Na tarde desta terça-feira (11), durante a primeira sessão da Câmara de vereadores de Olinda após o Dia Internacional de luta das Mulheres, a vereadora Eugênia Lima (PT) afirma ter sofrido violência política de gênero na casa legislativa. A petista discursaria sobre a manifestação das mulheres realizada no dia oito de março, falaria de casos de feminicídio e dos problemas percebidos no Carnaval da cidade este ano. Mas, antes que chegasse a sua vez de falar, a mesa diretora da casa legislativa encerrou as atividades.
O regimento prevê, em cada na sessão, até seis falas de 15 minutos de duração, sendo uma por partido. A vereadora conta que foi a sétima inscrita, mas como dois inscritos são do PSD – o Professor Marcelo e Jesuíno Araújo, que inclusive compõem a mesa diretora -, eles dividiram seu tempo de fala, restando um tempo de 15 minutos para Eugênia, única parlamentar de oposição na casa. Mas a mesa diretora, 100% governista e masculina, ignorou a petista e encerrou a sessão, o que ela qualifica como “censura”. A próxima sessão é só daqui uma semana, no dia 18.
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Em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco, Eugênia cita que estava inscrita desde o início da sessão. “Quando ele [vereador Professor Marcelo] acabou a sessão, levei um susto. Passei a manhã preparando o texto. Prestaria solidariedade à família de uma conhecida minha que foi vítima de feminicídio. Queria pedir 1 minuto de silêncio. Mas cercearam um direito que é meu por regimento. Sou vereadora igual a todos os outros. Censuraram o Partido dos Trabalhadores”, desabafou a parlamentar.
A sessão era presidida pelo vereador Professor Marcelo (PSD), vice-presidente da casa. Também compunham a mesa naquele momento o 1º secretário e líder do governo Jesuíno Araújo (PSD), o 2º secretário André Simplício (PV) e o 2º vice-presidente Márcio Barbosa (Avante). A casa é presidida por Saulo Holanda (MDB), que não estava presente na sessão.

A sessão foi transmitida pelo canal da Câmara Municipal de Olinda no Youtube e é possível ver, logo após o aparte da vereadora Denise Almeida (PSD) à fala do vereador Labanca (PV), o presidente da sessão, Professor Marcelo, encerrar as atividades e ser questionado (sem áudio). A Câmara de Olinda tem apenas duas mulheres entre os 17 vereadores.
Ela considera “gravíssimo” o que foi feito do ponto de vista institucional. “Eu fiquei me sentindo um lixo. Isso dói mesmo”, falou a petista em conversa com a reportagem. “Fizeram isso porque sou mulher, mas também por ser de oposição. Eles decidiram tolher minha voz. Mas eu tenho a minha função”, diz ela, negando qualquer possível argumentação sobre interpretação regimental. “Foi uma decisão política e foi feita de maneira consciente”, completa.
A reportagem do BdF PE não encontrou, nas redes sociais do vereador Professor Marcelo, quaisquer opções de contato via telefone ou e-mail. Enviamos uma mensagem no seu perfil no Instagram e, tão logo tenhamos resposta, acrescentaremos na matéria. Também não encontramos contato do vereador Saulo Holanda (MDB), presidente da casa, e também deixamos mensagem nas suas redes sociais.
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A atitude acontece poucos dias após o Dia Internacional da Mulher. A Casa Bernardo Vieira de Melo fica a menos de 100 metros do Largo do Varadouro, ponto de encontro da manifestação de mulheres do dia 8 de março deste ano.
Não é a 1ª vez
Eugênia Lima (PT) lembra que noutra sessão, há algumas semanas, quando ela subiu à tribuna para fazer sua fala, a mesa diretora cortou seu tempo pela metade, alegando que ela só teria direito a sete minutos e meio, já que o vereador Labanca (PV) integra a mesma federação partidária do PT. “Pensando no caso de hoje, ainda que fosse por esse argumento [da federação partidária], eu teria direito a sete minutos e meio o vereador do PV a sete e meio, mas deram 15 minutos a ele e impediram a minha fala”, avalia a parlamentar.
A petista acrescenta que nas demais cinco sessões ordinárias da Câmara de Olinda houve mais de seis falas de 15 minutos, exceto hoje. “Primeiro diminuíram meu tempo, hoje retiraram meu tempo. Na próxima vez não vão me deixar entrar na Câmara”, ironizou Eugênia.
Carnaval e anistia
Ao longo da sessão desta terça (11), Eugênia fez apartes às falas dos outros vereadores. Quando o vereador Jesuíno (PSD) discursava, de maneira elogiosa, avaliando o trabalho da Prefeitura de Olinda e do Governo de Pernambuco durante o Carnaval na cidade como “brilhante”. “Acho que o senhor não andou nas ruas no Carnaval. Eu nunca vi um Carnaval tão desorganizado. Vi ambulante dormindo nas ruas, sem dignidade. Não houve decoração nas ruas – no domingo de Carnaval ainda estavam colocando decoração”, disse Eugênia, destacando que é “foliã antes de ser vereadora”. Assista abaixo.
A atuação da Secretaria de Controle Urbano da gestão Mirella Almeida (PSD) foi bastante criticada pela vereadora. “Um caos no trânsito nunca visto. No meio dos blocos, chegava um caminhão de gelo, carro sem adesivo estacionado ou querendo passar, batucada querendo atravessar e descaracterizando o Carnaval, muitos carros nas ruas sem adesivos, moto Uber liberado, ônibus da Polícia Militar estacionado em cima das calçadas… não houve controle urbano”, bateu a petista.
Antes, num aparte à fala do vereador bolsonarista Sarmento (PL), que pedia anistia às pessoas que depredaram os prédios dos três poderes da República no dia oito de janeiro de 2023, Eugênia Lima (PT) rebateu afirmando que “não podemos admitir anistia quando houve uma tentativa de golpe em que foi planejada a morte do presidente eleito. Para ditadores e golpistas não pode haver anistia”.
Na sessão de hoje, a parlamentar Denise Almeida (PSD) fez um aparte exaltando as mulheres, lamentando a violência machista ainda presente na sociedade, criticando a ausência de divulgação do Disque 180, canal de denúncia telefônica para casos de violência contra a mulher. Denise também reivindicou que seja colocada uma luz rosa na fachada da Casa Bernardo Vieira ao longo do mês de março como forma de homenagear as mulheres.