As disputas político-religiosas entre neopentecostalismo, varejo de drogas ilícitas e religiosidades afro-brasileiras nas favelas do Rio de Janeiro é o tema do livro “A culpa é do diabo: O que li, vivi e senti nas encruzilhadas” da pesquisadora Carolina Rocha que será lançado nesta quarta-feira (12) no Quilombo Ferreira Diniz, localizado no bairro da Glória, na zona sul do Rio de Janeiro, às 19h. O evento conta com a participação da cantora Fabíola Machado e do grupo Maracatu Baque Mulher.
O livro é fruto de parte da tese de doutorado da autora, iniciada em 2015 e defendida em 2021, no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Rocha lançou seu primeiro título “O Sabá do Sertão: feiticeiras, demônios e jesuítas no Piauí Colonial” em 2015, pela Paco Editorial. Em sua nova obra, a autora entrelaça pesquisa acadêmica, experiência etnográfica e memória pessoal, revelando como o cotidiano de diferentes grupos, imersos nos conflitos violentos urbanos, é marcado pela disputa de significados e territórios.
Ao Brasil de Fato, a pesquisadora e candomblecista contou que a ideia de produzir o livro surgiu a partir de uma experiência pessoal ocorrida entre 2008 e 2009 durante uma festa de Ogum no terreiro em que frequenta. Homens armados abordaram a liderança religiosa do terreiro informando que não poderia mais ter “macumba” na favela. A situação acabou sendo resolvida, mas trouxe à tona o racismo religioso enfrentado por muitas religiões de matriz africana localizadas em periferias do Rio.
“Viver essa experiência de estar num lugar de resistência que é a favela e que é o terreiro com medo foi algo que me motivou politicamente, estrategicamente e academicamente, intelectualmente, a produzir uma tese de doutorado que trouxesse a complexidade das relações entre crime e religião e varejo de drogas ilícitas nas favelas do Rio de Janeiro. A partir do momento que vivenciei com o meu corpo e com a minha experiência essa situação, eu comecei também a conversar e me aproximar de outras pessoas de terreiro que passavam pela mesma violência. A partir daí eu pensei: espera aí, nós temos uma questão aqui, uma questão que é sociológica, que é política, que é de segurança pública, que também tem a ver com o direito e políticas públicas”, explica a autora.
Ao ouvir as histórias e memórias vividas nas periferias, ela desenha um cenário de violências e resistências, onde as tradições de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, são alvo de perseguições sistemáticas, enraizadas em um projeto colonial e racista que persiste até hoje. Ao longo de sua obra, Rocha não só denuncia a violência sofrida pelos povos de terreiro, mas também celebra a resistência e a força cultural dessas comunidades.
“O lugar da dor nos atravessa e isso constrói em mim uma sensibilidade para analisar o fenômeno e complexificar esse debate publicamente. É a encruzilhada. Eu falo no livro que coloquei o meu nome na ‘macumba’, uma expressão tão estereotipada por conta do racismo religioso, mas colocar o nome na ‘macumba’ significa que eu estive dentro e reconheço o meu lugar de quem vivenciou e teve uma percepção crítica, criativa, sensível e apurada sobre todas essas questões”, ressalta.
Serviço
“A Culpa é do Diabo – O que li, vivi e senti nas encruzilhadas do racismo religioso”
Data: 12/03/2025
Local: Quilombo Ferreira Diniz
Rua Cândido Mendes, 320 – Glória
Horário: 19h
Entrada: Gratuita