É chegado mais um 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, uma das datas mais importantes do calendário feminista e celebrada em todo o mundo. Há 115 anos, mulheres se organizam de diferentes formas para denunciar as diversas expressões das desigualdades vivenciadas por nós, que atravessam toda a sociedade e se aprofundam a partir das estruturas do racismo, do patriarcado e do sistema capitalista, que se retroalimenta das opressões e explorações.
A partir dessa mobilização, as mulheres brasileiras alcançaram conquistas fundamentais para garantir cidadania e dignidade. Foi a luta das mulheres que nos deu o direito ao voto, ao estudo, a ter uma profissão e ao trabalho para além do espaço doméstico. Pelas mãos do movimento feminista brasileiro, conseguimos mais liberdade e autonomia, mas queremos e precisamos de mais.
No Ceará, de acordo com o Censo de 2022, 52,6% dos lares são chefiados por mulheres e grande parte delas, além de prover o sustento, também realizam as atividades domésticas e de cuidado. As mulheres brasileiras dedicam, em média, quase 10 horas a mais do que os homens a esse tipo de trabalho. As mulheres pretas e pardas dedicam ainda mais tempo ao lar, são 1,6 hora a mais por semana que mulheres brancas.
Considerando a renda das mulheres, os dados apontam que elas ganham o equivalente a 78,9% do recebido por homens. Mais uma vez, ao analisar os dados a partir da raça, percebemos que este é fator decisivo, pois 41,3% das mulheres pretas ou pardas estão abaixo da linha, contra 21,3% das mulheres brancas. Na política, a desigualdade também é latente, na Câmara de Fortaleza, por exemplo, somos apenas nove vereadoras entre os 43 parlamentares eleitos.
Ao pensar nas mulheres de Fortaleza, é impossível não destacar o papel das gestões da ex-prefeita Luizianne Lins, que impulsionaram políticas públicas fundamentais. Foi criada a Coordenadoria de Mulheres, com status de secretaria, e foram implementados diversos serviços essenciais para prevenir e enfrentar a violência de gênero, como o Centro de Referência Francisca Clotilde, a Casa Abrigo, além de campanhas permanentes. Na saúde, conquistamos o Hospital da Mulher, uma referência em saúde reprodutiva, que foi construído pelas mão de pedreiras. Tivemos ainda os Círculos de Participação das Mulheres, o Bloco Adeus Amélia, o papel da casa no nome das chefes de família e tantas outras iniciativas que promoveram significativos avanços na vida das fortalezenses, sobretudo das mais pobres.
Na contramão da gestão Fortaleza Bela, durante os 12 anos das gestões Roberto Cláudio e Sarto, tivemos um desmonte das políticas públicas para as mulheres implementadas nos governos da prefeita Luizianne. Uma das mais significativas foi a tentativa de desmonte do Hospital da Mulher, demonstrando que as mulheres nunca foram prioridades desses governos.
Junto à retomada da democracia com o presidente Lula, as políticas públicas para as mulheres voltaram para o centro do governo. Iniciativas como a Política Nacional de Cuidados e a Lei de Igualdade Salarial representam essa prioridade. Contudo, sabemos que ainda estamos longe de uma sociedade de fato igualitária e que precisamos de mais avanços e investimentos. Nossa expectativa é que, assim como em nível federal, também em Fortaleza, com a gestão do prefeito Evandro Leitão, retomemos um novo ciclo de políticas para as mulheres, retomando o legado de Luizianne, com o desafio de avançar.
Este ano, novamente, mulheres de diversos lugares do mundo saem às ruas levando pautas que debatemos e denunciamos diariamente. O tema escolhido pelas mulheres de Fortaleza para o ato de 2025 é “Mulheres contra as guerras, o racismo e as violências: pela legalização do aborto, por democracia e sem anistia para golpistas!”. A amplitude da temática mostra como a luta feminista está alinhada às lutas globais, buscando o fim das desigualdades e das injustiças para todas as pessoas. Adiante, mulherada, sigamos em movimento e em luta para transformar o mundo!

Mari Lacerda é vereadora de Fortaleza pelo PT, mestra em Sociologia (UFC) e militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). @marilacerdapt
Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato CE.