A economia brasileira cresceu 3,4% em 2024. Alcançou, assim, sua maior expansão desde 2021 e superou com folga as expectativas de bancos e do próprio governo para o ano.
Mas não foi só o percentual de crescimento que foi considerado positivo. A forma como ele foi obtido também chamou a atenção.
Em 2024, o crescimento econômico esteve ligado ao aumento da produção industrial e também do investimento, este medido pela formação bruta de capital fixo. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira (7), as duas variáveis tiveram alta de 3,3% e 7,3%, respectivamente.
Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, explicou que essas altas são especialmente benéficas para a economia nacional. Isso porque o crescimento delas dinamiza a atividade econômica no presente e também no futuro.
“Crescimento sempre é bom. Mas o crescimento com investimento garante o crescimento do amanhã”, disse o economista. “Com investimento, aumentamos nossa capacidade de produção, nossa capacidade de crescer sem ficar sujeito à inflação.”
Pedro Faria, economista, ratificou a qualidade do crescimento da economia nacional em 2024. “Tivemos um ‘bom’ crescimento. Porque, ao aumentar a produção da indústria e o investimento, nós criamos condições para mais crescimento no futuro.”
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atribuiu o aumento da produção e do investimento a causas como o apoio governamental à compra de máquinas.
Ele lembrou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Desenvolvimento Social (BNDES), desde 2022, ampliou em 130% os desembolsos de empréstimos destinados a esse tipo de investimento. No ano passado, pela primeira vez desde 2018, o banco emprestou mais dinheiro para a indústria do que para o agronegócio.
O economista ressaltou ainda que o consumo das famílias também contribuiu para o aumento da produção industrial e do PIB como um todo. O IBGE informou que ele cresceu 4,8% em 2024. Isso é mais que o dobro do que o crescimento do consumo do governo, que aumentou 1,9% no ano passado.
“Tivemos um crescimento industrial e dos investimentos tão bom que eles elevaram o PIB mesmo com a queda de 3,2% na produção agropecuária causada por intempéries climáticas”, destacou Weiss. “Aliás, qualitativamente, o crescimento de 2024 foi bem superior ao de 2023, o qual foi puxado pelo agro.”
Sinal amarelo
Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), alertou que esse crescimento não deve se repetir este ano. A principal razão é o aumento da taxa básica de juros, a Selic, a qual tende a frear o consumo e o investimento.
A Selic é definida pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação no país. Quando sobe, ela leva a uma alta geral de juros no país, encarecendo empréstimos e financiamentos. Isso adia compras e investimento. Freia a atividade econômica.
A taxa está em alta no Brasil desde setembro do ano passado. Naquela época, ela estava em 10,5% ao ano. Essa alta se intensificou em dezembro. Hoje, a Selic está em 13,25% e, segundo o BC, deve subir novamente em março.
“Os juros baixos incentivaram o investimento. Mas você terá um efeito contrário agora”, disse Oliveira. “Com a alta do juros, haverá uma queda do investimento e da atividade.”
Cantelmo afirmou que os sinais de desaceleração na economia já foram captados pelo IBGE no final de 2024. No último trimestre do ano, a economia brasileira cresceu menos do que nos demais trimestres do ano. A taxa ficou em 0,2% ante ao trimestre anterior.
No primeiro trimestre do ano passado, o crescimento havia sido de 1%; no segundo, de 1,3%; e no terceiro, de 0,7%. As comparações são sempre com o trimestre anterior.
Cantelmo disse que a queda é efeito direto da Selic. “Os juros vão impedir um ciclo de bonança, principalmente relacionado à expansão da indústria e atividades mais complexas.”
José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), prevê um 2025 complicado para a economia.