O Fantástico, programa da Rede Globo, começou tarde a colocar Brasil afora o escândalo de corrupção em Porto Alegre, onde livros viraram caso de polícia desde 2023: um escândalo na Secretaria Municipal de Educação (Smed).
As operações policiais já estão na terceira fase, com presos, denúncias graves de desvio de recursos públicos de quase R$ 60 milhões e o envolvimento direto do gabinete do prefeito Sebastião Melo (MDB), reeleito com folga em novembro de 2024, mesmo com o caos das enchentes.
Na reportagem do jornalista Giovani Grizotti, veiculada neste domingo (9), na Rede Globo, ele mostra todo o processo de corrupção na Smed, com milhares de livros didáticos encontrados completamente podres e inúteis em um galpão da prefeitura.
A Câmara dos Vereadores formou duas comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Foi constatado, imediatamente, fraudes, compras de um mesmo fornecedor e descaso geral. “Foi praticamente forjada uma simulação de preços, um jogo de cartas marcadas, algo direcionado”, disse o delegado responsável pelo caso, Max Otto Ritter.

Sete pessoas chegaram a ser presas inicialmente, entre elas, Sônia da Rosa, secretária de Educação de Porto Alegre. Os livros foram comprados em 2022. Outras pessoas foram indiciadas e estão sendo investigadas. “Nós temos provas nos autos de que um apartamento foi adquirido logo após essas contratações de livros ou em meio a elas. E parte do valor desse imóvel, cerca de R$ 300 mil, se deu a título de propina”, afirmou o delegado no Fantástico.
Um assessor diretamente vinculado ao gabinete do prefeito também foi preso. O advogado Reginaldo Bidigaray permaneceu lotado no gabinete do prefeito Sebastião Melo (MDB) por vários dias até a denúncia chegar ao público. Foi demitido. Anteriormente, Bidigaray havia sido chefe de gabinete do vereador Pablo Melo.
Reações
O vereador Giovanni Culau (PCdoB) afirmou nesta segunda-feira (10) que este caso “mostra o caráter da gestão ineficiente e duvidosa da prefeitura que precisa ser desmascarado. Foi dado o ponta pé na CPI da Educação ano passado, hoje o esquema se revela ainda maior e em nível nacional. Justiça seja feita. Vamos pra cima”.
Já a vereadora Karen Santos (Psol) disse que a situação é gravíssima para Porto Alegre. Ela só estranhou o fato do ex-vereador Pablo Melo (MDB), filho do prefeito, não ter sido incluído na reportagem.
O deputado estadual Leonel Radde (PT) disse que o prefeito Sebastião Melo deu o nome de “parceirização”, “o que na verdade é mais uma forma de empresas roubarem dinheiro público em compras inúteis que ficam estocadas em depósitos”.
Segundo Radde, é importante dizer que estas denúncias foram alertadas durante a última campanha eleitoral. “A matéria do repórter Grizotti mostra que até um apartamento foi comprado com o dinheiro de propina. Milhares de livros didáticos apodreceram em um depósito depois da enchente. O esquema criminoso foi desvendado graças ao trabalho competente das polícias estadual e federal. O modus operandi deste tipo de corrupção também foi usado em mais de 50 municípios gaúchos.”
A matéria teve também ampla repercussão nas redes sociais, como Instagram e Facebook. “Iniciamos a semana passando esta vergonha em rede nacional. Tem muita água passando debaixo dessa ponte”, disseram vários internautas, entre eles a advogada Juliana Souza.
Defesa
A ex-secretária da Smed, Sônia da Rosa, prefere silenciar diante da denúncia. Hoje, ela voltou a dizer que só se manifesta pelos autos. A prefeitura de Porto Alegre afirma que o prefeito “tomou todas as medidas necessárias para corrigir o que precisava ser corrigido” e “repudia qualquer uso indevido de dinheiro público”.
No X, antigo Twitter, o prefeito Melo aproveitou hoje para criticar a esquerda em vez de dar explicações concretas sobre o assunto. Ele reafirmou que não admite ataques à sua biografia política.
A atual secretaria de Educação diz que a distribuição dos livros “seguia um cronograma” e que “seriam entregues no segundo semestre de 2024, se a enchente não tivesse acontecido”.
Como está a operação
Os principais resultados da Operação Capa Dura são os seguintes: apreensão de documentos e materiais; identificação de um esquema criminoso nacional com várias pessoas envolvidas; verificação de conluio entre empresas e agentes públicos; comprovação de lavagem de dinheiro; identificação de direcionamento de compras para empresas específicas; comprovação de aquisição de produtos desnecessários ou em excesso. A operação já está na terceira fase.
