Em cerimônia realizada na noite de segunda-feira (10), no Recife, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, confirmou sua saída do PSDB e assinou sua ficha de filiação ao PSD. A troca do ninho tucano pelo partido de Gilberto Kassab se dá após a governadora tentar, sem sucesso, levar o PSDB para a base de apoio do presidente Lula (PT). A aliança com o líder petista na eleição de 2026 também é disputada pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), principal adversário de Raquel na corrida pela reeleição.
Destacando que sempre encontrou as portas abertas e o melhor tratamento por parte do presidente da República, a governadora nunca escondeu seu desejo por integrar oficialmente a base de apoio do petista – que também é pernambucano, natural de Caetés. Mas o mandatário do novo partido dela, Kassab (PSD), em entrevista à FolhaPE, avisou que Lyra entra no partido “sabendo que teremos candidato próprio à Presidência da República”, sugerindo os “nomes excepcionais” dos governadores do Paraná, Ratinho Júnior; e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (por ora no Republicanos).
Kassab, no entanto, avisa que não vai se incomodar tanto caso Raquel escolha fazer campanha para Lula (PT) em vez de priorizar o nome do seu partido. “Se ela optar por uma outra candidatura isso não será problema, porque existem casos assim em outros estados”. O PSD tem três ministros no governo Lula: os senadores licenciados Carlos Fávaro (ministro da Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), além do ex-deputado pernambucano André de Paula (Pesca e Aquicultura).
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Ao discursar no evento, Raquel Lyra disse que “essa mudança [de partido] não se trata de uma aliança de ocasião, mas uma aliança de propósito”. E mandou um recado para João Campos (PSB). “A mudança chegou em Pernambuco e é para valer. Nós não estamos aqui esquentando cadeira para quem acha que é dono do poder”, disparou, garantindo que o seu projeto para o estado é “uma mudança verdadeira”.
Gilberto Kassab encheu a bola da nova aliada, afirmando que ela será reeleita e trará orgulho para Pernambuco. “E no dia seguinte o estado vai começar a sonhar com a hipótese de Raquel Lyra se tornar presidente da República”, se empolgou o dirigente partidário.
No evento, chamou atenção as presenças do deputado estadual João Paulo (PT) e do bolsonarista Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e adversário de Raquel em 2022, na disputa pelo governo. O palanque ainda contou com antipetistas como Mendonça Filho (União Brasil).
Os governadores Eduardo Leite (do Rio Grande do Sul) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) também podem fazer a migração do PSDB para o PSD, o que deixaria a sigla de Kassab com cinco gestores estaduais e os tucanos sem nenhum. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é outro que pode ter sua ficha abonada por Kassab até 2026. Além de Raquel Lyra, são filiados ao partido os governadores de Sergipe, Fábio Mitidieri, e o já citado Ratinho Jr. (Paraná).
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Nos últimos 10 anos, André de Paula foi o principal nome do PSD em Pernambuco, além de presidente estadual da sigla. Raquel Lyra agora ocupa ambos os postos. Há um ano, o ministro não economiza elogios a Lyra ao falar sobre tê-la no partido. A secretária de Cultura do governo estadual é Cacau de Paula, filha do ex-deputado.
Mas, em 2022, André de Paula priorizou a candidatura ao Senado na aliança com Marília Arraes (Solidariedade). Arraes foi derrotada por Lyra no 2º turno, enquanto a vaga no Senado ficou com Teresa Leitão (PT). Antes de ir para a disputa junto a Marília, André de Paula era aliado do PSB, mas não gostou de ser preterido na chapa para o Senado.
A nova família
Apesar de ser permitida a troca de partidos fora da janela partidária para os mandatos executivos, nenhum prefeito pernambucano migrou com Raquel Lyra, até momento. O partido tem 20 das 184 prefeituras em Pernambuco, sendo o 4º mais forte nesse quesito. No entanto, o PSD não possui deputados federais ou estaduais no estado. A sigla tem Davi Muniz e Júnior Bocão como vereadores do Recife. A candidatura de Daniel Coelho (PSD) à prefeitura do Recife ficou em 4º lugar, com 29,8 mil votos.
Há uma expectativa de que parte dos prefeitos que migraram para o PSDB pela aliança com Raquel Lyra repitam o movimento e migrem para o PSD. Os tucanos têm 32 prefeituras em Pernambuco (eram apenas cinco em 2020), número puxado para cima principalmente pelo apoio da governadora. Também podem fazer esse movimento alguns deputados estaduais, como Izaías Régis (PSDB), Débora Almeida (PSDB), Socorro Pimentel (União Brasil) e William Brígido (Republicanos).
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Mas, diferentemente do PSDB, que era pequeno em Pernambuco e decadente nacionalmente, o PSD só é pequeno no estado. O novo partido de Lyra foi o que mais elegeu prefeitos no Brasil em 2024, com 891 prefeituras. A sigla tem a 5ª maior bancada da Câmara Federal (com 42 cadeiras), empatado com o MDB e atrás do PP, União Brasil, PT e PL. Isso deve garantir para a governadora um bom tempo de Rádio e TV, além de recursos do fundo eleitoral. O PSB de João Campos, por exemplo, tem apenas 14 cadeiras.
O partido de Kassab também tem a maior bancada do Senado (com 15 cadeiras), com os nordestinos Eliziane Gama (do Maranhão), Otto Alencar (Bahia), Ângelo Coronel (Bahia), Zenaide Maia (Rio Grande do Norte), Daniella Ribeiro (Paraíba), Jussara Lima (Piauí), além de senadores de São Paulo, Acre, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, liderados por Omar Aziz (Amazonas).
E o PSDB?
Há poucos dias, a vice-governadora Priscila Krause deixou o Cidadania e se filiou ao PSDB, na tentativa de garantir que os tucanos sigam no palanque de Lyra em 2026. O presidente estadual da sigla é Fred Loyo, indicado por Lyra para o posto. Mas a questão não é tão simples.
O presidente da Assembleia Legislativa (Alepe), Álvaro Porto, apesar de filiado ao PSDB, vive em pé de guerra com a governadora desde 2023. Com a relação desgastada, Porto passou a fazer sinalizações de aproximação com o prefeito João Campos (PSB). O deputado também deseja o comando da sigla no estado.
Mas o novo controle do ninho tucano em Pernambuco será decidido nacionalmente. O PSDB deixou com o ex-presidente nacional da sigla, o pernambucano Bruno Araújo, a tarefa de avaliar o cenário local e apresentá-lo a Marconi Perillo e ao deputado Paulo Abi-Ackel, respectivamente presidente e secretário-geral da sigla.