No último 8 de março, a sociedade fez merecidas homenagens ao Dia Internacional das Mulheres. Flores, chocolates, mensagens, declarações e serenatas não pararam de aparecer nas redes sociais, fazendo menção à passagem do dia. No entanto, há algo que eu queria trazer para a reflexão do estimado leitor, que muito me inquieta enquanto homem e que está fora das metas comerciais e das homenagens, muitas vezes, bregas e forçadas.
Já pararam para perceber a quantidade de mulheres que participaram, efetivamente, de fatos históricos, mas a menção à participação delas foi negligenciada ou deturpada? Citaremos alguns exemplos: Rosa Parks, Nísia Floresta, Maria Lacerda de Moura, Mary Winsor, Anne Frank, Maria Quitéria, Nise da Silveira e Anayde Beiriz. Obviamente que faltaria espaço para citar a quantidade de mulheres que tem participação importante nos fatos históricos, mas que foram negligenciadas, de maneira desonesta e proposital, pela historiografia.
Ainda que tantas mereçam atenção, vou me ater à poetisa paraibana Anayde Beiriz. Nascida na cidade da Parahyba (atual João Pessoa), fez carreira no magistério atuando como professora na cidade de Cabedelo (PB). Poetisa, escritora, defensora do voto feminino, fez do seu corpo uma luta contra a sociedade da década de 20, pois enfrentou comportamentos que, até o momento, eram impossíveis de visualizar na Paraíba. Como afirma a historiadora Sabrina Bezerra, “ela chocou por se permitir ter essa liberdade que não era permitida naquela época”.
Apesar de todo esse histórico de luta política e representatividade cultural, adivinhem, caros leitores, como Anayde ficou conhecida a posteriori? Amante de João Dantas, mulher que teve um caso com o governador da Paraíba, João Pessoa, e obrigou seu amado cometer o assassinato do político em nome da honra masculina. Pois é, conseguiram colocar Anayde como a grande responsável de um crime político que mudou a história do Brasil, deturpando todo seu histórico de vida. Assim como foi feito com a poetisa paraibana, esse ciclo é repetido com várias biografias femininas e talvez com a sua também, mulher, pois isso nada mais é do que o olhar colonizador masculino sobre o feminino.
Depois de todo esse alvoroço, perdeu seu namorado João Dantas – assassinado na cadeia em Recife –, teve que se esconder em casa, posto que era ameaçada de apedrejamento e, por fim, para fugir da perseguição policial, foi se esconder no Asilo Bom Pastor, que se localizava na capital pernambucana. Acabou cometendo suicídio ao ingerir doses de arsênico, só conseguindo sua liberdade ao se matar.
Antes de encerrar, fui tomado pela inquietação – enquanto homem e historiador – de fazer com que você, leitor, não repita e nem queira reproduzir o que se passou na história de Anayde e de nenhuma outra mulher. Encerro meu texto com as palavras de José Joffily, autor do livro Anayde Beiriz: paixão e morte na revolução de 30: “Anayde padeceu comprimida dentro dos acanhados limites de uma sociedade governada por grupos oligárquicos de mentalidade agropastoril, padecimento que só cessou quando Anayde se livrou da vida”.
*Rafael da Silva Virginio é professor de história da rede particular de João Pessoa. É especialista em História da Paraíba.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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