A Comunidade Quilombola Paiol de Telha, localizada em Reserva do Iguaçu (PR), foi alvo de um episódio de repressão policial e denúncias de racismo na última quinta-feira (6). Quilombolas que protestavam pacificamente pela titulação de terras foram abordados por cerca de 120 policiais militares, detidos e levados à delegacia.
A comunidade aguarda há décadas o reconhecimento integral de seu território e tem buscado diversas formas de diálogo com o Estado brasileiro. Diante da morosidade do processo, ingressou com uma Ação Civil Pública (ACP) para acelerar a titulação e obteve uma decisão favorável. No entanto, ainda não teve acesso pleno à terra.
Na manifestação de quinta-feira, 36 quilombolas — entre crianças, mulheres e idosos — foram abordados pela Polícia Militar. Segundo relatos, os agentes agiram de forma truculenta, fizeram revistas violentas sob sol forte e transportaram o grupo em um ônibus escolar até a Delegacia de Pinhão, que fica a 40 minutos de Reserva do Iguaçu. A organização Terra de Direitos denuncia que os detidos passaram horas sem informações sobre a detenção e sem acesso a alimentação adequada.
Os manifestantes denunciam ainda episódios de racismo por parte dos policiais. Segundo os relatos, agentes de segurança jogaram bananas para o grupo detido.
Após pressão psicológica, parte dos quilombolas assinou um termo circunstanciado e foi liberada após seis horas. Os demais, que se recusaram a assinar, foram liberados por volta das 15h, mas responderão a processo penal por esbulho possessório, organização criminosa e corrupção de menores. Alguns também relataram o extravio de pertences.
A Comunidade Quilombola Paiol de Telha é a única parcialmente titulada no Paraná e tem uma trajetória histórica de luta pelo direito ao território tradicional. O caso reacende debates sobre a criminalização de protestos e a violência estatal contra povos tradicionais.
Em nota, a Terra de Direitos ressalta que tratar o legítimo direito de manifestação como crime, com um sequência de condutas de violação de direitos, evidencia que o país mantem as estruturas históricas de concentração de terra e poder nas mãos do latifúndio. “A Terra de Direitos reivindica que sejam investigadas as condutas dos agentes de segurança e dos órgãos de repressão envolvidos neste grave caso e devidamente responsabilizadas pelas violações cometidas”, diz a nota.
A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Polícia Militar para obter esclarecimentos sobre a atuação dos agentes e os procedimentos adotados, mas ainda não obteve retorno. O conteúdo será atualizado assim que houver resposta.