quem mais enterram seus filhos”, conclui.
A ativista evidencia ainda outros elementos presentes no mote dos atos deste ano, como a defesa intransigente da democracia, a legalização do aborto, que, de acordo com Viana, deve ser abordado nas bases da sociedade e dialogado com o povo, para assim compreenderem a necessidade da legalização enquanto debate sobre saúde pública, para assegurar a vida de mulheres. E por fim, ressalta a importância das mulheres se organizarem em torno da pauta de não anistia aos criminosos que atentaram contra a democracia brasileira, assim como a prisão de Bolsonaro.
Assim, para denunciar as opressões enfrentadas de forma diária e reivindicar direitos para garantia de uma vida digna, o 8M tem atividades e protestos marcados em horários variados pelo Ceará.
Fortaleza
No dia 8 de março, coletivos de mulheres, organizações políticas e sindicais, e movimentos sociais realizam um grande ato político-cultural para celebrar o 8M, com caminhada pelo Centro de Fortaleza, encerrando na tradicional Praça do Ferreira. A programação na capital cearense está sendo articulada em parceria com as frentes Brasil Popular, Povo Sem Medo, coletivos feministas, movimentos sociais e sindicais, além de partidos de esquerda.
Com o tema “Mulheres vivas do Brasil a Palestina: pela prisão de Bolsonaro e todos os golpistas, pela democracia, pelo fim do fascismo, por mais mulheres na política, autonomia econômica e justiça ambiental”, o ato tem início a partir das 8h da manhã.
8h – Mística de abertura e concentração na Praça da Bandeira para a caminhada até a Praça do Ferreira
Cariri
Já na região do Cariri, a manifestação em alusão ao 8M acontece na próxima quarta-feira (12), a partir das 8h. A concentração está marcada para acontecer em frente a Prefeitura de Crato. Verônica Isidório, militante negra da Frente de Mulheres do Cariri e da coordenação do 8M no Cariri, destaca os principais desafios para a construção da agenda de luta, sendo o financeiro e a mobilização os principais deles. “Nós não conseguimos chegar em todos os lugares por conta do desafio financeiro, que tem impacto na mobilização. Então não conseguimos chegar nas comunidades rurais, quilombolas, nas periferias, e nossa mobilização acaba sendo limitada frente a isso”, afirma.
Diferente da capital cearense, o mote escolhido pelos coletivos de mulheres, movimentos sociais e sindicais, entidades e outras instituições foi Mulheres negras por reparação e bem viver. Em entrevista ao BdF Ceará, a coordenadora explica que o mote escolhido é uma forma de unir-se com a mobilização para a Marcha Regional das Mulheres Negras, e consequentemente contribuir com a mobilização da marcha nacional, prevista para acontecer em 25 de novembro deste ano, em Brasília. “A construção do 8M e da Marcha Regional das Mulheres Negras tem se dado de forma coletiva por meio de encontros presenciais e virtuais para realização de mobilização financeira e outras articulações que contribuam com a realização do evento”, encerra.
De acordo com Isidório, outras atividades em alusão ao mês de março e a simbologia para a luta das mulheres também estão previstas para acontecerem, e cita espaços de debate nas escolas da rede municipal e estadual, assim como universidades estaduais, federais e da rede privada de ensino. “Nós também temos nos programado para irmos aos bairros, em associações, tudo isso conforme convites e dentro de nossas possibilidades”, explica. Por fim, a militante explica a importância da data para a região caririense, marcada por constantes violências contra as mulheres. “Nós temos conversado com um conjunto muito grande e diverso de mulheres, incluindo mulheres de religiões de matrizes africanas, católicas, evangélicas, mulheres holísticas, empregadas domésticas, professoras, estudantes, servidoras públicas, e não só mulheres, mas homens que também querem contribuir e fortalecer a nossa luta”, encerra.
Crateús
No município de Crateús, o ato do 8 de março tem sido convocado por meio da Secretaria de Proteção à Mulher e a Família, e está previsto para acontecer neste sábado (8), a partir das 7h30, no Monumento Coluna Prestes.
Com o mote Mulheres diversas, Crateús em defesa delas, a secretaria tem convocado coletivos, entidades e movimentos para a caminhada unificada, e promete ser um momento especial para refletir, celebrar conquistas e fortalecer a luta por igualdade, respeito e oportunidades para todas as mulheres.
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