Cerca de 2,3 milhões de hondurenhos foram às urnas neste domingo (9) para participar das Eleições Primárias, um processo aberto e simultâneo que definiu os candidatos que vão disputar as eleições gerais do próximo 30 de novembro.
Com uma participação de cerca de 40% do eleitorado — de um total de 5,8 milhões de hondurenhos aptos a votar —, foram escolhidos os candidatos dos três principais partidos políticos do país.
As eleições gerais de novembro acontecem num momento em que Honduras vive uma profunda reconfiguração política e social. Serão as primeiras eleições desde a chegada de Xiomara Castro à presidência, em janeiro de 2022, quebrando o histórico bipartidarismo — representado pelo Partido Nacional e pelo Partido Liberal — que dominou o país por décadas.
Além disso, as eleições ocorrem num cenário de forte hostilidade dos Estados Unidos em relação à região. Elas não representam apenas uma disputa entre diferentes visões sobre o futuro do país, mas também uma luta entre projetos que buscam maior soberania para a América Latina e o Caribe frente a Washington e aqueles que promovem uma maior subordinação.
Resultados das eleições
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — presidido por Cossette López, representante do Partido Nacional, de oposição — divulgou os resultados preliminares, garantindo que os dados definitivos estarão disponíveis até 8 de abril.
No partido governista Libertad y Refundación (Libre), Rixi Moncada vai representar a continuidade do “socialismo democrático” — como é chamado o projeto do partido — nas eleições gerais. Com 92% dos votos, a atual secretária de Estado da Defesa Nacional venceu por uma ampla margem seu oponente, Rasel Tomé, atual vice-presidente do Congresso Nacional.
O partido Libertad y Refundación (Libre) foi criado em 2011 pela Frente Nacional de Resistência Popular, organização social que surgiu em resposta ao golpe de Estado de 28 de junho de 2009, que derrubou o então presidente Manuel Zelaya. Tudo começou quando Zelaya tentou realizar um referendo não vinculativo, conhecido como “quarta urna”, para perguntar aos cidadãos se apoiavam a criação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
O golpe foi impulsionado pela oposição das elites econômicas e políticas tradicionais, principalmente ligadas ao Partido Liberal e ao Partido Nacional, que viam com desconfiança a aproximação de Zelaya com governos de esquerda, como os de Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Morales, na Bolívia, além da entrada de Honduras na Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA).
Desde sua fundação, em 2011, o partido Libertad y Refundación (Libre) participou das eleições gerais de 2013 e 2017, consolidando-se como a segunda força mais votada em ambas as ocasiões. Depois de mais de uma década de resistência ao golpe de Estado — e aos governos ligados ao narcotráfico que vieram depois —, em 2021, Xiomara Castro – esposa de Zelaya – venceu as eleições, tornando-se a primeira mulher presidente na história de Honduras.
Nas eleições internas do Partido Liberal (PL), o apresentador de TV Salvador Nasralla, conhecido como “senhor da televisão” por sua influência na mídia, venceu com 54% dos votos contra o deputado nacional Jorge Cálix, que ficou com 34,54%.
Nas eleições presidenciais de 2021, Salvador Nasralla havia desistido de sua candidatura em favor de Xiomara Castro. Após a vitória de Castro, ele foi nomeado “primeiro designado presidencial”, cargo semelhante ao de vice-presidente, mas renunciou no início de 2024, alegando que não tinha “nenhuma função na máquina do governo” e que queria concorrer à presidência nestas eleições.
Já no Partido Nacional (PN), o ex-prefeito de Tegucigalpa, Nasry Asfura, venceu com 76,51% dos votos, deixando para trás Ana García Hernández, esposa do ex-presidente Juan Orlando Hernández, que cumpre pena de 45 anos de prisão nos Estados Unidos por tráfico de drogas.
Controvérsias e atrasos no processo eleitoral
O processo eleitoral foi marcado por vários problemas ao longo do dia. A abertura de várias seções eleitorais, principalmente em Tegucigalpa e San Pedro Sula, foi prejudicada por falhas graves na distribuição do material eleitoral, causando atrasos de mais de cinco horas em muitos casos. Os longos atrasos impediram que muitas pessoas votassem, gerando insatisfação entre os eleitores e críticas da oposição.
As Forças Armadas, responsáveis pela distribuição do material eleitoral, foram apontadas como uma das responsáveis pelos problemas. O chefe do Estado-Maior Conjunto, Roosevelt Hernández, reconheceu que houve falhas logísticas, especialmente em Tegucigalpa, e atribuiu os atrasos a “lições aprendidas”.
Enquanto isso, líderes da oposição, como Jorge Cálix, acusaram a ministra da Defesa, Rixi Moncada, de usar sua posição para desencorajar a participação de eleitores de outros partidos.
Em resposta às irregularidades, o Ministério Público de Honduras anunciou que vai abrir uma investigação para apurar as causas dos atrasos. Em um comunicado, o procurador-geral, Johel Antonio Zelaya Álvarez, disse que uma equipe especializada, formada por promotores de várias unidades, vai investigar se houve negligência ou má-fé na organização do processo eleitoral.